Nove mil crianças morreram em residências da Igreja para mães solteiras na Irlanda

Governo irlandês decidiu apresentar desculpas formais pelo escândalo. Muitas destas crianças foram enterradas em valas comuns. Os casos passaram-se até 1998.
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O Governo irlandês vai apresentar desculpas formais pelos abusos registados em residências administradas pela Igreja para mulheres solteiras grávidas, onde 9.000 crianças morreram e por vezes foram enterradas em valas comuns, segundo um relatório oficial publicado hoje.

O primeiro-ministro, Micheál Martin, disse hoje que o relatório descreve "um capítulo obscuro, difícil e vergonhoso da história irlandesa muito recente" a qual teve "consequências reais e duradouras para muitas pessoas".

Um pedido de desculpas está programado para ser apresentado por Martin no parlamento na quarta-feira, mas poderá ser adiado, segundo a estação RTÉ. .

Uma Comissão criada para o efeito investigou durante cinco anos o funcionamento de 18 residências espalhadas pelo país durante 76 anos, entre 1922 e 1998, por onde terão passado cerca de 56 mil mulheres solteiras e 57 mil crianças.

"As mulheres eram admitidas (...) porque não conseguiram garantir o apoio da sua família e do pai do filho. Elas eram forçadas a sair de casa e procurar um lugar onde pudessem ficar sem ter que pagar. Muitos eram indigentes. Mulheres entravam nas residências porque que receavam que as famílias ou vizinhos soubessem da gravidez", lê-se no documento.

A maioria dos casos foram registados nos anos 1960 e 1970 e, embora a situação não fosse inédita, a Irlanda a proporção de mães solteiras irlandesas que foram admitidas neste tipo de instituições no século 20 foi "provavelmente a mais alta do mundo".

Muitas das mulheres eram jovens cujas gravidezes fora do casamento eram consideradas "ilegítimas" por uma sociedade conservadora devota à Igreja Católica, sendo encaminhadas pelas próprias famílias em segredo para as residências, que se encarregavam de dar os bebés para adoção.

A Comissão descobriu identificou cerca de 9.000 mortes, o que equivale a perto de 15% do total das crianças que passaram pelas instituições, uma taxa de mortalidade muito superior à média nacional.

O inquérito foi aberto em 2015 na sequência do trabalho da historiadora Catherine Corless, que afirmou que quase 800 crianças nascidas numa dessas residências, a casa de Santa Maria das irmãs Bon Secours de Tuam (oeste da Irlanda), foram enterradas numa vala comum entre 1925 e 1961.

A República da Irlanda foi um dos últimos países ocidentais a legalizar o aborto, após um referendo em 2018.

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