Até os aliados mais fervorosos de Jair Bolsonaro já dão como certa a concretização do pior pesadelo do ex-presidente da República do Brasil: na próxima semana, ou na outra a seguir, o mais mediático dos condenados por tentativa de golpe de Estado vai começar a cumprir a pena de prisão de 27 anos e 10 meses a que foi sentenciado, em setembro, no Complexo Penitenciário da Papuda, célebre cadeia de segurança máxima nos arredores de Brasília. Bolsonaro desejava continuar em prisão domiciliar ou, na pior das hipóteses, ocupar um espaço numa sede da Polícia Federal.Porém, uma cela com pintura neutra, ar condicionado, aparelho de televisão, iluminação intensa, controle de acesso reforçado, já aprovada pelo juiz Alexandre de Moraes, espera em breve Jair Bolsonaro no bloco 5 da Papuda, segundo fontes do tribunal. É mais ou menos o mesmo local que chegou a abrigar por períodos específicos tanto José Dirceu, ex-braço direito do atual presidente Lula da Silva, preso na sequência do Escândalo do Mensalão, como Marcos Camacho, conhecido como Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital, maior organização criminosa da América Latina, passando por Paulo Maluf, antigo governador de São Paulo e candidato à presidência da República em 1985, detido por lavagem de dinheiro.Inaugurada em 1979, a Papuda abriga em quatro edifícios cerca de seis mil presos, apesar de ter capacidade para no máximo 3500, e tem um histórico dramático de rebeliões, como a de agosto de 2000, que deixou 11 mortos, nove asfixiados e dois carbonizados, ou a de outubro do ano seguinte, quando um motim de 28 horas resultou em dois mortos e 11 feridos, dos quais três polícias feitos reféns. Além disso, por estar a 25 kms do centro de Brasília, é vista como uma espécie de assombração para a classe política - o próprio Bolsonaro praguejou em 2017 contra dois deputados do Partido dos Trabalhadores investigados ao dizer, entre gargalhadas, “vão para a Papuda, vão para a Papuda”. .Foi a decisão na semana passada do Supremo Tribunal Federal (STF) de rejeitar os embargos de declaração, ou seja os recursos, apresentados pelos advogados de Bolsonaro a contestar a dosimetria da pena, a denunciar erros jurídicos e a lamentar o cerceamento da defesa em determinados pontos do processo, que precipitou a decisão do envio, a qualquer instante, do ex-presidente para a Papuda. Precedente CollorOs advogados, entretanto, têm um trunfo: Collor de Mello, condenado pelo STF em 2023 a oito anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O primeiro presidente eleito do Brasil pós-redemocratização conseguiu contornar a Papuda e cumprir a pena em casa - uma mansão no estado de Alagoas - alegando sofrer de Parkinson e transtorno bipolar. Collor pode, portanto, servir de precedente e levar Bolsonaro a cumprir, numa fase posterior, a pena em casa - um condomínio de alto padrão em Brasília a oito quilómetros da Papuda - por apresentar um conjunto de maleitas.Acresce que o Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal e aliado de Bolsonaro, vem tentando convencer o STF a não enviar Bolsonaro para a Papuda, sob sua jurisdição, por poder causar caos no sistema penitenciário, incluindo rebeliões, informou o jornal O Globo. Aliás, nem no Palácio do Planalto, a sede do governo de Lula, a prisão do ex-presidente na temida Papuda é vista com bons olhos, do ponto de vista político, escreve o colunista Paulo Capelli, no jornal Metrópoles. Segundo o repórter, a prisão pode alçá-lo à condição de “mártir”, inflamar a direita e beneficiar o eventual sucessor de Bolsonaro nesse campo, teme o governo. Entretanto, o cumprimento de penas pelos condenados por golpe de Estado e outros crimes, entre 2022 e 2023, já está em marcha: Mauro Cid, que era ajudante de ordens de Bolsonaro e assinou acordo de delação premiada com a justiça brasileira, retirou a pulseira eletrónica e começou a cumprir pena de prisão, embora em regime aberto, conforme combinado com autoridades em troca de informações. Cid está, porém, proibido de sair de Brasília e deve recolher a casa todos os dias até às 20 horas. A 11 de setembro, a primeira turma do STF, ou seja, cinco dos 11 juízes da corte, condenou Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão por liderar uma tentativa de golpe de Estado e mais quatro crimes em 2022 e 2023. A pena foi fixada em regime inicial fechado, ou seja, a ser cumprida numa prisão sem direito a saídas. O general Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice de Bolsonaro nas presidenciais de 2022, e demais seis réus do chamado “núcleo principal do golpe” também foram condenados..Brasil. Filho de Bolsonaro deixa direita em cacos a um ano das eleições