O homem que fez fortuna como o "chef de cozinha de Putin" voltou a fazer declarações tonitruantes a pôr em causa o Exército russo - e desta vez a empresa de mercenários de que é proprietário, Wagner. Numa entrevista a um influente bloguista russo, Yevgeny Prigozhin pressionou mais uma vez as altas esferas militares ao afirmar que se os seus combatentes não receberem munições em breve "Wagner deixará de existir" e a retirada de Bakhmut seria inevitável. Na Crimeia, um ataque de drones atingiu os depósitos de combustível de Sebastopol, no que foi classificado de "castigo de Deus" pelos serviços de informações militares ucranianos.."Todos os dias, temos pilhas de milhares de corpos que colocamos em caixões e enviamos para casa", disse Prigozhin na entrevista a Semyon Pegov, pró-Kremlin, sobre a situação em Bakhmut, no leste da Ucrânia. "Se as munições em falta não forem repostas, somos obrigados - para não fugirmos depois como ratos cobardes - a retirar ou a morrer.".Diz o seu currículo e o passado recente que se deve ler a entrevista de Yevgeny Prigozhin com algum ceticismo. Ainda há dias disse que a sua milícia iria deixar de bombardear as posições ucranianas para permitir a entrada de jornalistas norte-americanos só para dizer mais tarde que era uma piada..Prigozhin tem estado há meses num braço-de-ferro pouco discreto com o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e com o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, e são frequentes as críticas, ora acusando-os de "traição", ora de quererem acabar com o seu Exército privado, responsável por meses de ataque em direção a Bakhmut - que o lado russo controlará em cerca de 85% - e pela captura da vizinha Soledar..O dono de uma "organização criminosa transnacional" - como as suas atividades são descritas por Washington - lucrou 250 milhões de dólares nos quatro anos anteriores à invasão russa à Ucrânia, segundo uma investigação do Financial Times, mas agora diz que a sua empresa de mercenários está à beira do fim. "Estamos a chegar ao ponto em que Wagner acaba. Seremos história, mas não há nada com que nos preocuparmos, estas coisas acontecem.".A falta de munições é um problema de que agressor e agredido se queixam. Para o lado de Kiev, o presidente da Coreia do Sul voltou a dar a entender que o país poderá mudar de política. De visita aos Estados Unidos, Yoon Suk Yeol disse que a invasão russa não pode ser bem-sucedida e que Seul está a "acompanhar de perto a situação que se vive no campo de batalha na Ucrânia" pelo que irá tomar "as medidas adequadas para defender as normas internacionais e o direito internacional"..Não foi o primeiro ataque nos últimos dias no território ocupado da Crimeia, mas foi o mais espetacular. Uma coluna de fumo visível a quilómetros elevou-se do porto de Sebastopol na sequência de uma explosão de um depósito de combustível. Segundo informações prestadas pelo governador instalado por Moscovo, Mikhail Razvoz- hayev, a explosão decorreu do ataque de dois drones, não tendo causado danos pessoais nem a infraestruturas civis. Mais claramente, disse que as reservas atingidas "não eram destinadas a estações de serviço", ou seja, o depósito era usado para fins militares..Segundo os serviços de informações militares da Ucrânia a explosão destruiu mais de 10 tanques com produtos petrolíferos com capacidade de 40 mil toneladas que tinham como destino a frota russa do Mar Negro. "Foi a punição de Deus, em especial pelos civis mortos em Uman, entre os quais havia cinco crianças", comentou o porta-voz daquele departamento do Ministério da Defesa da Ucrânia, Andriy Yusov, em referência ao ataque russo com mísseis de cruzeiro na véspera. Foi o mais próximo de Kiev reclamar a autoria do ataque. Yusov voltou a avisar os residentes da Crimeia para se afastarem de insta- lações militares ou em serviço dos militares..Em mais um passo na degradação das relações entre Rússia e Polónia - há dias Moscovo atribuiu a responsabilidade do massacre de Katyn aos nazis quando em 2010 reconhecera a sua autoria e pedira perdão -, o MNE russo prometeu uma "dura reação" depois de a polícia polaca ter confiscado uma escola até agora dependente da embaixada russa em Varsóvia. O governo polaco disse que o edifício é propriedade estatal e que tal foi confirmado pelos tribunais..cesar.avo@dn.pt