Donald Trump “quer continuar a rebentar com barcos até que [Nicolás] Maduro se renda”. A frase é da chefe de gabinete do presidente dos EUA, Susie Wiles, citada pela revista Vanity Fair, que contradiz a ideia de que o objetivo dos ataques a lanchas alegadamente carregadas de droga no Mar das Caraíbas e no Pacífico é lutar contra o narcotráfico. O objetivo é a queda do regime venezuelano e Trump não está disposto a esperar muito, tendo agora declarado o “bloqueio total e completo de todos os petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela”.A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo (estimadas em mais de 300 mil milhões de barris), com a empresa estatal PDVSA a alegar que só no Cinturão Orinoco haverá ouro negro suficiente para satisfazer a procura mundial durante três séculos. Em 1998, antes de o falecido líder Hugo Chávez chegar ao poder, o país chegou a produzir 3,1 milhões de barris diários. O petróleo é a base de toda a economia venezuelana e as sanções impostas no primeiro mandato de Trump (2017-2021), em conjunto com a perda de mão de obra qualificada, má gestão e corrupção dos anos anteriores, levaram o setor ao seu ponto mais baixo. Mas o último ano tem sido de recuperação, depois de a administração de Joe Biden ter dado no final de 2022 licenças à americana Chevron (e a outras empresas estrangeiras) para exportar petróleo venezuelano.Em janeiro, a produção ultrapassou o milhão de barris diários pela primeira vez desde junho de 2019. Trump alterou os termos do contrato com a Chevron e revogou o de outras empresas, mas não cortou a torneira. E a produção aumentou mais 10% desde então, chegando aos 1.142.000 barris por dia em novembro, segundo os dados oficiais citados pela agência espanhola EFE. Agora, o presidente dos EUA resolveu subir a parada, como parte da pressão sobre Maduro. “A Venezuela está completamente cercada pela maior armada alguma vez reunida na história da América do Sul”, escreveu Trump na Truth Social, na terça-feira à noite, ordenando o “bloqueio total e completo de todos os petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela”..No dia 10, os EUA já tinham apreendido um destes navios, num ato que Caracas considerou de “pirataria” e de “roubo descarado”. Desde que Trump impôs sanções no seu primeiro mandato, que Maduro tem recorrido a uma frota de “navios sombra” ou “navios fantasma” (cuja origem é difícil de determinar) para vender o petróleo venezuelano - estima-se que mais de 30 dos 80 navios que na semana passada navegavam nas águas venezuelanas estavam sancionados pelos EUA.Na sua mensagem nas redes sociais, Trump exige ao “regime ilegítimo de Maduro” que devolva “todo o petróleo, terras e outros bens que nos roubaram”, não sendo claro ao que se refere. Alega ainda que o líder venezuelano está a usar o “petróleo roubado para se financiar a si próprio, ao tráfico de droga, ao tráfico humano, a assassinatos e raptos”. O governo venezuelano respondeu a esta “ameaça temerária e grave” num comunicado partilhado no Instagram pela vice-presidente, Delcy Rodríguez, acusando Trump de querer “roubar as riquezas que pertencem à nossa pátria”. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, reiterou que as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas vão preservar “a todo o custo” a integridade territorial e o sistema “constitucional e democrático” do país.A Venezuela denuncia ainda uma “grave violação do Direito Internacional”, anunciando que se vai queixar junto da ONU. E apela à comunidade internacional para rejeitar as pretensões norte-americanas. Segundo o chefe da diplomacia venezuelano, Yván Gil, a China já declarou o seu “apoio firme” a Caracas, tal como a Rússia..Tensão crescente2 de setembro - Após destacarem vários navios de guerra no mar das Caraíbas, os EUA atacam uma lancha que saiu da Venezuela alegadamente com drogas. Morreram 11 pessoas, algumas num segundo ataque, especialmente criticado. Até agora, já foram destruídas 28 lanchas e morreram 95 pessoas, incluindo no Pacífico. A Venezuela respondeu pondo as suas tropas e milícias em alerta.21 de novembro - O presidente dos EUA, Donald Trump, fala ao telefone com o venezuelano, Nicolás Maduro. Terá feito um ultimato para este deixar o país, apesar de publicamente dizer que não está a procurar a queda do regime. 24 de novembro - A administração declara o Cartel de los Soles, que diz ser liderado por Maduro, organização terrorista internacional. Desde 2020 que Maduro é acusado de narcoterrorismo, havendo uma recompensa de 50 milhões de dólares por informações que levem à sua captura. Dias depois, Trump ordena o fecho do espaço aéreo venezuelano.5 de dezembro - EUA publicam a nova Estratégia de Segurança Nacional, que reativa a Doutrina Monroe, que remonta ao século XIX. Declara o Hemisfério Ocidental como a zona de influência dos EUA e “perímetro de segurança imediato” na luta contra cartéis, imigração e influência estrangeira (de olho na China). 10 de dezembro - EUA apreendem um petroleiro alvo de sanções ao largo da Venezuela, assim como os 1,8 milhões de barris de petróleo que transportava. No dia 16, Trump ordenou o bloqueio total a estes navios sancionados.