A democracia tem menos de 40 anos na Coreia do Sul e, em tão curto espaço de tempo, vai conhecer o terceiro processo de destituição de um presidente. A iniciativa, de todos os partidos da oposição representados na Assembleia Nacional, é consequência do ato falhado que foi a imposição da Lei Marcial no país por parte de Yoon Suk Yeol. Ainda que sobreviva a este processo, o presidente encontra-se de tal modo fragilizado que ninguém vê como poderá terminar o mandato. Nas ruas, manifestações pedem a sua demissão; o maior sindicato, KCTU, iniciou uma greve geral a exigir a demissão do presidente; no Parlamento, os seis partidos da oposição apresentaram a moção para o destituir; e à sua volta demissões em catadupa: além do ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, que bateu com a porta após pedir desculpa aos sul-coreanos, o chefe de gabinete e outros nove assessores estão de saída. Yoon Suk Yeol está hoje mais isolado do que quando se dirigiu ao país, na noite de terça-feira, a justificar a sua decisão de impor a Lei Marcial devido à necessidade de proteger o país das “forças comunistas norte-coreanas” e das “forças antiestatais” e ao criticar a oposição, por manter uma “ditadura legislativa”, que tem impedido a sua capacidade de governar. Em abril, a oposição venceu as eleições parlamentares. Agora, o Orçamento do Estado estava a caminho de sofrer cortes e vários procuradores, incluindo o chefe da agência de auditoria do governo, arriscavam a destituição por via parlamentar por não terem investigado a mulher do presidente, Kim Keon-hee. Um vídeo mostra a primeira-dama a receber uma mala de luxo de um reverendo metodista. Além disso, a oposição também diz que Keon-hee é suspeita de manipulação do mercado de ações. O mandato não estava a ser um sucesso, com a popularidade a bater nos 17% de aprovação, graças a um acumular de crises - os médicos estão em greve há meses - e de escândalos que o envolvem. Na quarta-feira, um seu consultor político foi acusado de violar a lei do financiamento político. Esse consultor, Myung Tae-kyun, que detém uma empresa de sondagens, é suspeito de ter oferecido 80 sondagens a Yoon antes das Eleições Presidenciais de maio de 2022. Em troca, Yoon teria ajudado uma ex-deputada a ser de novo nomeada candidata, e esta terá pago a Myung o favor. .E agora?.Deputados do Partido Democrático e de outros cinco partidos da oposição entregaram a moção para destituir o presidente Yoon Suk Yeol. EPA/YONHAP.Apresentada a moção de censura na Assembleia Nacional, a mesma deverá ser discutida e votada na sexta-feira ou no sábado. Ao contrário da revogação da Lei Marcial, aprovada por 190 deputados dos 300, a destituição de um presidente exige dois terços dos votos. A oposição tem 192 deputados, pelo que, para ser bem-sucedida, a iniciativa necessita de oito deputados do Partido do Poder Popular, do presidente. Han Dong-hoon,o líder do partido conservador, mostrou-se publicamente contra a Lei Marcial, mas também contra a impugnação de Yoon. Caso a votação da destituição seja bem-sucedida, Yoon será suspenso do cargo e o primeiro-ministro Han Duck-soo assumirá funções interinamente enquanto o Tribunal Constitucional proceder a um julgamento do processo. Os nove juízes (neste momento só estão seis em funções) têm até seis meses para confirmar ou rejeitar a destituição. Se a destituição for avante, novas Eleições Presidenciais devem realizar-se no prazo de dois meses da decisão judicial. Seja como for, não parece provável que Yoon fique no cargo até 2027. “Não sei qual era o seu objetivo, porque penso que se tratou de um suicídio político”, comentou ao jornal The Washington Post o consultor político sul-coreano Park Sung-min, que antevê a demissão do presidente.