Putin quer cessar-fogo após ataque estancado em Kharkiv
Quatro fontes russas asseguraram à agência Reuters que Vladimir Putin está pronto para avançar com um cessar-fogo negociado na ressalva de que reconheça as atuais linhas do campo de batalha, embora não reconheça legitimidade ao presidente ucraniano. Uma tomada de posição de pronto criticada pelo chefe da diplomacia ucraniana, num momento em que a ofensiva terrestre russa terá sido detida e as forças de Kiev estarão a tentar recuperar terreno.
Segundo a Reuters, o líder russo terá expressado frustração a um grupo de conselheiros sobre a decisão do presidente ucraniano de descartar o processo negocial, no que vê como influência do Ocidente para impedir o diálogo. De visita à Bielorrússia, ao ser questionado sobre a notícia, Putin disse, em referência às negociações: “Que sejam retomadas.” Acrescentou que as mesmas devem basear-se nas “realidades no terreno” e num plano discutido nas negociações que decorreram nos primeiros dias após a invasão, e “não com base no que um dos lados quer”.
Além disso, levantou a questão da legitimidade do presidente ucraniano. “Com quem negociar? Esta não é uma questão trivial. A Rússia está consciente de que a legitimidade do atual chefe de Estado expirou”, referindo-se ao facto de não terem sido realizadas eleições na Ucrânia devido à guerra por si instaurada. “Um dos objetivos da conferência que foi anunciada na Suíça é que a comunidade ocidental, os patrocinadores do atual regime de Kiev, confirmem a legitimidade do atual ou já não atual chefe de Estado”, considerou. O regime russo, por sua vez, tem um histórico de eleições ilegais nos territórios anexados da Ucrânia -- já para não mencionar as eleições presidenciais russas, condenadas pelo Parlamento Europeu por não terem sido “nem livres nem justas”.
“Porque é que as ‘fontes’ russas estão subitamente a dizer aos meios de comunicação social que Putin está disposto a parar a guerra nas atuais linhas de batalha?”, perguntou o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, na sua conta do X. A resposta foi dada pelo próprio: para Dmytro Kuleba, Putin “está a tentar desesperadamente fazer descarrilar a cimeira da paz na Suíça, a 15 e 16 de junho”, a iniciativa ucraniana e suíça, para a qual foram convidados 160 países - Rússia excluída -, tendo mais de 70 respondido de forma positiva.
O primeiro-ministro português Luís Montenegro, que já havia confirmado a presença de Portugal a Volodymyr Zelensky, na sexta-feira, ao lado do chanceler Olaf Scholz, não só disse que o país estará “representado ao mais alto nível” como se comprometeu em fazer “todos os esforços para convencer aqueles que, nesta fase, podem não ter muita esperança, que ainda estão hesitantes, a participar”.
Zelensky deslocou-se a Kharkiv, onde visitou uma gráfica destruída por um míssil russo, ataque do qual resultaram sete mortos e 21 feridos, e também se reuniu com as chefias militares para ser informado sobre a ofensiva do invasor. Ao que diz Kiev, “as tropas russas foram travada no setor de Kharkiv”, estando a situação “sob controlo”, e com uma “contraofensiva em curso”. O comandante das forças armadas Oleksandr Syrsky disse que “o inimigo ficou completamente atolado nas batalhas nas ruas por Vovchansk e sofreu perdas muito elevadas nas unidades de assalto”, embora na frente leste tenha caracterizado o momento de “turbulento”.
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