Paulo Rangel diz que é urgente travar hostilidades e “resposta manifestamente exagerada” de Israel
O chefe da diplomacia portuguesa defendeu no domingo, em Madrid, a “urgência” de travar as hostilidades e a “resposta manifestamente exagerada” de Israel, bem como da entrada de ajuda humanitária em Gaza, numa “situação desesperada”, para iniciar “um novo capítulo” com a solução dos dois Estados.
“Sem se travar as hostilidades e os ataques que estão no terreno, a resposta manifestamente desproporcionada que está a ser dada em Gaza e que se agravou de modo catastrófico a partir de março, com o fim do cessar-fogo, não é possível avançar na solução dos dois Estados”, afirmou Paulo Rangel, que participou na reunião do chamado Grupo de Madrid (Madrid+).
O encontro foi promovido pelo Governo espanhol para debater os passos para a solução dos dois Estados - Israel e Palestina -, tendo participado cerca de 20 países europeus e árabes, além de organizações internacionais, num processo lançado por Madrid em setembro do ano passado.
Da reunião de domingo, a primeira em que Portugal participou, o “grande grito” que sai é “que se parem as hostilidades o mais depressa possível e que a comunidade internacional possa pressionar o Governo de Israel a abrir as fronteiras para ajuda humanitária no quadro de um cessar-fogo que possa dar depois origem a um novo capítulo” na região.
Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros português, “para se criar essa confiança, é fundamental (…) criar um clima que possa depois levar a dar os passos que são necessários para a Autoridade Palestiniana tomar conta do Governo da Faixa de Gaza, juntamente com a Cisjordânia, e para começar o processo de reconstrução, com o grande apoio da Liga Árabe e o plano árabe que está a ser trabalhado com todos esses passos e com as questões que vão dar depois as garantias de segurança ao Estado de Israel e ao futuro Estado palestiniano”.
Este processo, argumentou, “depende neste momento da urgência de parar as hostilidades, de parar os ataques de tipo militar, de fazer entrar em termos massivos a ajuda humanitária, porque a situação é desesperada”.
Rangel advertiu que, “neste momento, existe, de facto, um risco sério de a fome ter consequências ainda mais devastadoras do que aquela que os ataques militares já têm tido”.
À entrada da reunião, o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, defendeu que a comunidade internacional deve ponderar a imposição de sanções a Israel para que este ponha termo à guerra em Gaza.
"A muito curto prazo, para pôr termo a esta guerra inútil e fazer chegar a ajuda humanitária em massa, sem entraves, de forma neutra, para que não seja Israel a decidir quem pode comer e quem não pode, (...) temos de pensar em sanções", disse o governante espanhol.
Albares também defendeu a aplicação de um “embargo” à venda de armas a Israel para travar a guerra em Gaza, e a suspensão imediata do Acordo de Associação entre a União Europeia e aquele país.
Entretanto, durante a última noite, pelo menos 46 pessoas morreram na Faixa de Gaza, 31 das quais numa escola transformada em abrigo, no bairro de Al Daraj, no leste do território, informaram as autoridades de saúde.
“O ataque à escola no bairro de Daraj também feriu mais de 55 pessoas”, disse Fahmy Awad, chefe do serviço de emergência da Defesa Civil de Gaza.
A mesma fonte adiantou que a escola foi atingida três vezes enquanto as pessoas dormiam.
Após o recente prolongamento das operações militares israelitas em Gaza, vários países considerados aliados de Israel juntaram as suas vozes à crescente pressão internacional para pôr fim à guerra no território palestiniano.
O bloqueio de mais de dois meses imposto por Israel à Faixa de Gaza agravou a escassez de alimentos, água, combustível e medicamentos, aumentando os receios de fome. As organizações humanitárias afirmam que a pouca ajuda que Israel permitiu nos últimos dias está muito aquém das necessidades.
Espanha, Irlanda e Noruega reconheceram há um ano o Estado da Palestina, uma iniciativa que Portugal ainda não tomou.