Terminada a libertação dos 33 reféns previstos na primeira fase do cessar-fogo em troca de mais de dois mil presos palestinianos, Israel anunciou esta quinta-feira o envio de uma equipa de negociadores para o Cairo para “prosseguir as negociações” com o Hamas. A ideia não será negociar a segunda fase, na qual teria que declarar o fim da guerra e retirar da Faixa de Gaza, mas o alargar da primeira. Independentemente do diálogo, o grupo terrorista palestiniano fala numa “clara violação do cessar-fogo”, depois de Israel avisar que não vai retirar do corredor Filadélfia, na fronteira com o Egito, como previsto. “Não permitiremos que os terroristas do Hamas voltem a vaguear pela nossa fronteira com camiões e espingardas, nem os deixaremos reconstruir a sua força através do contrabando”, indicou uma fonte oficial aos media israelitas sobre a retirada do corredor de Filadélfia, que sempre foi um ponto de atrito no acordo. Mas este não é o único obstáculo às negociações. O ministro da Defesa israelita, Israel Katz, denunciou que o Hamas estaria a planear ataques contra militares e comunidades israelitas. Isto depois de terem vindo a público informações de que o grupo tinha transferido milhares de elementos do sul para o norte do enclave, onde estaria a reconstruir os túneis e o armamento. O Hamas negou as acusações, apelidando-as de “enganosas e infundadas” e alegando que estão a ser usadas por Israel para fugir aos compromissos. O cessar-fogo entrou em vigor a 19 de janeiro e, a primeira fase, devia terminar este sábado. Mas a segunda fase ainda não foi negociada, deixando a trégua em risco. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, está a ser pressionado pelas famílias dos 59 reféns (menos de metade estarão vivos) a negociar a sua libertação; e, ao mesmo tempo, pelos aliados da extrema-direita. que querem o retomar dos combates para garantir a derrota total do grupo terrorista palestiniano. “Renovamos o nosso compromisso total no acordo de cessar-fogo e confirmamos a nossa prontidão para entrar em negociações para a segunda fase do acordo”, disse o Hamas. “Israel não tem outra escolha senão iniciar as negociações”, acrescentou. A negociação da segunda fase já devia ter começado há mais de duas semanas, não tendo ainda tido início. Qatar e Egito atuam como mediadores, sem o apoio dos EUA - que tinham mediado na primeira fase. Netanyahu comprometeu-se esta quinta-feira a “trabalhar incansavelmente” para trazer de volta todos os reféns. “Até que todos os nossos filhos e filhas regressem a casa”, disse, após serem confirmadas as identidades dos quatro corpos devolvidos na noite de quarta-feira pelo Hamas - sem uma cerimónia pública de propaganda, como até agora. As autoridades israelitas dizem que Tsachi Idan, Itzik Elgarat e Ohad Yahalomi foram mortos em cativeiro, enquanto Shlomo Mantzur terá morrido logo no ataque de 7 de outubro de 2023. Em troca, Israel libertou mais de 600 presos palestinianos, cuja libertação estava prevista para o fim de semana passado, mas foi adiada por Netanyahu que exigiu o fim das cerimónias públicas de entrega dos reféns. Entretanto, já a pensar na ideia da “Riviera do Médio Oriente” planeada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para a Faixa de Gaza, Israel está a avançar no plano de saída voluntária dos palestinianos do enclave. Katz indicou que aqueles que querem sair vão poder usar o porto de Ashdod, cerca de 40 quilómetros a sul de Telavive, e o aeroporto de Ramon, 18 quilómetros a norte de Eilat.