P&R: O que é o Starlink, quem o paga e o que acontece se Musk o tirar à Ucrânia?
Como funciona o Starlink?
A constelação de satélites de Elon Musk, desenvolvida pela SpaceX, está em órbita a baixa altitude (328 a 614 quilómetros), garantindo internet mais rápida e estável do que a concorrência. Para aceder à ligação, é preciso um dispositivo de receção em terra, uma espécie de router, além da antena, que se orienta automaticamente para o satélite disponível. Desde 2019 que o Starlink pôs 7700 satélites em órbita, mas a meta é chegar aos 42 mil.
Como é que chegou à Ucrânia?
A 26 de fevereiro de 2022, dois dias após a invasão russa, o vice-primeiro-ministro ucraniano, Mykhailo Fedorov, dirigiu-se publicamente a Musk através do X. “Enquanto tenta colonizar Marte - a Rússia tenta ocupar a Ucrânia! Enquanto os seus rockets aterram com sucesso vindos do espaço - os rockets russos atacam os civis ucranianos! Pedimos-lhe que forneça à Ucrânia estações Starlink e que peça aos russos sensatos que tomem uma posição”, escreveu. Musk respondeu: “O serviço Starlink está agora ativo na Ucrânia. Mais terminais estão a caminho.”
Quão importante é para a Ucrânia?
Os ataques russos destruíram rapidamente as linhas fixas e rede de telemóveis ucraniana, com o Starlink a garantir as comunicações no país - não só entre os civis, mas também a nível militar. Mais importante, tornou-se a base para guiar os drones ucranianos, até que Musk pôs um travão. Em setembro de 2022, o milionário desligou o serviço na Crimeia, impedindo um ataque com drones contra a frota russa no Mar Negro. Na altura, tinha sido avisado por Moscovo de que isso levaria a uma retaliação nuclear e temia começar a Terceira Guerra Mundial.
Quantos terminais há na Ucrânia?
Estima-se que existam atualmente 160 mil terminais na Ucrânia, cerca de 100 mil deles controlados pelo Ministério da Defesa. Musk defendeu que o sistema fosse usado apenas para fins civis, tendo entretanto lançado um serviço desenhado especificamente para uso militar, o Starshield, que tem como principal cliente os norte-americanos. Em 2023, soube-se que há um contrato classificado no valor de 1,8 mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros, ao câmbio atual) com o Governo dos EUA.
Quem paga o serviço ucraniano?
O terminal da Starlink custa 580 dólares (530 euros), mas o serviço implica ainda uma subscrição mensal que pode ir de 95 dólares a 440 dólares (87 a 403 euros). Os primeiros terminais foram oferecidos por Musk, que estima que isso tenha custado 80 milhões de dólares (73,4 milhões de euros), mas houve também apoio financeiro da parte dos EUA, Reino Unido, República Checa ou Polónia, além de doações privadas de terminais. Em setembro de 2022, a SpaceX pediu ao Pentágono que assumisse os custos, estimando-os em 120 milhões de dóla- res (110 milhões de euros) até ao final daquele ano e 400 milhões de dólares (366 milhões de euros) em 2023. Mas depois de um acordo no valor de 145 milhões de dólares (133 milhões de euros) ter vindo a público, seguiram-se críticas e Musk desistiu: “Que se lixe. Apesar de o Starlink estar a perder dinheiro e outras empresas estarem a receber milhões de dólares dos contribuintes, vamos continuar a financiar o governo ucraniano gratuitamente.”
Porque é que se fala que Musk pode desligar o Starlink?
No mês passado, a Reuters revelou que os norte-americanos ameaçaram cortar o acesso ao Starlink quando estavam a pressionar Kiev para assinar o acordo sobre os minerais críticos. Musk, que estava no primeiro telefonema após a eleição de Donald Trump com Volodymyr Zelensky, apressou-se a negar. Mas os alarmes soaram e subiram de tom após o fatídico encontro entre os dois presidentes na Sala Oval.
No fim de semana, Musk disse que sem o Starlink “toda a linha da frente da Ucrânia colapsaria”. Em resposta, o chefe da diplomacia polaco, Radoslaw Sikorski, lembrou no X que o seu país pagava uma fatura de 50 milhões de euros mensais pelo serviço e sugeriu começar a procurar alternativas caso o Starlink revelasse “não ser confiável”. O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, entrou na conversa, acusando Sikorski de “inventar” coisas e sugeriu que ele devia agradecer o serviço. O próprio Musk respondeu, reiterando que nunca iria desligar os terminais. “Cala-te, homem pequeno. Pagas uma pequena fração do custo. E não há substituto para o Starlink”, acrescentou.
É verdade que não há substituto?
Têm havido conversações entre os europeus e a empresa franco-britânica Eutelsat (que também tem cerca de 630 satélites em baixa altitude) para alargar os serviços prestados na Ucrânia - já é responsável pelas comunicações governamentais e institucionais. O preço das ações da empresa sextuplicou desde o choque entre Trump e Zelensky na Casa Branca. Este serviço é contudo muito mais caro do que o Starlink (só o terminal é dez mil dólares, 9,2 mil euros) e mais lento.
Qual é a posição de Musk em relação à guerra da Ucrânia?
No início da guerra, o milionário colocou-se totalmente do lado de Kiev, chegando até a desafiar o presidente russo, Vladimir Putin (cinturão negro no judo), para um combate onde em jogo estava a Ucrânia. Mas a sua posição foi mudando ao longo do tempo, começando quando não permitiu o uso do Starlink para atacar a frota russa, em setembro de 2022. Um mês depois, apresentou um plano de paz, que previa que Kiev cedesse da Crimeia (ilegalmente anexada em 2014) e renunciasse a fazer parte da NATO. "Este será o resultado eventual no fim – é só uma questão de saber quantos morrem antes", defendeu. A proposta foi criticado por Zelensky, que lançou uma sondagem no Twitter. "Que Elon Musk prefere? Um que apoia a Ucrânia ou Um que apoia a Rússia". Musk é também acusado pelos ucranianos de usar o X para espalhar desinformação e defender eleições para substituir Zelensky – que nos últimos meses se tornou no seu alvo.