“Alexei foi morto pelo Putin”, lê-se num cartaz junto aos cravos na homenagem em Lisboa a Navalny.
“Alexei foi morto pelo Putin”, lê-se num cartaz junto aos cravos na homenagem em Lisboa a Navalny.LUSA/RUI MINDERICO

Onde está o corpo de Navalny?

Investigadores levaram o cadáver do opositor russo da colónia penal, com a família a exigir que seja entregue “imediatamente” e a acusar autoridades de quererem “ocultar provas”.
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A equipa de Alexei Navalny acusou este sábado a Rússia de querer “ocultas as provas” do assassinato do opositor russo ao recusar entregar o seu corpo à família. O Kremlin mantém o silêncio sobre este caso, apesar das acusações que apontam o dedo ao presidente Vladimir Putin e que vêm de fora, mas também de dentro da Rússia - centenas de pessoas foram detidas nas homenagens ao ativista anticorrupção em Moscovo. 

A porta-voz de Navalny, Kira Yarmysh, anunciou neste sábado de manhã que a mãe do opositor viajou até à colónia penal Kharp, no Ártico, onde este estava detido desde dezembro, sendo informada que ele morreu na sexta-feira às 14.17 locais (9.17 em Lisboa) e que o corpo foi levado pelos investigadores para a cidade vizinha de Salekhard. 

A tese das autoridades é que o ativista, de 47 anos, se sentiu mal após uma caminhada, acabando por morrer. “Navalny foi assassinado”, escreveu nas redes sociais Yarmysh, exigindo que o corpo seja entregue “imediatamente” à família. 

A mãe e o advogado do opositor seguiram então até à morgue de Salekhard, encontrando-a fechada. Segundo a porta-voz, a colónia penal insistiu que estava aberta e que ele estava lá, com o advogado a ligar para um número de telefone que estava na porta e a ser informado que o corpo não estava ali. 

Outro advogado foi até à Comissão de Investigação de Salekhard, tendo-lhe sido dito que a causa de morte ainda não tinha sido estabelecida e que estavam a decorrer as investigações. A informação dada ao advogado era que os resultados seriam revelados para a semana. “É óbvio que estão a mentir e estão a fazer todo o possível para evitar entregar o corpo”, escreveu Yarmysh.

Numa outra mensagem, mais tarde, a porta-voz diz que os investigadores disseram que não entregariam o corpo até a investigação acabar. E depois foram informados que esta estava concluída e nada de “criminoso” tinha sido detetado. “Eles literalmente mentem todas as vezes, conduzem-nos em círculos e encobrem os seus rastos.” Especialistas da ONU pediram uma autópsia independente. 

Os aliados de Navalny acreditam que o seu corpo está a ser retido de propósito pelas autoridades russas, para poderem “ocultar as provas” da sua verdadeira causa de morte, insistindo para que seja entregue de imediato à família. A morte do opositor causou indignação em todo o Ocidente, com a União Europeia, os EUA e a NATO a acusarem Putin de ser responsável. 

Neste sábado, a viúva do antigo espião russo Alexander Litvinenko (envenenado em 2006 com polónio 210) disse numa entrevista à AFP que a morte de Navalny deve obrigar os países ocidentais “a passar das palavras aos atos” no que diz respeito a Putin. “Compreendo perfeitamente como Yulia se pode sentir depois do que aconteceu ao seu marido”, disse Marina Litvinenko.

“Foi um dia muito triste, não só para a família de Nalvalny - a sua mulher, filho e filha - , mas também para muitos russos que sonham com um futuro melhor para o seu país”, sublinhou. “A única forma de ajudar a oposição russa a derrubar o regime de Putin é apoiar a Ucrânia”, defendeu Marina, acreditando que só uma vitória ucraniana poderia “encorajar os cidadãos russos a exigir mudanças”.

susana.f.salvador@dn.pt

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