A nível pessoal, o que é que o ataque terrorista do 7 de outubro representou para si?Para nós enquanto nação, mas também enquanto indivíduo, é um dia triste. E para mim, foi algo que disse num evento que tivemos no domingo, devemos sempre lembrar-nos, porque o ser humano está a tentar, como mecanismo de sobrevivência, suprimir essas memórias horríveis. Porque é muito difícil lembrarmo-nos das atrocidades. Mas devemos recordar o que estes bárbaros terroristas palestinianos nos fizeram nesse dia, quando invadiram Israel e assassinaram 1200 pessoas, violaram mulheres e queimaram vivas famílias inteiras, além de terem capturado 255 reféns.Dois anos depois, acha que o mundo abandonou as vítimas do ataque do Hamas, incluindo os 48 reféns ainda estão em Gaza?Talvez parte do mundo, sim. Nós não. Para nós, está vivo como se tivesse acontecido ontem. E continuaremos a lutar para que todos eles regressem. Em relação ao mundo, temos um amplo apoio em muitos locais, incluindo aqui em Portugal. Onde quer que vá, as pessoas vêm ter comigo, abordam-me e dizem-me o quanto me apoiam. E isso significa muito para mim e para nós. Penso que a maioria apoia Israel, e por vezes é uma maioria silenciosa, mas é uma maioria clara. Uma sinagoga foi atacada no Yom Kippur no Reino Unido, país onde o número de incidentes antissemitas está a aumentar…Acontece o mesmo em Portugal.Queria perguntar precisamente se em Portugal sente o mesmo?Não, não é o mesmo que noutros países. Penso que a grande maioria dos portugueses apoia o Estado de Israel, mas é lamentável ver aqui antissemitismo, porque uma coisa é criticar o governo de Israel, ou talvez apoiar os palestinianos, mas o antissemitismo é algo totalmente diferente. Portugal adotou a definição mais abrangente de antissemitismo, e de acordo com esta definição, anti-israelita, anti-sionismo é também antissemitismo. E sabemos que há pessoas que são racistas, antissemitas, e quando se manifestam contra Israel... Na verdade, é o mesmo ódio de sempre, mas com um novo rosto. E na manifestação [na quinta-feira] vimos pessoas a queimar a bandeira de Israel e a convocar uma Intifada, ou seja, terrorismo contra o Estado de Israel, e a clamar que Israel não deveria existir. Portanto, este é o mesmo ódio, e é inacreditável que, depois do 7 de Outubro, tenhamos este tipo de coisas aqui em Portugal.A imagem internacional de Israel deteriorou-se muito devido à guerra na Faixa de Gaza. Foram claras as críticas na Assembleia Geral da ONU, onde vários países reconheceram o Estado Palestiniano, incluindo Portugal. Como reage a estas críticas? Esse era o plano dos terroristas desde o início. Disseram: “Atacaremos Israel, faremos o que fizemos no dia 7 de Outubro e depois fugiremos novamente para Gaza, usaremos o nosso povo como escudos humanos e, quando os israelitas vierem procurar os seus reféns e tentar eliminar o Hamas, dependeremos de um jornalista do Diário de Notícias para perguntar aos israelitas sobre isso”. Esse era o plano desde o início. Israel caiu na armadilha? Não temos escolha nesta guerra. O Hamas começou esta guerra quando nos atacou a 7 de Outubro e o Hamas é quem pode pôr fim à guerra se aceitar o acordo oferecido pelo presidente [dos EUA, Donald] Trump. Devem libertar os reféns e desarmar-se.Tem esperança que seja possível chegar a um acordo? Os terroristas são terroristas. Eles não são pessoas simpáticas. Não se preocupam com os nossos reféns. Não se preocupam com os nossos civis. Mas também não se preocupam com os seus civis. Então, podem ser contra. E eles agora estão sozinhos. No início da guerra, contavam com a ajuda de países como o Qatar. Mas agora estão completamente sozinhos. A situação está a deteriorar-se para eles o tempo todo. Então talvez haja uma hipótese. Há uma pressão internacional. Quase todos os países muçulmanos e árabes apoiam este acordo. Então, estão sozinhos. Mas vamos ver. Estamos preparados para fazer o que for necessário para atingir os nossos objetivos na guerra. Os objetivos da guerra eram libertar os reféns, remover a ameaça terrorista e manter a segurança de Israel. Imaginou que, dois anos depois, ainda não teriam atingido estes objetivos? Podemos olhar para o copo meio vazio, mas também podemos olhar para o copo meio cheio. Há apenas um ano, tínhamos 60 mil pessoas totalmente deslocadas do norte de Israel. E também dezenas de milhares de pessoas totalmente deslocadas do sul, que não conseguiram regressar às suas cidades e aldeias. Agora, estão todas de volta. E há um ano, ainda tínhamos a ameaça do Hezbollah no Líbano. E agora a situação é que derrotámos o Hezbollah e forças internacionais e o povo libanês estão a lutar para o desarmar. Conseguimos isso. E destruímos completamente o exército sírio. Atacámos o Irão... Portanto, conquistámos muito. Ainda assim, tem razão, dois anos depois não atingimos plenamente os objetivos da nossa guerra em Gaza. Mas há um ano ainda tínhamos 198 reféns. Agora