De ajudar a orquestrar a interferência nas eleições ocidentais ao recrutamento de prisioneiros para lutar como mercenários na Ucrânia, Yevgeny Prigozhin, de 61 anos, está a emergir como um dos homens mais leais e ambiciosos do presidente russo. Natural de São Petersburgo, como Vladimir Putin, após anos a operar nas sombras, está a tornar-se cada vez mais uma figura pública que os analistas dizem estar de olho num papel político na Rússia..Na véspera das eleições de dia 8 nos EUA, Prigozhin - que recentemente se assumiu como o homem por detrás do esquivo mas poderoso grupo mercenário Wagner - admitiu também ter tentado alterar o resultado destas e de anteriores votações na América. "Senhores, interferimos, estamos a interferir e vamos interferir", disse. "Cuidadosamente, precisamente, cirurgicamente", prosseguiu, numa declaração interpretada como uma provocação..Sancionado por Washington e Bruxelas, Prigozhin foi acusado de dirigir uma "fábrica de trolls" online para se intrometer em eleições realizadas em vários países ocidentais..Em setembro, admitiu ter fundado o grupo Wagner cujos combatentes estiveram na vanguarda da ofensiva de Moscovo na Ucrânia. Este mês, o grupo Wagner abriu a primeira sede em São Petersburgo. Durante anos, Prigozhin rejeitara com irritação as alegações de que estava ligado ao Wagner e o Kremlin tinha também negado quaisquer ligações..A presença do grupo foi notada em zonas de conflito, incluindo a Síria, Líbia, Mali, e República Centro-Africana, onde foi acusado de abusos e captura do poder estatal..Em setembro, surgiu um vídeo de um careca com forte semelhança com Prigozhin num pátio de uma prisão, oferecendo contratos a reclusos para lutar na Ucrânia com um conjunto arrepiante de condições. "Se chegar à Ucrânia e decidir que não é para si, consideraremos isso como deserção e dar-lhe-emos um tiro. Alguma pergunta, rapazes?" disse o homem. "Ninguém se entrega", ordenou, acrescentando que os recrutas deveriam levar granadas em caso de captura. "Se morrerem, o vosso corpo será repatriado para o local que escreveram no formulário.".Não foi possível verificar se o homem era Prigozhin, mas a sua empresa Concord não negou. "Claro que se eu fosse um prisioneiro sonharia em juntar-me a esta equipa amigável para poder não só redimir a minha dívida para com a Pátria, mas também pagá-la com juros", afirmou ele..Prigozhin veio de um meio modesto para se tornar parte do círculo de Putin. Passou nove anos na prisão no período final da URSS, condenado por fraude e roubo. No caos dos anos 90, iniciou um negócio de sucesso moderado na venda de cachorros-quentes. A partir daí, entrou no negócio dos restaurantes e abriu um de luxo em São Petersburgo cujos clientes incluíam Putin, fazendo depois a transição do trabalho no KGB para a política local. A empresa de restauração que fundou a certa altura trabalhou para o Kremlin, ganhando Prigozhin o nome de "chef de cozinha de Putin"..Prigozhin tem sido descrito como um bilionário com fortuna construída graças a contratos estatais, embora a extensão da sua riqueza seja desconhecida. Uma das imagens mais conhecidas mostra-o no Kremlin em 2011, debruçando-se sobre um Putin sentado e oferecendo-lhe um prato enquanto o líder russo espreita para trás com olhar de aprovação..Sofreu sanções económicas de Washington, que o acusou de ter desempenhado um papel de ingerência nas presidenciais de 2016, em particular através da sua "fábrica de trolls" na internet. Na altura, Prigozhin negou qualquer envolvimento e em 2020 pediu 50 mil milhões de dólares em compensação aos Estados Unidos..Em julho de 2018, três jornalistas russos que investigavam as operações do grupo Wagner na República Centro-Africana para o órgão de comunicação de investigação Dossier foram mortos numa emboscada..Os países ocidentais acusaram o grupo de combate privado de ter ido em auxílio da junta militar do Mali, numa iniciativa que contribuiu para a decisão da França de pôr fim a uma operação militar quase com uma década de duração..Prigozhin foi invulgarmente falador após o envenenamento do líder da oposição Alexei Navalny, que adoeceu num voo na Sibéria, tendo sido transferido para a Alemanha em 2020. Os dois nunca fizeram segredo da sua inimizade, com o grupo anticorrupção da Navalny a acusar uma empresa que trabalhava com a Concord de servir comida nas escolas perigosa para a saúde das crianças..Prigozhin processou Navalny, entretanto condenado e a cumprir pena de prisão, por difamação e um tribunal ordenou que o grupo de ativistas pagasse mais de um milhão de dólares em indemnizações. "Tenciono despojar este grupo de pessoas sem escrúpulos das suas roupas e sapatos", afirmou então.