O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, insistiu esta quarta-feira, 3 de julho, que o “Hamas não existirá”, parecendo entrar em contradição com o presidente norte-americano que disse na terça-feira à noite que Israel tinha aceitado “as condições necessárias para finalizar o cessar-fogo de 60 dias” na Faixa de Gaza. O Hamas estava a analisar a “proposta final” dos EUA, mostrando-se aberto a aceitar um acordo que preveja o fim da guerra. Donald Trump escreveu na Truth Social que durante os 60 dias do cessar-fogo, os EUA e os outros mediadores vão trabalhar com “todas as partes para acabar a guerra”. O presidente indicou que Qatar e Egito iam entregar ao grupo terrorista palestiniano a proposta, desenhada após um encontro de membros da sua Administração com o ministro israelita dos Assuntos Estratégicos, Ron Derner, que esteve em Washington. “Espero, pelo bem do Médio Oriente, que o Hamas aceite este acordo”, ameaçando que as coisas “só podem ficar piores”.Mas nem Israel nem o Hamas se mostraram tão positivos como Trump num avanço das negociações. “Não haverá mais o Hamas. Não haverá um Hamastão. Não vamos voltar a isso. Acabou”, disse Netanyahu. “Vamos libertar os reféns, junto com a destruição do Hamas. Ao contrário do que é dito, não há objetivos contraditórios”, acrescentou. Em véspera de viajar para Washington para o terceiro encontro com o presidente norte-americano (está previsto para segunda-feira), o primeiro-ministro israelita enfrenta a oposição da extrema-direita dentro da sua própria coligação de governo. O ministro Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) estará à procura do apoio de Bezalel Smotrich (Finanças) para bloquear o acordo. .Trump afirma que Israel aceitou cessar-fogo de 60 dias em Gaza e intima Hamas. O chefe da diplomacia, Gideon Saar, escreveu no X que a “maioria” dentro da coligação apoiaria o governo num acordo que permita a libertação dos últimos reféns. A oposição liderada por Benny Gantz terá, alegadamente, oferecido o seu apoio a Netanyahu para avançar com o cessar-fogo caso a extrema-direita o bloqueie. Mas não é claro em que moldes. O gabinete de segurança israelita reuniu ao longo de dois dias, tendo o chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla inglesa), Eyal Zamir, dito que para o exército os objetivos já foram cumpridos na Faixa de Gaza e qualquer expansão dos combates exigiria estabelecer novos objetivos. Além disso, avisou que as condições de vida dos reféns está a deteriorar-se. Estas declarações, criticadas pela extrema-direita, abrem contudo as portas a um cessar-fogo, se Netanyahu assim o desejar. “Acabar a guerra”Já o grupo terrorista palestiniano tem recusado qualquer proposta que permita a Israel retomar os combates e não inclua o fim da guerra. O Hamas justifica a sua posição com o facto de que no início do ano estava a cumprir o cessar-fogo em três fases, que permitiu libertar vários reféns, quando Israel não aceitou negociar a segunda fase como estava previsto e retomou os combates no final de março.Um responsável do grupo, Taher al-Nunu, disse à Associated Press que o Hamas está “preparado para aceitar qualquer proposta se a exigência para acabar a guerra for claramente cumprida ou se levar ao seu fim”. Uma delegação do Hamas tinha previsto reunir-se esta quarta-feira com mediadores no Cairo. “Estamos a ter discussões para chegar a um acordo que garanta o fim das agressões, a retirada das forças e ajuda às pessoas no enclave”, disse o Hamas em comunicado. Os pormenores desta “proposta final” ainda não foram tornados públicos, mas alguns media dizem que envolve a libertação de dez dos reféns ainda vivos e os corpos de outros 18 ao longo do período de 60 dias. Há ainda 50 reféns na Faixa de Gaza (49 deles sequestrados no ataque de 7 de outubro de 2023), estimando-se que 27 estejam mortos.Fontes do jornal israelita Haaretz indicaram que a nova proposta não inclui o compromisso de Israel acabar a guerra, mas dá mais garantias. Isto porque diz que se não houver um novo acordo nesse sentido no prazo de 60 dias, os mediadores serão responsáveis por garantir que as negociações continuam “sob certas condições”. Segundo a fonte, isso mostra ao Hamas que os americanos estão preparados para pressionar os israelitas. No final de maio, o Hamas disse estar à espera de acertos a uma proposta feita pelo enviado dos EUA ao Médio Oriente, Steve Witkoff. Este considerou “totalmente inaceitável” fazer mudanças. Essa proposta envolvia um cessar-fogo de 60 dias e a libertação de metade dos reféns, em troca de prisioneiros palestinianos. O grupo terrorista libertaria os restantes reféns num acordo que garantisse o fim da guerra.Situação no terrenoUm cessar-fogo seria bem-vindo na Faixa de Gaza, onde os bombardeamentos israelitas são diários. “Todos estão com esperança que desta vez funcione. Não há espaço para mais fracassos. Cada dia que passa, isso custa-nos mais vidas”, disse o empresário Tamer Al-Burai, à Reuters. “Estamos a viver os dias mais difíceis. As pessoas querem o fim da guerra, o fim da fome e da humilhação”, acrescentou.Segundo a Al-Jazeera, o diretor do Hospital Indonésio, Marwan al-Sultan, terá sido morto junto com a família num ataque na cidade de Gaza. No total, pelo menos 43 palestinianos morreram durante esta quarta-feira. Um soldado israelita também morreu no norte do enclave. Entretanto, ministros do Likud (o partido de Netanyahu) escreveram uma carta a pedir-lhe que aproveite a “oportunidade histórica” para anexar a Cisjordânia (território ocupado onde se multiplicam .os colonatos).