Relações "no mais baixo nível". NATO expulsa oito espiões russos 

"Atividades malignas russas", acusa o secretário-geral da NATO sem detalhar. Stoltenberg teve uma reunião tensa com o chefe da diplomacia russa no mês passado.
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É o mais recente capítulo numa relação cada vez mais encrespada entre a NATO e o Kremlin. A Aliança Atlântica vai expulsar oito diplomatas que eram membros da delegação russa em Bruxelas, suspeitos de trabalharem como "agentes não declarados dos serviços secretos russos". Moscovo não negou as acusações, tendo comentado que estes desenvolvimentos impedem "ilusões quanto à normalização das relações".

"A decisão é baseada nos serviços de informação, e nós não vamos comentar os serviços de informação", declarou a NATO, que recusou dar mais pormenores sobre o assunto. "Podemos confirmar que retirámos a acreditação de oito membros da missão russa junto da NATO, que eram agentes não declarados dos serviços secretos russos", lê-se na declaração. "A política da NATO em relação à Rússia continua a ser coerente. Reforçámos a nossa dissuasão e defesa em resposta às ações agressivas da Rússia, ao mesmo tempo que nos mantemos abertos a um diálogo construtivo."

DestaquedestaqueSergei Lavrov interrompeu Jens Stoltenberg e acusou a NATO de apoiar neonazis na Ucrânia e de abandonar o Afeganistão.

Os oito diplomatas têm até ao fim do mês para voltar à Rússia. Além da expulsão dos diplomatas, a NATO reduziu para metade a dimensão máxima da delegação russa, ou seja, passará a ter dez pessoas. Em 2018, o tamanho da delegação tinha sido reduzido de 30 para 20 na sequência do envenenamento do agente duplo Sergei Skripal em Inglaterra.

As más relações já vêm de muito antes. Vladimir Putin nunca escondeu o desagrado com os sucessivos alargamentos da aliança a leste e as guerras com a Geórgia, em 2008, e com a Ucrânia, em 2014, foram fatais para dois países que aspiravam a um lugar nas instituições ocidentais. Desta vez, segundo o secretário-geral da NATO, a decisão de expulsar os representantes russos não está "ligada a nenhum evento em particular", mas "a um aumento das atividades malignas russas, na Europa em particular. "E, por conseguinte, precisamos de agir", disse Jens Stoltenberg.

Todavia, segundo a Sky News, a decisão está relacionada com as conclusões de uma investigação sobre a explosão de um depósito de munições em 2014 que, segundo a República Checa, envolveu dois espiões russos que estarão implicados no envenenamento de Skripal. Esse incidente levou à expulsão mútua de dezenas de diplomatas da UE e da Rússia.

Na quinta-feira, Stoltenberg disse que as relações entre NATO e Rússia estão "no mais baixo nível desde o fim da Guerra Fria". A reunião à porta fechada entre o dirigente norueguês e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergei Lavrov, na Assembleia Geral das Nações Unidas, no mês passado, esteve longe de ser um sucesso.

Lavrov interrompeu Stoltenberg e acusou a NATO de apoiar neonazis na Ucrânia e de abandonar o Afeganistão. O chefe da diplomacia russa disse também que o Conselho NATO-Rússia é inútil, segundo conta o The Washington Post. Stoltenberg não se ficou e lembrou as medidas agressivas da Rússia na Ucrânia, o apoio à Bielorrússia e ações híbridas contra os aliados. E contrapôs que o Conselho NATO-Rússia é uma "importante plataforma de diálogo", pelo que reiterou uma proposta para realizar nova reunião.

Rússia abandona tratado

Em julho de 2007, a Rússia saiu do Tratado das Forças Armadas Convencionais na Europa, que limitava a presença de arsenais e tropas, perante a intenção de a NATO instalar mísseis antiaéreos no Leste Europeu. Os membros da aliança não tinham ratificado a reforma de 1999 do tratado assinado por Bush e Gorbachev em 1990 porque acusavam a Rússia de manter forças na Moldávia e na Geórgia.

Guerra na Geórgia

As regiões separatistas da Abecásia e da Ossétia do Sul, que já tinham o apoio de Moscovo, deixam de facto de pertencer à Geórgia, depois de uma guerra de cinco dias, em agosto de 2008. Nesse mesmo ano, o ministro da Defesa russo Sergei Ivanov havia declarado que Tiblíssi passaria a ser um adversário se entrasse na NATO.

Anexação da Crimeia

Em 2014, a revolta popular perante a recusa do presidente Viktor Ianukovich em assinar um tratado de comércio com a UE, levou a que este aliado do Kremlin fugisse. Em resposta, "pequenos homens verdes" entram no leste ucraniano e instauram repúblicas pró-russas, que se mantêm em guerra com Kiev. A península da Crimeia, onde a Rússia mantinha a estratégica base naval de Sebastopol, é anexada após um "referendo". Ainda em 2014, o voo MH17 é derrubado em espaço aéreo ucraniano por um míssil russo que causa a morte dos 298 passageiros.

Novichok para Skripal

Em 2018, o agente neurotóxico novichok, criado na URSS, é usado em Salisbury, Inglaterra, para envenenar o agente duplo Sergei Skripal, tendo atingido a filha. Ambos sobrevivem, mas uma mulher inglesa acaba por morrer ao tomar contacto com o veneno. Mais de cem diplomatas russos são expulsos de vários países, medida que foi replicada por Moscovo, e os EUA aplicaram sanções económicas.

Outro tratado morto

O Conselho do Atlântico Norte apoia a decisão dos EUA se retirarem do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio, em 2019, ao acusarem a Rússia de não respeitarem os termos do tratado com o novo míssil de cruzeiro 9M729.

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