Observatório sírio denuncia “tentativa de encobrir” massacres
O Ministério da Defesa sírio anunciou esta segunda-feira o fim das operações militares nas regiões costeiras de Latakia e Tartus, palco de pelo menos 40 massacres que resultaram na morte de mais de mil civis da minoria alauita nos últimos dias. Mas o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, grupo de monitorização baseado em Londres, alega que a violência continua e que foi lançada uma operação de limpeza para esconder a verdade. O presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, disse numa entrevista à Reuters que estes ataques ameaçam a sua missão de unir o país e prometeu punir os responsáveis, incluindo os próprios aliados se necessário.
A violência foi desencadeada na quinta-feira, quando militantes aliados do antigo regime de Bashar al-Assad (que foi deposto em dezembro e fugiu para Moscovo) atacaram as forças de segurança do novo governo. Em retaliação, os membros da minoria alauita (à qual pertence Assad) foram atacados, em atos de vingança alegadamente perpetrados pelas forças de segurança e aliados, após anos de repressão (os alauitas tinham um papel de liderança no anterior regime).
“A Síria é um Estado de Direito. A lei seguirá o seu curso para todos”, disse Al-Sharaa à Reuters. “Lutámos para defender os oprimidos e não vamos aceitar que qualquer sangue seja derramado injustamente ou fique sem punição ou responsabilização, mesmo entre os que nos são mais próximos”, acrescentou o presidente interino, que estava à frente do grupo rebelde que liderou o golpe contra Assad.
Al-Sharaa alega que militantes próximos do irmão do ex-presidente, Maher, e um “poder internacional aliado” - não o disse, mas suspeita-se do Irão - desencadearam a violência para “fomentar a agitação e criar discórdia”.
Após derrubar Assad, Al-Sharaa prometeu governar para todos, tentando acalmar a comunidade internacional em relação ao seu passado ligado à Al-Qaeda.
Al-Sharaa anunciou no domingo a criação de uma comissão de inquérito independente para investigar a violência. Mas segundo o diretor do Observatório, Rami Abdulrahman, “as provas [dos massacres] estão agora a ser removidas ao lavar as ruas e os edifícios e ao transportar os corpos, numa tentativa de encobrir a verdade”. E alegou que a comissão passou despercebida em algumas zonas costeiras.
Segundo o último balanço do Observatório, mais de 1500 pessoas morreram nos últimos dias, incluindo 1068 civis que foram executados (a maioria alauitas, mas não só). Milhares de pessoas fugiram para as montanhas e até para o vizinho Líbano, com algumas dezenas a tentarem procurar refúgio na base aérea militar russa de Khmeimim (a Rússia apoiava o anterior regime e ainda está a negociar com o novo Governo a manutenção das duas bases).