Depois do perdão “incondicional” ao filho Hunter e do corte recorde das penas a mais de 1500 presos num só dia, o presidente norte-americano, Joe Biden, virou-se para o corredor da morte. E dos 40 condenados que aguardam a execução em prisões federais, comutou as penas a 37 deles - todos assassinos - que agora vão cumprir perpétua sem hipótese de liberdade condicional. Mas quem são os três que não foram poupados?.“Condeno estes assassinos, lamento as vítimas dos seus atos desprezíveis e sofro por todas as famílias que sofreram perdas inimagináveis e irreparáveis”, disse Biden, em relação aos que beneficiam desta medida. Mas, acrescentou, “estou mais convencido do que nunca de que devemos acabar com a aplicação da pena de morte a nível federal”. E concluiu, num recado ao sucessor Donald Trump: “Em consciência, não posso recuar e permitir que uma nova Administração retome as execuções que interrompi.”.A pena de morte ainda existe a nível federal nos EUA, tal como em 27 estados (apesar de só 14 terem executado presos na última década). Os condenados a nível federal representam apenas uma ínfima parte dos quase 2200 condenados a nível estadual. Na campanha para as presidenciais de 2020, Biden tinha prometido acabar com a pena de morte (a nível federal, porque não tem autoridade para travar as outras) e fazer campanha para que o mesmo acontecesse a nível estadual. .Mas o democrata não conseguiu avançar nesse plano. Em vez disso a sua Administração aprovou uma moratória para as execuções, de forma a rever os protocolos, o que na prática suspendeu a aplicação da pena. Algo que Trump podia reverter. No seu anterior mandato, o republicano retomou as execuções a nível federal que estavam suspensas há duas décadas (desde George W. Bush). Houve 13 execuções no total, sendo que seis delas aconteceram já após ter perdido a reeleição em novembro de 2020. Trump tem defendido alargar a pena de morte para incluir traficantes de droga e de pessoas..Três exceções.A decisão de Biden beneficia 37 dos 40 presos nos corredores da morte das prisões federais - incluindo assassinos de crianças e de polícias. Dos 37, 15 são negros, seis são latinos e um é asiático. Os três que não são beneficiados foram condenados por terrorismo ou por assassinatos ligados a crimes de ódio. As três exceções são Robert D. Bowers, Dylann Roof e Dzhokhar Tsarnaev. .Bowers, de 52 anos, foi condenado na Pensilvânia pela morte a tiro de 11 fiéis na sinagoga Árvore da Vida, em Pittsburgh. O massacre, a 27 de outubro de 2018, é considerado o ataque antissemita mais grave na história dos EUA. Foi a única pena de morte decretada num tribunal federal durante o mandato de Biden..Roof , um supremacista branco de 30 anos, foi condenado em 2017 na Carolina do Sul , depois de ter matado a tiro nove paroquianos afro-americanos da Igreja Episcopal Metodista Africana Emanuel, em Charleston. Os crimes foram cometidos a 17 de junho de 2015, tendo Roof não só revelado os planos num manifesto racista como confessado aos investigadores..O terceiro condenado que fica no corredor da morte é Tsarnaev, um dos autores dos atentados à bomba na Maratona de Boston, em 2013. Três pessoas morreram e mais de 250 ficaram feridas nesse ataque. O norte-americano de origem chechena, atualmente com 31 anos, foi apanhado após uma caça ao homem, na qual o seu irmão mais velho e coautor dos crimes, Tamerlan Tsarnaev, foi morto. Foi condenado em 2015, em Massachusetts..A decisão de Biden, que é católico, surge depois de um telefonem do Papa Francisco, que tinha rezado este mês para que os presos que enfrentavam a pena de morte nos EUA pudessem ver as penas comutadas. O presidente norte-americano tem prevista uma última viagem ao estrangeiro antes de deixar a Casa Branca, visitando Roma e encontrando-se nomeadamente com o Papa..E Biden pode não ficar por aqui, com a Casa Branca a dizer que vai continuar a rever perdões e reduções de penas. Mas ainda não disse uma palavra sobre a possibilidade de perdoar de forma prévia uma série de pessoas que podem vir a tornar-se num alvo de Trump. A ideia seria usar os perdões para proteger aliados e funcionários do potencial desejo de vingança do republicano..susana.f.salvador@dn.pt