Oposição bielorrussa. "A qualquer momento Lukashenko pode trair Prigozhin"

Líder da oposição da Bielorrússia considera que Lukashenko e Prigozhin "não são aliados" e que "não podem confiar um no outro".
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O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, pode trair Yevgeny Prigozhin, líder do grupo de mercenários Wagner, apesar de lhe ter oferecido refúgio após a rebelião armada na vizinha Rússia, afirmou a líder da oposição da Bielorrússia, Svetlana Tikhanovskaya, que está exilada.

"Eles não são aliados. Não podem confiar um no outro", disse na quarta-feira Tikhanovskaya em entrevista à AFP, em Bruxelas.

"A qualquer altura, Lukashenko pode trair Prigozhin" e "Prigozhin pode trair Lukashenko", frisou.

O líder bielorrusso disse na terça-feira que chefe dos mercenários do grupo Wagner tinha chegado ao país, no âmbito de um acordo que mediou para acabar com uma rebelião armada, que representou o maior desafio até agora do presidente russo, Vladimir Putin.

Tikhanovskaya, que reivindicou a vitória contra Lukashenko nas eleições presidenciais de 2020, afirmou que há muito para esclarecer sobre este acordo.

Considerou que a ajuda de Lukashenko ao seu principal aliado, Putin, foi um casamento de conveniência destinado a salvar o seu próprio regime na Bielorrússia. "Não agiu apenas para salvar a face de Putin, ou para salvar Prigozhin, ou para não deixar a guerra civil acontecer na Rússia", analisou.

"Ele apenas cuidou da sua sobrevivência pessoal, porque Lukashenko sabe que, se os poderes na Rússia estiverem em confronto, será ele o próximo", disse.

A líder da oposição, cujo marido está preso na Bielorrússia, disse que se Prigozhin e os combatentes do grupo Wagner se mudarem em massa para o pais, isso pode representar uma ameaça para a Europa.

"A presença do próprio Prigozhin ou de grupos da Wagner no nosso território cria uma ameaça ao povo da Bielorrússia em primeiro lugar e à nossa independência", realçou. "Além disso, a sua presença pode criar ameaças à Ucrânia e também aos nossos vizinhos ocidentais", acrescentou.

Prigozhin, um ex-aliado do Kremlin e fornecedor de serviços de catering, construiu o exército privado mais poderoso da Rússia e recrutou milhares de prisioneiros para lutar na Ucrânia.

Tikhanovskaya condenou a representação de Lukashenko como um "pacificador" depois de ter supostamente ajudado a resolver a crise na vizinha Rússia.

Alertou que Prigozhin poderá usar as forças do grupo Wagner para reprimir, ainda mais, qualquer dissidência após uma brutal campanha de repressão desde a disputada votação de 2020.

"Esta é a pessoa que trouxe violadores e assassinos para a nossa terra", disse Tikhanovksaya.
"O que estas pessoas irão fazer no nosso país? Essa é a grande questão. Como é que se vão comportar", questionou.

Tikhanovskaya criticou a "falta de atenção" do Ocidente à situação na Bielorrússia, já que o país está cada vez mais sob o domínio de Moscovo depois de Putin manifestar o seu apoio a Lukhashenko.

A líder da oposição bielorrrussa disse que o fracasso da comunidade internacional em reagir fortemente à transferência de armas nucleares da Rússia para a Bielorrússia encorajou Moscovo e Minsk.

"Ainda estamos à espera de uma resposta sobre o posicionamento de armas nucleares no nosso território", lamentou. "Quando o mundo se cala perante um momento tão significativo, isso é percebido pelos ditadores como fraqueza", argumentou.

Já se passou mais de um ano desde a última vez que a União Europeia (UE) impôs sanções ao regime bielorrusso pelo seu papel em ajudar Moscovo na invasão da Ucrânia.

A UE já tinha visado Minsk com repetidos pacotes de sanções devido à brutal repressão aos protestos.

Os estados membros da UE têm discutido novas medidas há meses, mas não conseguiram chegar a um acordo sobre as mesmas. Tikhanovksaya disse que a chegada do grupo Wagner à Bielorrússia pode dar um novo impulso para as novas medidas punitivas contra o regime de Lukhashenko.

"Agora os criminosos são bem-vindos por Lukashenko", disse a líder da oposição bielorrussa. "Novas sanções, podem ser impostas, por exemplo, contra aqueles que permitiram que isso acontecesse", destacou.

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