Putin diz que envio de tropas russas para o Donbass depende da "situação no terreno"
A câmara alta do Parlamento russo aprovou, esta terça-feira, o pedido do presidente Vladimir Putin para envio de militares russos para o estrangeiro, após o chefe de Estado se ter comprometido com assistência militar aos separatistas pró-russos na Ucrânia. Após a luz verde do senado, Putin disse que o envio de tropas russas para a região do Donbass dependerá da situação no terreno, onde os confrontos "continuam" e tendem a agravar-se.
Após um debate de urgência, a câmara alta do Parlamento russo aprovou este pedido por unanimidade dos 153 membros.
Vladimir Putin tinha pedido autorização para usar forças militares fora do país, uma medida que torna formal um destacamento militar russo para apoiar os separatistas que lutam contra o exército ucraniano desde 2014 na região de Donbass, no leste da Ucrânia. Um desenvolvimento que pode pode permitir um ataque mais amplo à Ucrânia.
O vice-ministro da Defesa russo, Nikolai Pankov, leu o pedido de Putin antes da sessão extraordinária da câmara alta do parlamento, argumentando que foi destacado para "as fronteiras das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, um exército (ucraniano) de 60 000 homens e blindados pesados".
"As negociações pararam. A liderança ucraniana escolheu o caminho da violência e do derramamento de sangue", disse o vice-ministro da Defesa, Nikolay Pankov no Conselho da Federação, convocado a pedido de Putin. "Não nos deram escolha", disse Pankov, dirigindo-se à câmara alta do parlamento.
O vice-ministro da Defesa alegou a existência de "veículos blindados pesados" na fronteira das regiões controladas pelos separatistas do leste da Ucrânia e acrescentou que a NATO estava a fornecer ativamente "armas modernas" à Ucrânia.
"A Rússia irá agir para a proteção da soberania de outros Estados e para evitar atos de agressão", afirmou Pankov, que citou o pedido de Putin perante a câmara alta do parlamento.
A Rússia estabeleceu ainda esta terça-feira (22) oficialmente relações diplomáticas com os territórios ucranianos separatistas pró-russos de Donetsk e Lugansk, na região ucraniana de Donbass, que o Presidente Vladimir Putin reconheceu na segunda-feira como independentes.
Moscovo e as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, que não são reconhecidas pela comunidade internacional, concordaram com o "estabelecimento de relações diplomáticas", referiu em comunicado o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.
"De acordo com o tratado de amizade e cooperação" com as regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, "apresento uma proposta para adoção pelo Conselho da Federação para o consentimento de usar as forças armadas da Federação Russa fora da Rússia", refere o pedido de Vladimir Putin.
O presidente russo considerou que a "melhor solução" para acabar com a crise em torno da Ucrânia seria Kiev desistir da vontade de aderir à NATO, bem como reconhecimento de todos da vontade das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk.
Putin defendeu que a Ucrânia deveria assumir um "estatuto neutro", e que o Ocidente deve deixar de enviar armamento para Kiev.
Afirmou que o envio de tropas russas para a região do Donbass, no leste da Ucrânia, dependerá da situação no terreno, onde os confrontos "continuam" e tendem a agravar-se.
Numa conferência de imprensa em que também pediu o reconhecimento internacional da soberania da Rússia sobre a Crimeia, península ucraniana que Moscovo anexou em 2014, Putin disse que tudo dependerá do desenvolvimento dos acontecimentos e da "situação no terreno".
O presidente russo, que falava depois de autorizado pelo Senado a enviar tropas russas para fora do país, afirmou que os combates na zona de conflito "continuam" e tendem a agravar-se.
"Não disse que as tropas vão para lá agora, já a seguir", disse o líder russo aos jornalistas, acrescentando que neste momento é "impossível" prever o que vai acontecer e tudo dependerá da "situação concreta no terreno".
O líder russo insistiu que Moscovo reconheceu a independência das autoproclamadas repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk devido à recusa de Kiev em cumprir os acordos de Minsk sobre a resolução pacífica do conflito na região.
"Os acordos de Minsk morreram muito antes do reconhecimento das repúblicas de Donbass", disse Putin, afirmando que "os acordos deixaram de existir".
A este respeito, lamentou que a Europa não possa influenciar Kiev a cumprir os seus compromissos no âmbito dos acordos.
Putin defendeu também que a anexação, em 2014, pela Rússia da Península da Crimeia deve ser reconhecida internacionalmente como um reflexo legítimo da escolha da população local, comparando-a ao referendo pela independência do Kosovo.
A anexação foi amplamente condenada pelas potências ocidentais como uma violação do direito internacional.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, fez saber, entretanto, que espera um ataque em larga escala da Rússia na Ucrânia e colocou a sua força de reação rápida em alerta para defender os países aliados.
"Tudo sugere que a Rússia está a planear um ataque maciço na Ucrânia", depois de enviar tropas para os territórios separatistas pró-russos de Donbass, no leste do país, disse Jens Stoltenberg após uma reunião extraordinária da comissão NATO-Ucrânia, na sede da Aliança, em Bruxelas.
Perante os desenvolvimentos que agravam a tensão na Ucrânia, a Alemanha anunciou esta terça-feira a intenção de aumentar o contingente de soldados destacados numa base da NATO na Lituânia, no mesmo dia em que a Hungria comunicou a mobilização de unidades militares nas zonas fronteiriças com a Ucrânia.
A ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, declarou a sua determinação em aumentar o número de efetivos "por terra, mar e ar", durante uma visita de trabalho à Lituânia.
