O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse esta quinta-feira (7 de agosto) que “Israel não vai anexar Gaza”, mas vai controlar o território até o transferir para “forças árabes”. Declarações feitas numa entrevista à Fox News, antes de reunir o seu Gabinete de Segurança para receber a luz verde para avançar no seu plano. Em resposta, o Hamas acusou-o de querer “sacrificar” os reféns (só 20 dos 50 que ainda tem estarão vivos).Além da autorização para ir para a ocupação total do enclave palestiniano, Netanyahu terá dito ao Gabinete de Segurança que iria fazer um ultimato ao Hamas para que o grupo terrorista se renda. Se este recusar, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) - que já emitiram ordens de evacuação para que os habitantes de dois bairros da cidade de Gaza, no norte do enclave, vão para sul - vão intensificar as suas operações. O primeiro-ministro quer avançar no plano para a ocupação total apesar da oposição das IDF e das famílias dos reféns, que voltaram a manifestar-se em Jerusalém a exigir um acordo que permita a sua libertação. Os negociadores israelitas, segundo o site Ynet News, pediram ao chefe de Governo para que não feche a porta ao diálogo com o Hamas, avisando que os mediadores (Qatar e Egito) estão a pressionar o grupo terrorista e uma nova janela de oportunidade pode abrir-se. Segundo os media israelitas, o plano de Netanyahu incluirá cercar a cidade de Gaza e enviar os habitantes para o sul. As IDF teriam então luz verde para atacar os últimos bastiões do Hamas na cidade, com as operações a alargarem-se mais tarde para a zona central do enclave. O primeiro-ministro terá dito na reunião - que se prolongou para lá das cinco horas - que a operação não era irreversível e que estaria pronto a equacionar parar se o Hamas cumprir as condições, segundo contava o Canal 12 israelita. Ainda antes dessa reunião, Netanyahu levantou o véu das suas ideias numa entrevista à Fox News. O primeiro-ministro deixou claro que “Israel não vai anexar Gaza” e não quer ficar com o território ou governá-lo. “Queremos transferi-lo para as forças árabes”, indicou, sem dar mais pormenores. “Pretendemos assumir o controlo para garantir a nossa segurança, remover o Hamas, permitir que a população de Gaza fique livre e passar [o controlo] a um governo civil que não é o Hamas e não é alguém a defender a destruição de Israel.”O grupo terrorista palestiniano reagiu quase de imediato. “As palavras de Netanyahu revelam claramente os verdadeiros motivos por detrás da sua retirada da última ronda de negociações, apesar de estar perto de um acordo final”, disse o Hamas. “Os planos para expandir a agressão provam, sem sombra de dúvida, que pretende livrar-se dos reféns e sacrificá-los em nome dos seus interesses pessoais. Expandir a agressão contra o nosso povo não será fácil. O seu preço será elevado.”O chefe do Estado-maior das IDF quebrou também o silêncio em relação ao desacordo com Netanyahu. Os militares “vão continuar a expressar” a sua “posição sem medo”, sempre de forma “profissional, independente e substantiva”, disse o tenente-general Eyal Zamir, sem referir diretamente o choque com o primeiro-ministro. O chefe do Estado-maior das IDF é contra a ocupação total da Faixa de Gaza, pelo risco que isso representa para os reféns e para os seus militares. “Estamos a lidar com questões de vida ou de morte, em defesa do país, e fazemo-lo no que respeita aos nossos soldados e aos civis de Israel”, indicou. “Continuaremos a agir com responsabilidade, integridade e determinação, tendo apenas em mente a segurança e o bem-estar de Israel”, acrescentou. Mais 42 mortosEnquanto em Jerusalém o Governo israelita debatia o futuro de Gaza, no enclave a história repetia-se. Pelo menos 42 pessoas terão morrido em ataques israelitas - elevando para mais de 61 mil o número de mortos desde o início da guerra, segundo as autoridades de Gaza (nas mãos do Hamas). Uma criança morreu em Khan Yunis ao tentar recuperar ajuda humanitária lançada de um avião. Vários países retomaram o envio de ajuda desta forma, apesar de ser caro e perigoso, diante das indicações de fome extrema na Faixa de Gaza e da dificuldade em entrar apoio por camião. Ontem, de acordo com as IDF, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Alemanha, Bélgica e Canadá lançaram mais de 80 pacotes de ajuda. Entretanto, um relatório da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) concluiu que os locais de distribuição de ajuda da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, apoiada por Israel e os EUA) se transformaram em “laboratórios de crueldade” dos palestinianos. “Nos quase 54 anos de atividade da MSF, raramente assistimos a tais níveis de violência sistemática contra civis desarmados”, indicou uma das diretoras, Raquel Ayora. “Isto tem de acabar agora”, acrescentou.