Quem é Jordan Bardella: o herdeiro de Le Pen com apenas 27 anos

Filho de uma imigrante italiana e mãe solteira, cresceu numa das zonas mais violentas de Paris e filiou-se no partido de Le Pen com apenas 16 anos.

Aos 27 anos, Jordan Bardella viu o seu estatuto de estrela em ascensão da extrema-direita confirmado neste sábado, depois de eleito por membros do seu partido para suceder à líder veterana Marine Le Pen como presidente do Reagrupamento Nacional.

O político nascido em Paris era o favorito para assumir o partido depois de Le Pen ter decidido afastar-se do cargo após 11 anos no comando. Anteriormente conhecido como Frente Nacional, o partido já tinha sido dirigido pelo pai de Le Pen, Jean-Marie, ao longo de 40 anos.

Bardella é agora o primeiro líder do partido fora da dinastia familiar em meio século. "O facto de o presidente do partido não ter o nome de Le Pen é o sinal de abertura e confiança que Marine tem na nova geração", disse Bardella à AFP durante uma recente viagem ao leste da França.

Não que o ultraleal protegido de Le Pen, eleito para o Parlamento Europeu em 2019, esteja a planear ofuscá-la. "Sou um candidato de continuidade, com o objetivo de continuar a construir o incrível legado que Marine está a entregar", acrescentou.

Bardella espera que Le Pen assuma uma quarta corrida à presidência em 2027, depois do seu recorde de votação de 41,5 por cento na segunda volta das eleições de abril contra o presidente Emmanuel Macron.

Le Pen liderou depois a campanha eleitoral parlamentar do partido em junho, que viu o RN conquistar 89 lugares, um aumento de 10 vezes, tornando-o o maior partido da oposição na Assembleia Nacional.

A infância com a mãe solteira num bairro violento de Paris

O único opositor de Bardella era Louis Aliot, prefeito da cidade de Perpignan, no sudoeste, que não conseguiu rivalizar com o perfil popular de Bardella, apesar de ser membro do partido há mais de 30 anos.

A sobrinha de Le Pen, Marion Marechal, de 32 anos, há muito vista como a eventual sucessora da família, está fora de cena, tendo deixado o partido antes da última eleição presidencial para apoiar o candidato rival de extrema-direita Eric Zemmour.

Bardella era já presidente interino desde setembro de 2021, quando Le Pen deixou o cargo durante a campanha presidencial. "Ele tem todas as qualidades e é respeitado por todos", disse o parlamentar de extrema-direita Laurent Jacobelli à AFP, durante uma paragem da campanha em meados de outubro em Hayange, na região de Mosela.

"E ele sabe como fazer com que pessoas diferentes trabalhem juntas, por isso, porque mudaríamos"?"

Nesse evento, Bardella falou com confiança em palco, sem anotações, ao longo de 40 minutos, compartilhando detalhes sobre a sua infância no oitavo andar de um bloco social de habitação na zona de Seine-Saint-Denis, a nordeste de Paris, conhecida pela criminalidade violento.

Na altura, o novo líder da extrema-direita francesa morava com a mãe, uma imigrante italiana e mãe solteira. "Todos os dias, da minha janela e quando entrava no prédio, via que havia traficantes à entrada a assegurarem-se de que não havia polícia", disse.

Do outro lado da rua, havia também uma escola islâmica, partilhou com a audiência. "Eu costumava ver grupos de meninas de cinco, seis ou sete anos a sair com véus sobre a cabeça", acrescentou.

Alguns episódios de assédio pessoal e tumultos em 2005, liderados principalmente por jovens negros e norte-africanos contra a violência policial, levaram-nos a decidir juntar-se ao partido de Le Pen com apenas 16 anos, revelou. "Eu envolvi-me na política muito cedo porque não queria que toda a França se parecesse com o que eu vivi", apregoou à multidão.

A imagem moderna da extrema-direita

Bardella gosta de enfatizar que é de uma nova geração de nacionalistas com pouco em comum com a violência racista e antissemita associada a Jean-Marie Le Pen e à Frente Nacional.

Marine Le Pen fez um grande esforço para tentar distanciar-se desse legado tóxico, embora os críticos digam que o racismo continua abundante nas bases do partido e acusem Le Pen de simplesmente embrulhar ideias antigas numa nova linguagem.

Bardella é a imagem desse partido moderno, limpo e controlado que ela agora promove: de imagem ostensivamente cuidada, sempre vestido com camisas imaculadas, sapatos engraxados e cabelos curtos.

"Sem Jean-Marie Le Pen, a Frente Nacional não existiria, mas sem Marine o partido não teria chegado até aqui", disse Bardella à AFP. "Ela transformou uma cultura de protesto numa cultura de governo."

Montra para a ascensão

Opositores de dentro do partido, incluindo Aliot, expressaram desconforto com uma suposta prontidão do novo líder para abraçar ideias defendidas pelo rival de extrema-direita de Le Pen, Eric Zemmour.

No ano passado, Bardella esteve perto de abraçar o mantra de Zemmour da "Grande Substituição", uma teoria da conspiração que sugere que os europeus brancos estão a ser deliberadamente substituídos por imigrantes.

O jovem dirigente também recuou à última hora de um plano para participar de uma manifestação organizada pelo partido de Zemmour depois do assassinato de uma criança de 12 anos por uma mulher argelina que enfrentava a expulsão, num episódio que chocou a França.

Também há dúvidas sobre o impacto que a presidência de Bardella tem efetivamente no partido, já que Le Pen lidera formalmente o seu grupo no parlamento e é amplamente esperada como candidata presidencial em 2027.

Mas muitos esperam que a liderança do partido seja um trampolim para o futuro político de Bardella. "Não sei se podemos dizer isso, e não quero bajulá-lo, mas acredito sinceramente que a Jordan será presidente [francês] um dia", disse o deputado Laurent Jacobelli.

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