O aumento, que não foi quantificado, junta-se a outro anunciado há semanas por Lambrecht e que consiste em 350 soldados adicionais às 350 tropas que a Alemanha já tem no país báltico e que participam numa missão de vigilância aérea.
Membro da NATO e da União Europeia -- à semelhança da Estónia e Letónia -, a Lituânia pediu novamente na segunda-feira um reforço do seu flanco oriental, na sequência do reconhecimento das autoproclamadas repúblicas separatistas do Donbass por parte da Rússia.
No mesmo sentido, a Hungria vai enviar soldados e equipamentos militares para as áreas do seu território que fazem fronteira com a Ucrânia, anunciou o ministro da Defesa húngaro, Tibor Benko.
"Se houver uma escalada da situação na Ucrânia, não só haverá atividades de guerra no leste do país, como também poderão expandir-se para Kiev" e as zonas fronteiriças com a Hungria, advertiu o ministro, citado pela agência local MTI.
O objetivo dos militares, segundo explicou, é guardar as fronteiras orientais com a Ucrânia para garantir que grupos armados não entrem no país.
Além disso, a Hungria prepara-se para uma eventual chegada de refugiados ucranianos e para tarefas humanitárias, acrescentou Benko.
Isto num dia em que a Ucrânia instou os seus aliados ocidentais a fornecerem-lhe mais armas e a darem-lhe garantias de uma futura adesão à União Europeia para a apoiarem contra a Rússia.
"Esta manhã enviei à ministra dos Negócios Estrangeiros britânica uma carta a pedir mais armas defensivas para a Ucrânia", declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, numa conferência de imprensa na embaixada em Washington, precisando que vai endereçar um pedido semelhante aos seus interlocutores norte-americanos.
"Vamos mobilizar o mundo inteiro para obter tudo aquilo de que necessitamos para reforçar a nossa capacidade de defesa", acrescentou.
O chefe da diplomacia ucraniana indicou igualmente ter "apelado à União Europeia para pôr de lado toda a hesitação, todas as reticências e todo o ceticismo que existam nas capitais europeias e a fazer à Ucrânia a promessa da sua futura adesão".
E foi precisamente após uma receção ao ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano que a Casa Branca afirmou, em comunicado, que o presidente Biden reafirmou o "compromisso dos Estados Unidos com a defesa da soberania e integridade territorial da Ucrânia".
No encontro, Joe Biden detalhou ao chefe da diplomacia ucraniana as sanções que Washington decidiu impor, na sequência do anúncio pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, do reconhecimento da independência dos territórios separatistas pró-russos de Donetsk e Lugansk, na região de Donbass e da autorização pelo Senado russo do envio de tropas russas para o estrangeiro.
"[Joe Biden] Também afirmou que os Estados Unidos continuarão a fornecer assistência em segurança e apoio macroeconómico para ajudar a Ucrânia", pode ler-se na nota.
Durante a sua visita a Washington, Kuleba também se encontrou com o secretário de Estado, Antony Blinken, e o secretário de Defesa, Lloyd Austin.
A Casa Branca frisou ainda que Biden responderá "rápida e decisivamente" a qualquer futura agressão russa contra a Ucrânia e que o fará em coordenação com os aliados europeus.
O presidente norte-americano anunciou esta terça-feira um conjunto de sanções económicas a indivíduos, entidades e bancos russos, motivadas pelas ações da Rússia no leste ucraniano, afirmando estar em causa o "início de uma invasão na Ucrânia".
Num discurso na Casa Branca, sem direito a perguntas, Biden anunciou sanções às elites russas e a bancos, e alertou que a Rússia "irá pagar um preço ainda mais alto se continuar com as agressões" a Kiev
O anúncio de sanções acontece após o chefe de Estado russo reconhecer, na segunda-feira à noite, a independência das regiões separatistas de Donbass, tendo assinado acordos com os líderes separatistas, abrindo as portas para a presença do exército russo nos territórios pró-Rússia da Ucrânia.
Um dia depois do anúncio de Putin, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia reconheceu a independência das regiões separatistas "nas fronteiras que existiam quando proclamaram" a sua independência em 2014, o que inclui áreas que foram retomadas pelas forças ucranianas e estão atualmente sob o controlo de Kiev.
Perante a decisão de Vladimir Putin em reconhecer a independência das regiões separatistas do leste da Ucrânia, o chefe da diplomacia da União Europeia anunciou a aprovação, por unanimidade entre os 27 Estados-membros, de um pacote de sanções à Rússia, visando "atingir e muito" as autoridades russas.
"Devido a esta situação, hoje, os países europeus deram uma resposta rápida [...] e chegaram a um acordo unânime entre os 27 Estados-membros para adotar um pacote de sanções que apresentei ao Conselho após longas horas de negociações", anunciou Josep Borrell, falando numa conferência de imprensa em Paris, após uma reunião informal convocada de urgência na véspera para discutir a imposição de sanções à Rússia.
Vincando que "este é um momento particularmente perigoso para a Europa", o Alto Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança apontou que este pacote de sanções "atingirá a Rússia e atingirá muito".
Os chefes da diplomacia das grandes potências do G7 também manifestaram o seu "apoio inabalável" à integridade territorial da Ucrânia, anunciou a ministra dos Negócios Estrangeiros britânica.
"Os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 condenam veementemente a violação pela Rússia dos compromissos internacionais", escreveu no Twitter Liz Truss, após um telefonema com os seus colegas dos Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Canadá e Japão.
"O nosso apoio à integridade territorial da Ucrânia é inabalável", adiantou Truss.