Quem são os cinco milionários que já renunciaram à cidadania russa?

Oleg Tinkov foi o último a virar as costas à Rússia, mas não o único. Justifica a decisão com a invasão da Ucrânia, deixando críticas a Putin, mas tem sofrido com as sanções ocidentais.
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"Não posso nem serei associado com um país fascista que começou uma guerra com o vizinho pacífico." Foi desta forma que Oleg Tinkov, fundador e até 2020 diretor executivo do Banco Tinkoff, anunciou no Instagram a renuncia à nacionalidade russa. Foi o último, mas não o único milionário, a fazê-lo - desde o início da guerra na Ucrânia, pelo menos outros quatro já tomaram a mesma decisão. E apela a que mais empresários russos seguiam o exemplo para "enfraquecer" o regime do presidente Vladimir Putin e a sua economia "e levá-lo eventualmente à derrota".

A mensagem inicial de Tinkov na rede social, que mostrava um certificado a comprovar a renúncia à cidadania, desapareceu, com o próprio a culpar os "trolls russos" e a voltar a publicar o texto - mas com a fotografia de um cão.

Na segunda mensagem, indicou ainda que vai empreender ações legais para remover o nome do banco online, "odiando" ser associado com quem "colabora com assassinos e sangue". O Tinkoff Bank, com 20 milhões de clientes, é um dos principais credores da Rússia, atrás do gigantes estatais Sberbank e VTB.

Há um ano, a Bloomberg estimava a riqueza de Tinkov em 8,2 mil milhões de dólares, mas agora a lista da Forbes diz que vale apenas 600 milhões. Pouco depois da invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro, o empresário que vive no Reino Unido entrou na lista de sanções britânicas. Em 2020 foi detido em Londres, acusado de fraude fiscal nos EUA, mas acabou libertado sob fiança, tendo recebido tratamento para uma leucemia.

O empresário de 54 anos já tinha criticado em abril a invasão da Ucrânia, tendo na altura alegado ter sido forçado pelo Kremlin a vender a participação (35%) que ainda detinha na empresa dona do banco - a TCS Group Holding, com sede no Chipre. Tinkov fica precisamente com a cidadania cipriota.

Tinkov segue o exemplo de pelo menos outros quatro milionários que viraram as costas à Rússia devido à invasão da Ucrânia. Nik Storonsky, fundador e diretor executivo do Revolut (outro banco online), tinha dupla nacionalidade russa e britânica, tendo abdicado da primeira "no início do ano", segundo a empresa. Esta lembrou que a posição do milionário (fortuna de 7,1 mil milhões de dólares, na lista da Forbes) sobre a guerra é conhecida: considera-a "abominável". Storonsky, de 38 anos, nasceu na realidade na Ucrânia, tendo passado parte da infância na Rússia. O seu pai, Nikolay Storonsky, é diretor-geral da Gazprom Promgaz (ligado à estatal russa de energia) e entrou no mês passado na lista das sanções do governo ucraniano.

Em junho, tinha sido o fundador da empresa de investimento Freedom Finance, Timur Turlov, a renunciar ao passaporte da Rússia e de São Cristóvão e Névis, tornando-se cidadão do Cazaquistão - onde vive com a família há mais de dez anos. A lei neste país proíbe ter mais do que uma nacionalidade, tendo o processo começado supostamente há cinco anos. A sua fortuna, segundo a Forbes, é de 2,3 mil milhões de dólares.

Em setembro, o milionário (1,3 mil milhões de dólares) Ruben Vardanyan, de ascendência arménia, renunciou também à cidadania russa e mudou-se para a região separatista do Nagorno-Karabakh (oficialmente parte do Azerbaijão). O antigo diretor executivo do banco de investimento Troika Dialog (que se tornou subsidiária do Sberbank),de 54 anos, negou que a decisão de renunciar à cidadania tenha sido para evitar entrar na lista de sanções ocidentais. Quis, com a sua mudança, mostrar o seu apoio à região separatista depois da guerra de 2020 que viu o Azerbaijão recuperar parte do controlo do território. Foi nomeado ministro de Estado, equivalente a chefe de governo, com "poderes alargados".

Quem também renunciou à cidadania russa foi Yuri Milner, que a Forbes diz valer 7,3 mil milhões de dólares. É cidadão israelita desde 1999, vivendo nos EUA - era conhecido como o russo mais rico de Silicon Valley. Fundador da empresa de investimento DST Global, fez fortuna a apostar em empresas de tecnologia como o Facebook, o Twitter ou a chinesa Alibaba. Tinha deixado a Rússia com a família já em 2014, após a invasão da Crimeia. "Este verão, completamos oficialmente o processo de renunciar à cidadania russa", afirmou no início de outubro.

susana.f.salvador@dn.pt

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