“Rambos brasileiros” estão fugidos da polícia há mais de uma semana
O governo do Brasil autorizou o envio de um reforço de 100 agentes da Força Nacional para a região de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde dois fugitivos de uma prisão de segurança máxima continuam fugidos, supostamente no mato denso da região, qual “Rambos brasileiros”, desde a madrugada da quarta-feira, dia 14. Esses polícias vieram em auxílio dos cerca dos 300 agentes da Polícia Federal (PF), da Polícia Rodoviária Federal (PRF), das forças policiais civil e militar, a que já haviam juntado ainda 25 integrantes do Comando de Operações Táticas, unidade de elite da PF, e sete polícias do Grupo de Resposta Rápida da PRF, exaustos após infrutíferas buscas dia e noite.
Os quase 500 polícias, no total, contam com a ajuda de três helicópteros, drones e cães farejadores, mas ainda não conseguiram localizar Deibson Cabral Nascimento, também conhecido como "Tatu" ou "Deisinho", de 33 anos, nem Rogério da Silva Mendonça, conhecido como “Querubin”, de 35, os primeiros detidos numa das cinco prisões de segurança máxima do país a conseguem escapar na história. Os nomes e as fotos de Tatu e Querubin foram incluídos na lista de difusão vermelha (para criminosos procurados).
Os dois fugitivos, descritos como “de alta periculosidade” pelas autoridades brasileiras, fizeram uma família refém dentro de uma casa na zona rural de Mossoró, jantaram, levaram telemóveis, ovos e laranjas com eles, e, segundo o casal feito refém, vibraram ao ver que eram abertura do Jornal Nacional, o principal noticiário da TV Globo. Mas desanimaram-se quando souberam que estavam a apenas três quilómetros de distância da prisão, o que os levou a concluir que andaram em círculos.
Antes, Tatu e Querubin haviam sido vistos a correr por moradores, que se fecham a sete chaves nas suas casas. A polícia também encontrou vestígios de pegadas, roupas de presidiário, toalhas e um lençol espalhados pela mesma região. Foi relatado que a dupla invadiu uma casa rural vazia, de onde furtou comida e roupas.
Nas últimas horas, a polícia fechou o cerco a uma região perto de Baraúna, cidade já próxima da fronteira com o estado do Ceará, onde acredita que possam estar localizados os fugitivos.
A região em causa tem muitas grutas e cavernas, o que pode ajudar os fugitivos, mas também cobras venenosas e outros animais, que podem atrapalhar a fuga.
Em conferência de imprensa ainda na quinta-feira (15), o ministro da Justiça e Segurança Pública, o recém nomeado Ricardo Lewandowski, disse que as autoridades acreditam que eles permaneçam próximos à prisão após a fuga, num perímetro de até 15 km até o centro da cidade de Mossoró. “É um local de matas, uma zona rural, e nós imaginamos que eles estejam ainda naquela região, porque pelas vídeo câmeras nós não identificamos nenhum veículo que os tenha buscado quando transpuseram as grades do presídio”.
Lewandowski atribuiu a fuga inédita de uma prisão federal “a uma sucessão de coincidências negativas”, entre as quais ser madrugada de terça para quarta-feira de carnaval, o que pode ter relaxado a vigilância, e de o estabelecimento estar em obras.
Os prisioneiros terão escapado, por volta das 03h30 da madrugada de quarta-feira pelo teto de cada uma das suas celas individuais, na zona onde estão os candeeiros, passado por uma região onde se encontravam ferramentas usadas naquelas obras, como alicates, e graças a eles furado tapumes e arame farpado até ao exterior do edifício. Só às 05h00 os guardas deram pela falta da dupla.
Para retirar esses candeeiros usaram cabos de ferro situados debaixo das mesas das respetivas celas e com eles foram alargando o buraco até conseguirem sair. Usaram ainda, segundo a perícia, sabão para ser mais fácil escorregar e escapar.
Como os presos mais perigosos daquela ala estão impedidos de se comunicarem e como o processo para arrancar os candeeiros e abrir o buraco faria naturalmente ruído forte, há suspeita de que funcionários da cadeia possam ter contribuído para a fuga.
O então diretor da Penitenciária Federal de Mossoró foi afastado e um interventor foi nomeado para comandar a unidade. O ministro da Justiça determinou a revisão de todos os equipamentos e protocolos de segurança e suspendeu o banho de sol e as visitas sociais nas cinco penitenciárias federais do país.
A Corregedoria do Sistema Prisional afastou os responsáveis pelas áreas de segurança, inteligência e administração da prisão de Mossoró até à conclusão das investigações.
A PF abriu uma investigação da PF irá apurar eventuais responsabilidades de natureza criminal de pessoas que podem ter facilitado a fuga dos presos, que são ligados à organização criminosa Comando Vermelho.
Outra investigação, que ocorre de forma paralela, para apurar as responsabilidades da fuga podem levar a um processo administrativo.
Lewandowski anunciou que o governo de Lula da Silva vai agora investir na melhoria do sistema de vigilância por vídeo e na construção de muralhas em redor das cinco prisões federais, como a de Mossoró.
"Tatu", de 33 anos, é natural de Rio Branco, capital do estado Acre, e está ligado a mais de 30 processos por crimes como organização criminosa, tráfico de drogas e roubo.
No total, tem 81 anos de prisão em condenações. De acordo com o promotor Bernardo Albano, este fugitivo é um dos fundadores do Comando Vermelho (CV), segunda maior organização criminosa do Brasil, no Acre, no final de 2013.
Autor de uma fuga espetacular ainda no Acre, “Tatu” foi condenado, entre outros crimes, por tentativa de roubo seguida de morte em Brasiléia, no interior daquele estado, em agosto de 2015. A vítima reagiu ao assalto, foi atingida a tiros na região da cintura e morreu ao chegar ao hospital da cidade.
No mesmo mês, ele foi apontado como principal suspeito pelo sequestro de uma família no município de Filadélfia, na Bolívia. Na ocasião, exigiu 50 mil dólares pela libertação.
“Querubin” cumpre 74 anos acumulados de prisão por crimes como homicídio e roubo. Ele é natural de Sena Madureira, no interior do Acre, e também faz parte do CV.
Entre as penas, foi condenado a mais de 32 anos por, de dentro de uma prisão, mandar matar um adolescente, Taylon Silva dos Santos, de 16 anos, membro do CV, por este ter feito um comentário que desagradou um superior.
“Foi por um motivo fútil. O menor fez um comentário que não agradou um deles, que estava preso, chamou ele de alguma coisa. Teve uma espécie de julgamento sumário e deram um tiro na cabeça dele", disse na época o então delegado do caso, Marcos Frank, citado pelo portal G1.
“Querubin” esteve em todas as prisões do Acre, registou mau comportamento em todas e de todas tentou fugir, segundo o seu cadastro prisional.
"Tatu" e "Querubin" foram transferidos para Mossoró em setembro do ano passado após se envolverem numa rebelião noutra prisão, a Antônio Amaro, em Rio Branco, que resultou na morte de cinco detentos, três deles decapitados.
O líder histórico do CV, Luiz Fernando da Costa, conhecido como Fernandinho Beira-Mar, também está preso em Mossoró, condenado a mais de 309 anos de prisão.
Marcos Camacho, o Marcola, chefe do Primeiro Comando da Capital, maior organização criminosa do Brasil, está noutra prisão federal, a de Brasília, a cumprir pena de 342 anos.
Além de Mossoró e Brasília, há prisões de segurança máxima em Catanduvas, no Paraná, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e em Porto Velho, em Rondônia.