temos 48. Cada um deles representa o mundo para nós. Mas, ainda assim, tivemos algum sucesso. Eliminámos todos os líderes mais importantes do Hamas. Estão praticamente sem liderança. Mas eliminar uma organização terrorista até ao fim é difícil. Acha que as quase 70 mil mortes de palestinianos, mais de 19 mil delas crianças, justificam isso?Não há ligação entre as duas coisas. Precisamos de agir e estamos a lutar de acordo com o Direito Internacional Humanitário. Estes números são números do Hamas e devem ser tratados como tal. Não são verdadeiros. Acreditamos que, em geral, temos cerca de um terrorista morto por cada civil. Cada civil é uma tragédia. Mas a nossa proporção é melhor do que em qualquer outra luta nas áreas urbanas, especialmente na nossa guerra, quando usam o seu povo como escudos humanos. E para nós, cada morte de um civil é uma tragédia. Estou a falar de um civil palestiniano. E para eles, é a estratégia. Eles gostariam que isso acontecesse para que me fizesse essa pergunta.Como também vou perguntar das acusações de genocídio e de fome na Faixa de Gaza. Quer refutar?Estas alegações de genocídio não estão de acordo com aquilo que diz a convenção. Está longe disso. Porque, para que haja um genocídio, significa que queremos matar um determinado grupo. Neste caso esse grupo são os palestinianos. E não temos qualquer intenção de o fazer. Estamos a entregar muita ajuda humanitária a Gaza todos os dias. Em média, cada civil de Gaza recebeu mais de uma tonelada de ajuda humanitária desde o 7 de Outubro. Se quiséssemos matá-los a todos, é claro que não permitiríamos que isso acontecesse. Portanto, é claro, não há essa intenção. E, além disso, o número de bebés que nasceram na Faixa de Gaza desde 7 de Outubro é superior a 100 mil. Isto significa que a população de Gaza cresceu desde 7 de Outubro e não diminuiu. E sobre a situação humanitária em Gaza, não há fome. Ninguém morreu de fome em Gaza, nem uma única pessoa. Se reparar no que o próprio Hamas disse em maio passado, publicaram que 57 pessoas morreram de fome em Gaza desde 7 de Outubro. Portanto, quase dois anos depois, estão a falar de 57 pessoas. Se verificarmos estas pessoas, verificamos que todas elas tinham uma doença. Antes disso, havia centenas de crianças com uma doença semelhante devido a uma determinada situação cultural em Gaza. E estas crianças sempre correram o risco de problemas de saúde. Foram tratadas em hospitais israelitas antes da guerra. Por isso, posso garantir que ninguém morreu de fome em Gaza desde 7 de Outubro.Acha que um dia israelitas e palestinianos conseguirão viver em paz lado a lado? Estamos dispostos. Tentamos muitas vezes. Apenas queremos que vivam ao nosso lado em paz, sem vontade de nos matar. Isso falha repetidamente. Tentámos separar-nos da Faixa de Gaza em 2005. Saímos. Conseguiriam criar a Singapura do Médio Oriente. Mas, em vez de investirem o seu dinheiro na saúde e na educação do seu povo, decidiram investir na construção de túneis de terror e na compra de armas para atacar Israel. Esperamos que no futuro haja um governo, um governo palestiniano que queira viver em paz connosco. Mas não um Estado palestiniano?Já concordámos com um Estado no passado. Esse foi o Acordo de Oslo. E ele foi apoiado por muitos países. Fomos pressionados pelos europeus e americanos para isso. Dissemos desde o início que seria um enorme risco para a segurança de Israel. Mas os nossos parceiros na Europa, como Portugal, disseram-nos que não haveria qualquer risco. E que se houver risco, os europeus ajudar-nos-ão. Mas o que vemos é exatamente o contrário. O que dissemos que iria acontecer está a acontecer. Um risco enorme para Israel, tantas pessoas, pessoas inocentes, que foram mortas. E quando precisamos do apoio de países como Portugal, países amigos, recebemos exatamente o contrário. Este reconhecimento do Estado Palestiniano num momento difícil, em que precisamos de apoio, em que precisamos de solidariedade. Esta é a decisão do governo português. De que forma é que este reconhecimento por parte de Portugal prejudica a relação entre Portugal e Israel? O povo português e Israel têm relações complicadas. Lembramo-nos muito bem que aqui nas ruas de Lisboa, milhares e milhares de judeus foram assassinados por portugueses apenas por serem judeus. Para nós, é algo que está vivo na nossa memória e nos nossos corações. É por isso que considero que este reconhecimento do Estado Palestiniano por parte do governo de Portugal é um momento triste nas relações entre os países. É um prémio para o terrorismo. E não sou eu que o digo. Os dirigentes do Hamas disseram concretamente, um dos dirigentes do Hamas disse concretamente sobre Portugal, que o reconhecimento português do Estado Palestiniano é fruto do 7 de Outubro..Trauma e esperança. Dois anos após o ataque do Hamas a Israel, volta a falar-se de paz .Rawan Sulaiman: ”Acolhemos qualquer iniciativa que ponha fim ao genocídio”