Quem são os mercenários russos que querem assassinar Zelensky?

Presidente ucraniano já terá escapado a três tentativas de homicídio desde a invasão russa. A missão está entregue a forças especiais chechenas e a um grupo de mercenários russos que é conhecido como o exército privado de Putin
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A 31 de janeiro deste ano, uma notícia no Daily Beast deixava antever o que estava iminente: dezenas de mercenários russos estavam a deixar a República Centro-Africana rumo às fronteiras da Ucrânia. A invasão russa, alertava-se então e sabe-se agora da pior forma, estava em preparação há muito. O "recrutamento ativo de mercenários", enviados para as regiões controladas pelos separatistas pró-russos e para a Bielorrússia, era uma parte do plano. Conhecidos como o Wagner Group, estes paramilitares são conhecidos como o exército privado de Putin e, segundo as notícias dos últimos dias, terão sido enviados para a Ucrânia com uma missão bem definida: eliminar Volodymyr Zelensky e um grupo de altas personalidades do poder em Kiev.

Os planos foram denunciados pelo jornal britânico The Times, que revelou que cerca de 400 mercenários russos estariam na capital da Ucrânia, Kiev, ou nas imediações, com a missão de acabar com a vida do presidente Zelensky. Aliás, desde que as tropas russas entraram pelas fronteiras ucranianas, o líder ucraniano já terá sido alvo de três tentativas de assasinato, de acordo com o jornal britânico - além do Wagner Group, também tropas especiais chechenas estarão no país com o mesmo desidério. Tentativas falhadas que já terão feito baixas entre os mercenários Wagner em Kiev.

O Wagner Group é uma espécie de milícia privada alegadamente fundada por Dmitry Utkin, antigo membro das Forças Especiais russas e antigo chefe de segurança de Yevgeny Prigozhin, um oligarca russo com laços estreitos ao Kremlin. É, por isso, conhecido como o exército privado de Putin. Um ramo independente do Estado, sem existência legal, uma vez que as empresas militares privadas são proibidas na Rússia.

Yevgeny Prigozhin, um dos alvos de sanções impostas a oligarcas russos na sequência da invasão da Ucrânia, tornou-se famoso como dono de um restaurante frequentado pelo presidente russo, tendo mesmo ganhado a alcunha de "chef de Putin". Prigozhin é apontado, pelo Ocidente, como um dos principais financiadores do Grupo Wagner, que recrutou muitos membros da agência de inteligência militar russa conhecida como GRU.

O grupo é acusado por países ocidentais, dos EUA ao Reino Unido e União Europeia, de realizar operações clandestinas ao serviço de Moscovo em países em conflito, sejam a Ucrânia, a Síria ou nações africanas, como a República Centro-Africana, o Sudão, o Mali e Moçambique, onde os mercenários russos foram combater os jihadistas islâmicos que puseram em xeque alguns importantes projetos de gás em Cabo Delgado.

Essas milícias de paramilitares tornaram-se uma ferramenta de Putin para expandir a influência geoestratégica russa e monitorizar lugares-chave no globo. Segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), a presença de mercenários russos estender-se-á por cerca de 30 países em quatro continentes, sempre sobo comando de oligarcas próximos do Kremlin.

A presença destes agentes já se tinha feito notar no apoio aos separatistas pró-russos na Crimeia, em 2014, e foram também detetadas no conflito sírio, desde 2015, onde as forças russas apoiam o regime de Bashar Al-Assad. Desempenham mesmo um papel relevante nas operações militares de Moscovo na Síria, como na reconquista da cidade de Palmira. Em 2017, os seus elementos terão estado por trás da mutilação e decapitação de um desertor do exército sírio.

"Eles são muito eficazes porque são difíceis de identificar", disse ao The Times o general Sir Richard Barrons, ex-comandante britânico do Comando das Forças Conjuntas.

Segundo um relatório divulgado pelo The Times, estes mercenários são treinados para as suas missões no exterior em acampamentos próximos da base dos Serviços de Inteligência russo (GRU) em Molkino, na região de Krasnodar.

O Wagner Group teria ainda vínculos com empresas especializadas em energia, minas ou logística, as quais ajudaria na "expansão da influência comercial e económica em países em desenvolvimento" garantindo novas fontes de receita para os empresários russos e "reduzindo o impacto de sanções internacionais impostas".

Entre as atividades do grupo no exterior estão também o treino em tarefas de combate e apetrechamento das forças de segurança ou milícias locais, conforme o lado a apoiar. Também prestam proteção a dirigentes ou autoridades locais.

Atividades de recrutamento, vigilância e ações de guerra política, como sabotagem e outras missões secretas, também fazem parte da esfera de ação deste "exército privado" de Putin, que também exerce um papel ativo em campanhas de desinformação e propaganda. Exemplo disso é a Agência de Pesquisa na Internet, conhecida como "fábrica de trolls", instalada em São Petersburgo e propriedade de... Yevgeny Prigozhin, o homem apontado como financiado principal do Wagner Group.

Agora, na Ucrânia, os planos para acabar com Zelensky de forma a abrir caminho à instalação de um governo pró-russo não são propriamente uma surpresa. Já a 24 de janeiro, o governo britânico denunciou que o Kremlin estava a desenvolver planos nesse sentido, de acordo com relatórios dos seus serviços de inteligência. Como lembra o jornal espanhol El Confidencial, no seio da aliança de espionagem Five Eyes (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia), Londres tem como tarefa principal a interceptação de comunicações russas e já desempenhou um papel na divulgação das tentativas russas de interferir com as eleições dos EUA em 2016.

Num outro relatório de janeiro, os EUA apontaram Viktor Medvedchuk, um dos aliados pessoais de Putin, e Oleg Tsaryov como possíveis candidatos a encabeçar um governo fantoche pró-Rússia em Kiev. Medvedchuk, líder do partido de oposição Pela Vida, tinha sido colocado em prisão domiciliária pelo regime de Zelensky e fugiu ao terceiro dia da invasão russa, segundo o Ministério do Interior ucraniano. Tsaryov, do Partido das Regiões, é procurado pela polícia ucraniana desde 2014 por "promover o separatismo e a violência".

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