Foi um encontro mais longo do que o esperado - cerca de uma hora e meia, em vez da hora prevista - e terminou com o mesmo silêncio com que começou. Sem declarações aos jornalistas, fica para a história o aperto de mão e os sorrisos nas fotografias no início da reunião em Bruxelas entre o atual presidente da Generalitat, o socialista Salvador Illa, e o ex-líder catalão independentista Carles Puigdemont, que fugiu à justiça espanhola em 2017 e aguarda que a amnistia entretanto aprovada lhe seja aplicada.O silêncio diante dos jornalistas, foi quebrado nas redes sociais. “O diálogo é o motor da democracia para que a Catalunha continue a progredir. Hoje, damos um bom exemplo”, escreveu Illa no X, partilhando fotos do encontro com Puigdemont. .Este respondeu: “Agradeço a gentileza e a conversa. Numa situação de normalidade democrática, esta reunião deveria ter tido lugar há muitos meses, e não em Bruxelas, mas no Palácio da Generalitat, na capital da Catalunha. Hoje, mais uma vez, tornou-se claro que não vivemos numa situação de normalidade.”.O independentista, que vive no exílio na Bélgica, chegou à Delegação do Governo da Catalunha na União Europeia a pé, dez minutos antes da hora do encontro. Lá dentro já estava Illa, que tinha chegado de carro uma hora antes. Depois dos cumprimentos frente aos fotógrafos, os dois tiveram a reunião à porta fechada, que o presidente da Generalitat apresentou como parte da “normalidade institucional”. Há pouco mais de um ano no cargo, o socialista reuniu logo nos primeiros três meses com todos os antecessores - exceto Puigemont. Agora, disse que era a hora de se reunir com o independentista exilado porque o Tribunal Constitucional deu o seu aval à lei da amnistia. O Supremo Tribunal espanhol não levantou contudo o mandado de captura contra Puigdemont, alegando que a amnistia não inclui o crime de peculato de que também é acusado. .Puigdemont recebe Illa em Bruxelas à espera de Sánchez.À saída do encontro, Puigdemont partiu num carro com matrícula 1-O-2017 (uma referência à data do referendo independentista de 1 de outubro), que já tinha usado noutras ocasiões, segundo o jornal La Vanguardia. Illa seguiu para a inauguração de uma exposição no Parlamento Europeu sobre o milénio do Mosteiro de Montserrat. O encontro pode fazer parte da “normalidade institucional”, mas é visto como um passo para uma outra reunião: entre o independentista catalão e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. Esta terça-feira (2 de setembro), a ministra das Finanças espanhola, María Jesús Montero, disse que o encontro entre Illa e Puigdemont vai ao encontro da vontade de “continuar a ganhar confiança” entre as formações políticas, algo que diz ser bom “para a convivência e o diálogo”. Negou contudo que na reunião em Bruxelas fosse discutido o orçamento de Estado - Sánchez precisará do aval do Junts per Catalunya de Puigdemont. Outro gesto dos socialistas para com os independentistas catalães terá sido a decisão do Congresso espanhol de não realizar plenário no próximo dia 11 de setembro, quando se assinala o Dia Nacional da Catalunha. O pedido oficial foi feito pelo PSOE, com fontes socialistas a dizerem ao El País que partiu inicialmente do Junts. O PP votou contra. O facto de não haver plenário permite aos deputados catalães viajarem até à Catalunha para os eventos que assinalam o dia nacional.No dia em que Illa se encontrou com Puigdemont, o Governo espanhol deu também o primeiro passo para o perdão de parte das dívidas das regiões autonómicas. A oposição alega que a Catalunha será a principal beneficiada - a proposta surge após negociação com os independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC). “É uma armadilha e uma mentira. A dívida não desaparece, permanece, e a única coisa que acontece é que todos os espanhóis vão pagar a má gestão dos governos pró-independência”, indicou o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo.Em causa está o perdão de mais de 83 mil milhões de euros em dívida para todas as comunidades que o solicitem - algumas, lideradas pelo PP, já disseram que não o farão. A poupança estimada será de 6500 a sete mil euros, com a ministra da Educação e porta-voz do Governo, Pilar Alegría, a explicar que a ideia é permitir a todas as comunidades poupem no pagamento de juros e destinem esse dinheiro a serviços como a educação ou a saúde.