O otimismo e pressão do presidente dos EUA, Donald Trump, alimentam as negociações entre Israel e o Hamas em Sharm el-Sheikh, no Egito, para um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Mas, apesar de alguns avanços - esta quarta-feira (8 de outubro) foi apresentada a lista de prisioneiros palestinianos que serão libertados em troca dos reféns israelitas -, há pormenores do plano de 20 pontos para a paz que continuam tão difíceis hoje como nos últimos 24 meses. .Trump: "Médio Oriente? Talvez vá lá no final da semana. As negociações estão a progredir muito bem".Segundo o chefe da diplomacia turca, Hakan Fidan, as negociações estavam a correr bem e um cessar-fogo podia ser declarado a qualquer momento - talvez mesmo já esta quinta-feira (9 de outubro). Fidan alegou que “muitos progressos foram obtidos até agora” naquelas que são as quatro prioridades: a libertação dos 48 reféns israelitas (dos quais apenas 20 estarão ainda vivos) e de centenas de prisioneiros palestinianos, as linhas de retirada das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), a entrada de mais ajuda humanitária e as condições de um possível cessar-fogo. Segundo fontes ligadas aos mediadores do acordo, citadas pelo The Times de Israel, o plano pode passar por assinar já esta quinta-feira um acordo que permita a libertação dos reféns ainda com vida em troca de um cessar-fogo, que permitiria ao Hamas reunir os corpos dos outros reféns para a sua entrega a Israel. Esta seria a primeira fase do acordo, que Trump está a pressionar para que aconteça rapidamente - esta sexta-feira (10 de outubro) é anunciado o Nobel da Paz e o presidente ainda não perdeu a esperança de ser o galardoado.Mas há outras questões depois do cessar-fogo que serão mais difíceis de negociar, mesmo que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o Hamas aceitem a primeira fase do acordo. O futuro governo de Gaza é uma das questões mais complicadas, com o plano a falar de um organismo internacional de supervisão do Governo de transição e o Hamas a querer um Executivo completamente palestiniano. Talvez por isso um dos presos que quer ver libertado é Marwan al-Barghouti. Um dos líderes da Fatah (não é do Hamas), organizou as Intifadas contra Israel e é visto como possível sucessor de Mahmud Abbas, o atual presidente da Autoridade Palestiniana. Podia ser uma figura para unir os palestinianos de ambas as fações. Foi preso em 2002 e condenado a cinco penas de prisão perpétua, sendo que até agora Israel sempre recusou libertá-lo. Outro ponto complicado é o que vai acontecer ao grupo terrorista palestiniano, que aceitou desarmar, mas não dar provas disso e quer continuar a ter um papel no futuro. Nem Israel nem os aliados ocidentais, a começar pelos EUA, vão aceitar essa possibilidade. E depois há ainda a questão da retirada militar israelita do enclave: o Hamas quer que aconteça em simultâneo com a libertação do último refém, mas parece difícil que Israel aceite fazê-lo.O principal negociador do Hamas, Khalil al-Hayya (que sobreviveu ao ataque israelita em Doha) já disse que o grupo precisa de “garantias verdadeiras” de que o cessar-fogo será duradouro para libertar os reféns. “Um grande obstáculo nas atuais negociações é a implementação dos acordos. Precisamos de encontrar soluções práticas para garantir a rápida execução destes acordos”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Majed al-Ansari. Mas a pressão sobre Israel e sobre o Hamas para chegar a um acordo é maior do que nunca. Sinal disso é a chegada a Sharm el-Sheikh do enviado especial da Casa Branca para o Médio Oriente, Steve Witkoff, e do genro de Trump, Jared Kushner - que teve esse mesmo cargo durante o primeiro mandato e foi crucial para a criação dos Acordos de Abraão (que levaram ao estabelecer de relações entre Israel e vários países árabes). Kushner terá também sido um dos que preparou o plano de 20 pontos apresentado pelo presidente dos EUA. Além dos dois enviados norte-americanos, com ligações muito próximas a Trump que terá dito para não saírem do Egito sem um acordo, está em Sharm el-Sheikh o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed ben Abdelrahmane Al-Thani, e o responsável dos serviços secretos da Turquia, Ibrahim Kalin. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, indicou que Trump “pediu expressamente” a Ancara que convença o Hamas a concluir o acordo. A delegação israelita também já conta com o principal negociador e braço-direito de Netanyahu, o ministro dos Assuntos Estratégicos, Ron Dermer.Reunião em ParisAo mesmo tempo que decorrem as negociações indiretas no Egito, diplomatas europeus e árabes vão reunir-se esta quinta-feira (9 de outubro) em Paris para discutir a transição em Gaza e coordenar os esforços internacionais de apoio ao cessar-fogo permanente. Inicialmente falou-se que o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, também participaria no encontro. Mas a sua presença foi cancelada devido ao shutdown nos EUA. Washington estará contudo representado a nível diplomático. Quem não estará presente são representantes palestinianos ou israelitas, sendo que estes últimos já criticaram a reunião.“Vemos isto como mais uma tentativa do presidente [francês, Emmanuel] Macron de desviar as atenções dos seus problemas internos à custa de Israel. Espero que esta atitude não prejudique as negociações para a libertação de reféns, como já aconteceu no passado”, disse o chefe da diplomacia israelita, Gideon Sa’ar. O ministro referiu ainda que “convidar Governos hostis a Israel, como o espanhol, para discutir os seus assuntos é particularmente ultrajante”..Militares israelitas intercetam nova flotilha que tinha como objetivo a Faixa de Gaza.Hamas diz que já trocou com Israel listas de reféns e prisioneiros a libertar