O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, prometeu esta quinta-feira vingança, depois de o Hamas ter feito da entrega dos corpos de quatro reféns mais um ato de propaganda. Israel uniu-se em luto para receber três membros da família Bibas - Shiri e os dois filhos, Ariel e Kfir (este último tinha apenas 9 meses quando foi levado para a Faixa de Gaza nos ataques de 7 de outubro de 2023) - e o pacifista Oded Lifshitz.“Agonia. Dor. Não há palavras. Os nossos corações - os corações de uma nação inteira - estão em farrapos. Em nome do Estado de Israel, inclino a cabeça e peço perdão. Perdão por não vos ter protegido naquele dia terrível. Perdão por não vos ter trazido para casa em segurança. Que a memória deles seja uma bênção”, escreveu o presidente israelita, Isaac Herzog, no X. .Na mesma rede social, mas num vídeo, Netanyahu falou de “uma tristeza demasiado pesada para suportar” e de uma “dor misturada com raiva”. O primeiro-ministro disse que os israelitas estão “todos indignados com os monstros do Hamas” e defendeu ainda que Israel deve “acertar as contas com os assassinos depravados”, prometendo que o fará. “Vamos trazer de volta todos os reféns, destruir os assassinos, eliminar o Hamas e juntos, com a ajuda de Deus, vamos garantir o nosso futuro”, prometeu. .Horas antes, em mais um ato de propaganda que as Nações Unidas apelidaram de encenação “abominável e cruel”, o grupo terrorista palestiniano colocou os caixões negros dos quatro reféns (cada um com uma pequena foto) num palco em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza. Atrás, uma imagem dos quatro com o “vampiro” Netanyahu e a mensagem em árabe, hebraico e inglês: “O criminoso de guerra Netanyahu e o seu Exército nazi mataram-nos com os mísseis dos aviões sionistas.” No palco, rodeado de terroristas armados, estavam também dois falsos mísseis com a frase: “Eles foram mortos pelas bombas dos EUA.” Noutra imagem, a promessa de entregar mais reféns mortos se houver o reatar dos combates.. O representante da Cruz Vermelha subiu ao palco para assinar junto de um militante do Hamas de rosto tapado os papéis da entrega dos reféns, com os caixões a serem depois colocados em diferentes veículos - com a organização a usar biombos para tentar dar alguma privacidade a esse momento, quando cobriu os caixões com um lençol branco.A Cruz Vermelha defendeu mais tarde a sua “missão humanitária vital” nestes momentos. “Esclarecemos inequivocamente que qualquer libertação - de reféns vivos ou que já não estejam vivos - deve ser realizada de forma respeitosa e privada”, indicou a organização em comunicado, censurando o Hamas. Na próxima quinta-feira está prevista a entrega de mais quatro corpos.Ainda em Gaza, os corpos foram entregues às Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), que realizaram uma pequena cerimónia - o rabino chefe das IDF, Eyal Karim, leu o Salmo 83 da Torá (uma oração sobre Israel e os inimigos que cercam o país). . Os caixões, cobertos com a bandeira israelita e após ser confirmado que não tinham explosivos, foram transportados para o Instituto de Medicina Forense, em Telavive, para serem realizadas as autópsias e confirmadas as identidades. No exterior, centenas de pessoas cantaram o hino israelita à passagem dos veículos. A família de Oded Lifshitz, um pacifista que tinha 83 anos quando foi levado do kibbutz Nir Oz (de que foi um dos fundadores) durante os ataques de 7 de outubro de 2023, foi a primeira a anunciar que se confirmava a sua identidade. O gabinete do primeiro-ministro disse mais tarde que ele foi morto em cativeiro pela Jihad Islâmica. O diretor do Instituto Forense, Chen Kugel, acrescentou mais tarde que foi morto há mais de um ano.Os médicos trabalhavam para conseguir identificar Shiri Bibas, de 32 anos, e os filhos ainda ontem. O Hamas anunciou, no final da trégua em novembro de 2023, que os três tinham morrido num bombardeamento israelita. Uma mensagem que repetiu na encenação de ontem. Israel nunca confirmou essa informação.O dia de luto culminou numa homenagem na Praça dos Reféns em Telavive, com cerca de 1500 pessoas. Após um mês de esperança e júbilo, à medida que os reféns iam sendo libertados com vida (apesar de muitos voltarem extremamente fracos), a tristeza tomou conta da praça desde cedo. Além dos cartazes com os rostos dos reféns, o espaço encheu-se de bandeiras israelitas, que dentro da estrela de David tinham o laço amarelo, e de balões cor de laranja - símbolo do cabelo ruivo das crianças Bibas. O pai, Yarden, raptado também, foi libertado a 1 de fevereiro. “As massas de Israel estão furiosas. A reparação e a cura da nação não vão começar até que os últimos reféns estejam em casa ou nos seus túmulos”, disse o pai de Ori Danino, um dos reféns cujo corpo foi recuperado em setembro. .Bombas explodem em três autocarros vazios em Telavive. Autoridades suspeitam de ataque terrorista.Seis reféns a libertarEste sábado o Hamas irá libertar os últimos seis reféns que ainda estão vivos do grupo de 33 que se comprometeu a libertar na primeira fase do acordo de cessar-fogo. Omer Shem Tov: O luso-israelita, de 22 anos, é um dos que será libertado. Foi levado do Festival Nova a 7 de outubro de 2023. Filho de um cidadão português, de origem sefardita, estava em processo de obtenção da nacionalidade, que já terá sido dada, revelou a embaixadora de Portugal em Israel à família, segundo a Comunidade Israelita do Porto. Eliya Cohen: Tem 27 anos e estava com a namorada no Festival Nova, tendo sido atingido a tiro na perna. Os dois esconderam-se sob uma pilha de corpos num abrigo, mas Eliya acabou por ser levado pelos terroristas.Tal Shoham: Com dupla cidadania israelita e austríaca, estava a visitar a família no kibbutz Be’eri quando foi levado pelo Hamas com a mulher, os dois filhos e a sogra (o sogro foi morto durante o ataque). A família foi libertada logo em novembro de 2023. Tem 39 anos. Omer Wenkert: Tem 23 anos e também foi levado do Festival Nova. O último sinal de vida que a família recebeu foi em novembro de 2023, quando o primeiro grupo de reféns foi libertado. Sofre de colite e estava muito magro. Hisham Al-Sayed: Beduíno do deserto de Negev entrou voluntariamente em Gaza em abril de 2015, quando tinha 28 anos. Sofria de problemas mentais e foi capturado pelo Hamas. Última prova de vida remonta a 2022.Avera Mengistu: É refém desde setembro de 2014. Tal como Hisham, tinha problemas mentais e entrou pelo próprio pé em Gaza aos 28 anos, sendo apanhado por uma patrulha do Hamas.