Vladimir Putin afirmou esta quinta-feira, num discurso anual no think tank russo Valdai Club, que o período de "domínio absoluto" do Ocidente está "a chegar ao fim"..O presidente russo disse mesmo que a próxima década é talvez a mais "crucial" e "perigosa" desde a Segunda Guerra Mundial. "O Ocidente é incapaz de governar unilateralmente... por mais que o tente fazer", frisou..O líder do Kremlin diz que a Rússia está a tentar "defender o seu direito de existir" perante os esforços ocidentais para "destruir o país".."A Rússia não está a desafiar as elites do Ocidente, a Rússia está apenas a tentar defender o seu direito de existir", afirmou, acusando o Ocidente de "tentar limpar a Rússia da face do mapa político" e de estar a jogar um jogo "perigoso, sangrento e sujo" na Ucrânia..Num evento em que respondeu a perguntas da plateia, Putin mencionou os pais - a mãe, que era enfermeira, e o pai, que era guarda-noturno -, e diz que escuta o "pulsar da vida popular, como vivem os cidadãos comuns"..Questionado sobre o que mudou no mundo no último ano, o presidente russo afirmou que há "mudanças tectónicas de toda a ordem global". "O que está a acontecer na Ucrânia em particular não são mudanças que estão em andamento desde o início da operação militar especial, são mudanças que vêm a acontecer há muitos anos. Alguns estão a prestar atenção. Estas são mudanças tectónicas de toda a ordem global. Inicialmente é tudo muito calmo e muito tranquilo, mas essas placas estão a mover-se constantemente, depois aproximam-se, as tensões aumentam e um terramoto acontece. É o que acontece aqui. Primeiro um acumular de tensões e depois um terramoto. Estas tensões costumavam acontecer no passado. Estão a surgir novos centros de poder e estas mudanças estão a acontecer por razões objetivas", explicou..Ainda sobre aquilo a que designa de operação militar na Ucrânia, Putin diz que pensa constantemente nos soldados russos mortos no país vizinho, mas que Moscovo não tinha escolha a não ser invadir solo ucraniano. "Tivemos que decidir o que fazer com o Donbass porque as pessoas viveram oito anos debaixo de fogo. Tivemos de reconhecer a sua independência", atirou, afirmando que o "próximo passo lógico" seria a incorporação da região na Federação Russa..O presidente russo diz que "quando há armas nucleares, há sempre o perigo de serem utilizadas", mas que nunca falou "proativamente" sobre o "possível uso" das mesmas..O líder do Kremlin apelidou de "inaceitável" a expansão da NATO, alegou que Kiev se recusou a cumprir os acordos de Minsk e disse que o Ocidente está a alimentar a guerra na Ucrânia, a aumentar as provocações em Taiwan e a destabilizar os mercados mundiais de alimentos e energia..Contudo, Putin reiterou que a Rússia não é inimiga do Ocidente. "O diálogo entre a Rússia, o Ocidente e outros centros de desenvolvimento vai tornar-se mais importante na nova ordem mundial. Tentámos estabelecer relações de amizade com o Ocidente e a NATO, mas o Ocidente impõe sanções aos que não querem estar sob o seu controlo", acusou, garantindo que a Rússia não pretende hegemonia mundial.."A Rússia não está a desafiar o Ocidente - a Rússia procura reservar o direito de se desenvolver. A nova ordem mundial deve ser baseada na lei e na ordem", continuou..A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)..A invasão russa -- por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas..A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que esta quinta-feira entrou no seu 246.º dia, 6.374 civis mortos e 9.776 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.