Donald Trump aplicou a máxima pressão ao Hamas e também alguma a Israel com as visitas do seu amigo Steve Witkoff e do genro Jared Kushner, na segunda-feira, e do seu número dois, J.D. Vance, na terça-feira, para que estes mantenham o frágil cessar-fogo. O próprio presidente, à distância, disse ter recebido o contacto de vários líderes a voluntariar as suas tropas para intervir em Gaza com “força pesada”, uma oferta para já rejeitada pelo norte-americano. “Ainda não! Ainda há esperança de que o Hamas faça a coisa certa. Se não o fizerem, o fim do Hamas será rápido, furioso e brutal”, ameaçou. Acompanhado da mulher, o vice-presidente dos Estados Unidos está de visita a Israel até quarta-feira, no que diz ser uma viagem que queria fazer há meses, e não relacionada com os acontecimentos das últimas horas, com trocas de acusações e de tiros entre Hamas e Israel. “Queria saber como é que as coisas estão a correr”, afirmou Vance. Uma explicação que não convenceu alguns observadores, mais inclinados para a tese de que o acordo, para não cair em saco roto, precisa de acompanhamento e de pressão ao mais alto nível, no que do lado israelita foi cunhado de “Bibisitting”, referência à atividade de guarda dos bebés e ao diminutivo pelo qual Benjamin Netanyahu é conhecido, como nota a The Economist. Do outro lado, advertindo o Hamas de que será destruído caso falte ao compromisso - repetindo a ameaça do governo israelita -; mas ao mesmo tempo ao concordar com o grupo islamista de que a devolução de corpos enterrados em ruínas exige tempo e paciência. “As coisas estão francamente melhor do que eu pensava”, considerou Vance, tendo ainda afirmado em conferência de imprensa estar “otimista”. .Israel demarca linha amarela na Faixa de Gaza antes da chegada de JD Vance.Ao mesmo tempo, o vice-presidente dos EUA fez questão de gerir as expectativas, ao comentar que a execução do plano de paz “vai levar muito, muito tempo”. E com um enorme ponto de interrogação sobre o futuro do enclave no que respeita à sua governação: “Não sei a resposta a essa pergunta. Uma vez que tenhamos atingido o ponto em que os habitantes de Gaza e os nossos amigos israelitas possam ter algum grau de segurança, então preocupamo-nos com o que o futuro de longo prazo trará.” Sobre a reconstrução, Jared Kushner, que é empresário imobiliário, informou que os EUA e países aliados desenvolvem planos para iniciar as obras em Gaza, mas apenas em áreas fora do controlo do grupo que deu recentes provas de manter a capacidade para reprimir a população com os seus métodos, ao executar palestinianos acusados de colaborar com Israel ou de pertencerem aos clãs que emergiram durante a guerra. “Fundo de reconstrução algum será destinado a áreas ainda controladas pelo Hamas”, disse. A restante área do enclave, cerca de metade, ainda sob controlo militar israelita, “daria aos palestinianos que vivem em Gaza um lugar para ir, para conseguir emprego, para viver”, disse o homem que vendeu a Trump a ideia de fazer de Gaza uma Riviera do Médio Oriente. J.D. Vance reúne-se nesta quarta-feira com Netanyahu depois de ter visitado a sede da defesa israelita, bem como o centro de coordenação de monitorização do cessar-fogo.Força de estabilização só no papel O plano de 20 pontos de Trump prevê o destacamento de uma “força internacional de estabilização temporária” na Faixa de Gaza à medida que o exército israelita se retire, no entanto, os países árabes e muçulmanos estão receosos de tornar o compromisso em realidade, avança o The New York Times. Ao que as fontes disseram, os países envolvidos querem saber com rigor qual o âmbito da missão. Alguns, por exemplo, recusam entrar em confronto com o Hamas, enquanto outros não estão dispostos a que os seus homens patrulhem o centro de cidades para não virem a ser vítimas de armadilhas do movimento islamista através da sua rede de túneis. Outra fonte diz que esses países também aguardam um convite da Palestina e um mandato da ONU. O objetivo da missão é tornar seguras as áreas de onde as tropas israelitas se retiraram, impedir a entrada de armas munições no território, facilitasse a distribuição de ajuda e treinar uma força policial palestiniana.