O esquema urdido pelo governo alemão para reforçar as defesas aéreas da Ucrânia e manter Donald Trump do lado ocidental poderá mostrar-se eficaz, mas está longe de receber o apoio de todos os países da NATO, a organização encarregada de coordenar o processo. A França e a Itália foram os mais importantes casos de escusa num momento em que o presidente norte-americano assegura que as primeiras entregas de sistemas Patriot estão a caminho dos aliados. Horas depois, disse que o prazo de 50 dias dado a Putin pode ser encurtado, mas por outro lado, afirmou não estar “do lado de ninguém”. Durante o encontro de segunda-feira com o presidente dos EUA, o secretário-geral da NATO listou os países que concordaram em enviar o seu equipamento militar para a Ucrânia e comprar aos Estados Unidos o que vai substitui-lo. Mencionou a Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Países Baixos, Suécia, o Reino Unido e o Canadá, para logo de seguida afirmar que “esta é apenas a primeira vaga, outros se seguirão”. Na próxima semana, segundo a Reuters, deverá decorrer uma reunião dos países da NATO que têm sistemas de defesa Patriot.Até agora, de forma oficial, nenhum outro país anunciou juntar-se ao plano, embora seja bem visto pelos países bálticos, a avaliar pelas reações dos chefes da diplomacia da Lituânia e da Estónia. Em sentido oposto, mais países informaram que não farão parte deste acordo. Sem surpresa, a Hungria e a Eslováquia, com líderes mais alinhados com Moscovo do que com Kiev e Bruxelas, disseram de pronto estar contra o envio de armas para a Ucrânia. “Não devemos juntar combustível ao fogo. Precisa-se de paz, não de mísseis”, declarou o eslovaco Robert Fico. Também a vizinha Chéquia não participa, mas por outros motivos. É que Praga lidera a iniciativa internacional para comprar munições para a Ucrânia. Depois de já o ter feito em 2024, tem agora como objetivo fornecer até 1,8 milhões de projéteis até ao final do ano. Dois dos maiores países europeus, França e Itália, ficam também de fora. O governo francês, que advoga pela reindustrialização do setor da Defesa na Europa, disse que continua e continuará a ajudar Kiev, mas não na modalidade acordada entre Berlim, a NATO e Washington. “Estamos a operar dentro do quadro do apoio militar, de uma forma ou de outra, com uma forte preferência pela aquisição de armas europeias”, declarou a porta-voz governamental Sophie Primas. Ao La Stampa, fontes governamentais italianas disseram não planear comprar armas aos Estados Unidos além dos aviões F-35, mas que poderão contribuir com o apoio logístico. França e Itália têm um sistema de defesa aéreo próprio, SAMP/T, e estão a desenvolver a próxima geração do concorrente do Patriot. O sistema norte-americano - do qual Trump disse haver até 17 para vender aos aliados - está presente na Alemanha, Países Baixos, Polónia, Roménia, Grécia e Espanha. . Se Berlim se ofereceu para adquirir dois sistemas, já Atenas e Madrid, que terão Patriot de reserva, não deram qualquer indicação de que o farão. A Espanha tem ao serviço uma bateria Patriot na Turquia. Quanto à Polónia, o ministro Radoslaw Sikorski, que lembrou que o seu país contribuiu com 4 mil milhões de euros em armas para a Ucrânia, sugeriu outra via: “Quem deve pagar pelos equipamentos norte-americanos? Os contribuintes europeus ou, como defendo, o agressor, usando os seus ativos congelados?.”Sanções vetadasEm Bruxelas, o 18.º pacote de sanções da UE à Rússia não foi aprovado após dois dias de negociações entre os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27. A Eslováquia, dependente do gás russo, vetou as novas sanções, em desacordo com uma proposta para acabar com todas as importações de gás russo até 2028. No entanto, o tema poderá vir a ser discutido de novo tão cedo quanto esta sexta-feira..Países vão ter de pagar mais a Bruxelas e haverá novos impostos para financiar novo orçamento da UE.Noutra frente, a presidente da Comissão Europeia anunciou que no futuro orçamento plurianual da UE, entre 2028 e 2034, 100 mil milhões de euros serão disponibilizados para Kiev. “Estamos a duplicar o Mecanismo para a Ucrânia – para apoiar a recuperação, a resiliência e o seu caminho para a adesão à UE”, disse Ursula von der Leyen. O orçamento em vigor, aprovado no ano passado, reservou 50 mil milhões para a Ucrânia entre empréstimos e subvenções. O orçamento terá de ser aprovado pelos Estados-membros e pelo Parlamento Europeu.Mais civis atingidos em 2025O número de vítimas civis na Ucrânia aumentou 50% no primeiro semestre do ano face a igual período de 2024, revela um relatório publicado pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). “Isto deve-se principalmente à intensificação dos ataques com mísseis de longo alcance e drones russos contra as principais cidades ucranianas entre março e maio”, lê-se no documento. Em contrapartida, acrescentou a publicação, registou-se uma diminuição de quase 30% nas vítimas civis nas áreas da Ucrânia ocupadas pela Rússia.