Perguntas e respostas. A realidade em Gaza entre o Hamas e o bloqueio israelita

Tudo o que precisa de saber sobre a Faixa de Gaza, as motivações do Hamas e o histórico conflito entre Israel e Palestina.
Publicado a
Atualizado a

O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu anunciou na segunda-feira que as suas forças estão prontas para iniciar um ataque "terrestre, naval e aéreo" à Faixa de Gaza e avisou 1,1 milhões de habitantes para evacuarem o norte do território.

O aviso causou preocupação entre a comunidade internacional, que alertou que os quase dois milhões de habitantes da Faixa de Gaza não têm como fugir e que, sem acesso a comida, água e eletricidade, enfrentam uma crise humanitária sem precedentes.

Eis algumas respostas sobre a Faixa de Gaza e a situação actual:

A Faixa de Gaza faz parte, juntamente com a Cisjordânia, dos territórios palestinianos ocupados (TPO), de acordo com a definição das Nações Unidas. Esta pequena língua de terra de apenas 41 quilómetros de comprimento e 10 quilómetros de largura faz fronteira com Israel a Norte e a Leste, com o Egipto a Sul, e é limitada pelo Mar Mediterrâneo a Oeste.

Ali vivem 1,9 milhões de pessoas, tornando a Faixa de Gaza um dos locais com maior densidade populacional no mundo. Mais de 50% da população tem menos de 18 anos e a esmagadora maioria é muçulmana. Cerca de 1,4 milhões de pessoas são oficialmente refugiadas, de acordo com as Nações Unidas.

Inicialmente, a Faixa de Gaza fazia parte dos restantes territórios palestinianos até se tornar um enclave em 1967, aquando da invasão israelita. Em 1990 a administração do território foi transferida para a Autoridade Palestiniana (AP). As populações israelitas desocuparam a área em 2005.

O Hamas é um grupo militante islamita e um dos dois partidos políticos palestinianos. Em 2006, derrotou o partido Fatah nas eleições para governar a Faixa de Gaza. Desde então, a Palestina é governada pelo Hamas na Faixa de Gaza e pelo Fatah (que compôs a Autoridade Palestiniana) na Cisjordânia, o que criou uma divisão política entre os palestinianos.

Enquanto o Fatah renunciou à violência, o Hamas é considerado um grupo terrorista por vários países e organizações, incluindo o Estados Unidos e a União Europeia (apesar da discordância de alguns países). Alguns países consideram apenas o braço militar do Hamas (denominado Brigadas Izz ad-Din al-Qassam) como um grupo terrorista.

O Irão é um dos grandes financiadores do Hamas e estima-se que apoia o grupo e outros movimentos palestinianos com 95 milhões de euros por ano, de acordo com o Departamento de Estado norte-americano. Membros do Hamas vivem na Turquia e no Qatar, países que também apoiam o grupo e são acusados de financiar as suas actividades.

O movimento tem como missão declarada "resistir à ocupação Sionista, libertar o território, [permitir] o retorno dos refugiados e cumprir o projecto nacional palestiniano", de acordo com o site do próprio grupo.

"O Hamas limita a sua resistência apenas à ocupação Israelita e não tem nenhuma batalha com nenhum partido no mundo. O Hamas não luta e resiste contra os israelitas porque eles são judeus mas porque eles são ocupadores", diz o grupo.

Em 2007, Israel impôs um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo à Faixa de Gaza que começou nos anos 90 e continua até hoje. As únicas saídas terrestres de Gaza são a passagem de Rafah para o Egipto e a passagem de Erez para Israel. O aeroporto Yasser Arafat, no sul de Gaza, foi destruído durante a Segunda Intifiada (2000-2005). No mar, Israel limitou a zona pesqueira a 11 quilómetros da costa da cidade de Gaza (no norte do território), e a 28 quilómetris no sul, proibindo a entrada e saída de barcos da zona delimitada.

As passagens pedestres de Rafah e Erez foram fechadas desde o ataque do Hamas a 07 de Outubro. Mesmo quando estão abertas, o processo altamente burocrático para utilizar as duas passagens demora várias horas e o acesso é geralmente negado, salvo raras excepções, tanto do lado egípcio como israelita. Os dois países fronteiriços também controlam e limitam a entrada de bens por via terrestre.

