Como esperado, Vladimir Putin vai seguir o próximo passo da cartilha usada na Crimeia e, somente três dias após o anúncio dos resultados dos "referendos" em regiões da Ucrânia, vai anunciar a anexação de Lugansk e Donetsk (territórios "independentes" na perspetiva do Kremlin) e ainda de Kherson e Zaporíjia. A jogada do líder russo está a ser condenada de antemão pela generalidade dos governos ocidentais e pelo secretário-geral das Nações Unidas..Na semana passada, ao discursar na assembleia geral das Nações Unidas, enquanto dizia que a Moscovo não restava outra hipótese que não a de lançar a "operação militar especial", o chefe da diplomacia russo Sergei Lavrov denunciava a "histeria" ocidental em relação aos chamados "referendos", mas mostrou algumas dificuldades em mostrar conhecimento das regiões que diz querer libertar, uma vez que só conseguiu acertar no nome de Donetsk..Esta sexta-feira, Vladimir Putin leva o discurso do seu regime para outro patamar, ao anunciar a anexação dos territórios que representam cerca de um quinto da área da Ucrânia. Numa cerimónia a decorrer no palácio do Kremlin para emprestar um tom solene e oficial, e com a presença dos dirigentes destacados por Moscovo naquelas regiões, o líder russo, prestes a completar 70 anos, irá proclamar a incorporação dos territórios na Federação Russa..Destaquedestaque"O que está a acontecer agora entre a Rússia e a Ucrânia (...) evidentemente, é o resultado do colapso da União Soviética", disse Putin..Recorde-se que, ao anunciar a mobilização militar para defender "a ameaça à integridade territorial", Vladimir Putin disse que iria "recorrer a todos os meios" à disposição, uma ameaça velada ao uso de armas nucleares. E descodificada uma e outra vez pelo ex-presidente Dmitri Medvedev, que de forma recorrente brande com a ameaça atómica..Ontem, Putin voltou a mostrar a sua fixação na União Soviética e que o seu fim explica os males atuais. Ao falar perante chefes dos serviços secretos de países da ex-URSS, afirmou: "Basta olhar para o que está a acontecer agora entre a Rússia e a Ucrânia, e para o que está a acontecer nas fronteiras de alguns outros países da Comunidade de Estados Independentes. Tudo isto, evidentemente, é o resultado do colapso da União Soviética". O presidente russo aludia aos confrontos entre tajiques e quirguizes e entre azerbaijanos e arménios nas últimas semanas. E a responsabilidade é do Ocidente, que está "a trabalhar em cenários para alimentar novos conflitos" no espaço pós-soviético..Enquanto milhares de russos continuam a tentar sair do país para fugir à mobilização, não se ouviu uma declaração internacional de apoio à farsa eleitoral promovida por Moscovo. Para o secretário-geral da ONU António Guterres, o anúncio de Putin "não tem qualquer valor legal e é condenável", "desrespeita os propósitos e princípios das Nações Unidas" e "não tem lugar no mundo moderno"..A Ucrânia, cujo presidente convocou uma reunião urgente do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, mostrou-se inamovível, pela voz do conselheiro Mikhailo Podolyak. "Vamos libertar o nosso território por meios militares. As nossas ações dependem não tanto do que a Federação Russa pensa ou quer, mas das capacidades militares que a Ucrânia tem", disse em entrevista à AP..cesar.avo@dn.pt