Putin admite que será necessário um acordo para acabar o conflito na Ucrânia

Presidente russo fala em falta de confiança, após a ex-chanceler alemã revelar que acordos de Minsk de 2014 serviram para dar tempo a Kiev.

O presidente russo, Vladimir Putin, admitiu esta sexta-feira que "um acordo terá que ser alcançado" para a acabar com o conflito na Ucrânia. Mas acusou o Ocidente de explorar os ucranianos como "carne para canhão", apontando nomeadamente o dedo à Alemanha e à França que encheram o país de armas ao mesmo tempo que negociaram acordos de cessar-fogo entre Kiev e os separatistas pró-russos no leste.

"Levanta-se a questão da confiança. E a confiança, claro, é quase zero. Contudo, em última análise, temos que chegar a acordo. Já disse muitas vezes que estamos preparados e abertos a tais acordos", disse Putin numa conferência de imprensa na capital do Quirguistão, onde participou numa cimeira dos líderes da Comunidade Económica Euroasiática. Na véspera, tinha admitido que a "operação militar especial" pode ser um processo de "longo prazo".

O presidente russo acusou ainda Berlim e Paris de traição, em resposta a uma entrevista da ex-chanceler alemã. Angela Merkel disse ao jornal Die Zeit que os acordos de Minsk de 2014 foram "uma tentativa de dar à Ucrânia tempo" e que Kiev aproveitou para "se tornar mais forte". Putin disse ter ficado "desapontado", já que sempre acreditou que Berlim negociava honestamente, questionando agora em quem pode confiar.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, alertou para o risco de os combates na Ucrânia saírem do controlo e o conflito se tornar numa guerra global entre a Rússia e a NATO. "Se as coisas correrem mal, podem correr terrivelmente mal", afirmou ao canal de televisão norueguês NRK, alegando que o Ocidente está a trabalhar "todos os dias" para evitar isso.

No terreno, as forças russas continuam os bombardeamentos, tendo atacado "toda a linha da frente" na região de Donetsk. Num vídeo partilhado no Telegram, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a "situação continua muito difícil em áreas chave do Donbass", alegando que "os ocupantes destruíram Bakhmut", falando noutra cidade "que o exército russo transformou em ruínas queimadas".

Opositor russo condenado

Um tribunal de Moscovo condenou esta sexta-feira o opositor Ilya Yashim a oito anos e meio de prisão por espalhar "informação falsa" sobre o exército russo ao criticar a ofensiva militar na Ucrânia. Yashim, de 39 anos, foi detido em julho depois de denunciar "a matança de civis" na cidade de Bucha, durante um direto no YouTube.

Outro opositor russo detido, Alexei Navalny, criticou o "veredicto vergonhoso", dizendo numa mensagem divulgada pela sua equipa no Twitter que a condenação "não vai silenciar Ilya e não deve intimidar as pessoas honestas na Rússia". S.S.

susana.f.salvador@dn.pt

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