O bloqueio destas duas passagens "destruiu a economia de Gaza, contribui para a fragmentação do povo Palestiniano e faz parte dos crimes contra a humanidade de 'apartheid' e perseguição dos israelitas contra milhões de Palestinianos", de acordo com a Human Rights Watch.

Israel e o Egipto justificam o bloqueio da Faixa de Gaza para prevenir a saída de membros do Hamas e a entrada de armas e outros produtos que possam ser usados pelo grupo.

Sem poder sair ou entrar na Faixa de Gaza ou controlar a exportação de produtos, mais de 80% dos milhões de palestinianos em Gaza vivem abaixo do limiar da pobreza com uma média de 13 horas de eletricidade por dia, de acordo com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNWRA). Mais de meio milhão de pessoas depende da assistência alimentar da UNWRA, presente em oito campos de refugiados dentro da Faixa de Gaza. Centenas de milhares de famílias estão também dependentes de apoio humanitário para aceder a água potável e escolas.

A crescente deterioração das condições de vida dentro do território levaram a Human Rights Watch a chamar Gaza a "maior prisão ao ar livre" no mundo.

O Hamas controla vários túneis por onde são traficadas pessoas mas também armamento, de acordo com as forças israelitas.

Israel foi acusado de cometer crimes de guerra quando anunciou esta semana que iria parar o fornecimento de água, comida e combustível para eletricidade na Faixa de Gaza. Muitos apoiaram a decisão, dizendo que Israel não tem obrigações para com o povo de Gaza, especialmente no contexto de um conflito armado.

No entanto, as Nações Unidas consideram a Faixa de Gaza e a Cisjordânia como território ocupados.

De acordo com a lei internacional, incluindo a Convenção de Geneva, como "poder ocupante", Israel pode controlar a entrada de pessoas e bens, mas tem certas obrigações dentro da Faixa de Gaza.

"Nesse sentido, a Lei Humanitária Internacional obriga Israel a assegurar, no máximo das suas capacidades, que são cumpridas as necessidades básicas da população de Gaza", de acordo com a Cruz Vermelha Internacional (ICRC). "Inclusivamentte, tem que assegurar que Gaza é abastecida com comida, produtos médicos e outros bens essenciais que permitam à população viver em condições adequadas".

Israel pode restringir a entrada de pessoas e bens nos território ocupados mas tem uma "obrigação incondicional do tratamento humano da população de Gaza segundo os princípios de proporcionalidade em quaisquer circunstâncias", considera ainda a Cruz Vermelha.

Entre 2008 e 2020, o conflito israelo-palestiniano matou 5.590 palestinianos e 251 Israelitas.

Antes dos ataques de Outubro, mais de 200 palestinianos e 30 israelitas tinham sido mortos em confrontos, operações militares e outros incidentes em 2023, que já é considerado um dos anos mais mortíferos na região desde 2005. As Nações Unidas disseram que a "tendência preocupante" revelava um "desespero crescente relativamente ao futuro".

"A falta de progresso no caminho para um horizonte político que enfrenta os problemas de raíz do conflicto, deixou um vácuo perigoso e volátil", dizia a enviada das Nações Unidos no Médio Oriente Tor Wennesland em Agosto deste ano.

Entre os factores agravantes, as Nações Unidas identificaram o crescimento das colónias ilegais israelitas em território palestiniano, incluindo a destruição de casas e "violência colonial" mas também as "actividades de milícias palestinianas".

Após vários ataques de forças israelitas a palestinianos dentro do terreno da mesquita de Al-Aqsa (um local sagrado para os muçulmanos em Jerusalém onde é proibida a entrada de outras religiões), o Hamas e o movimento islamita libanês Hezbollah avisaram que lançariam "o fogo do inferno" contra Israel caso os ataques em Al-Aqsa continuassem.

A 07 de Outubro, militantes do Hamas invadiram território israelita e anunciaram o início da operação "Al-Aqsa", assassinando e raptando centenas de civis israelitas.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt