Oitenta anos depois do bombardeamento de Dresden por parte da aviação britânica e norte-americana, as ruas daquela cidade do leste da Alemanha vão estar preenchidas com homenagens às vítimas, bem como uma marcha de neonazis e respetiva contramanifestação. A polícia espera uma maior participação de extremistas do que em anos anteriores.Entre 13 e 15 de fevereiro de 1945, centenas de bombardeiros largaram mais de 2500 toneladas de explosivos naquela cidade em volta do rio Elba. O fogo consumiu o centro histórico da urbe e hoje os historiadores apontam que a destruição de Dresden terá matado entre 18 e 25 mil pessoas. À época, o Ministério da Propaganda nazi amplificou os números da mortandade para 250 mil - um número que continuou a ser usado mais tarde, mas pela República Democrática Alemã, a Alemanha comunista da qual Dresden fez parte. “O regime comunista difundiu o mito de que os Aliados Ocidentais tinham bombardeado Dresden para evitar que esta caísse nas mãos do Exército Vermelho”, disse o historiador Dietmar Süss em entrevista ao portal T-online.Enquanto familiares e cidadãos, em geral, lembram as vítimas com uma corrente humana, os neonazis tentam marchar pela cidade como forma de se apropriarem da data e tentar fazer do regime nazi uma vítima dos Aliados.O aniversário é “uma ocasião imperdível para a cena extremista de direita em toda a Alemanha”, disse o presidente do Gabinete de Proteção da Constituição da Saxónia, Dirk-Martin Christian, quando se esperam vários grupos oriundos inclusive de fora do país.Além de uma vigília e de uma manifestação para esta quinta-feira, os neonazis vão tentar desfilar por Dresden no sábado. “Haverá provavelmente muito mais do que em anos anteriores, porque é o 80.º aniversário e este ano a ‘marcha comemorativa’ não coincide com o ‘dia de honra’ em Budapeste [onde milhares assinalam a tentativa falhada de as tropas fascistas húngaras e nazis saírem do Castelo de Buda para escaparem ao cerco soviético, em 1945]. É de esperar que os nazis violentos venham a Dresden”, disse Rita Kunert do movimento Dresden WiEdersetzen ao Sächsische Zeitung.Como de costume, os ativistas antifascistas tentam impedir a marcha, que não tem local atribuído. Desta vez, registaram junto das autoridades nada menos do que 17 ajuntamentos com 2500 participantes. O objetivo é cobrir as praças centrais e estações para poderem ocupar os locais de encontro dos neonazis e bloquear a sua passagem - tendo, para iss,o convocado igualmente ativistas de fora da cidade. A polícia espera uma “situação conflituosa na concentração” de pessoas. Desmantelar a UE O partido com mais afinidades com os manifestantes neonazis, a Alternativa para a Alemanha (AfD) - para o seu antigo líder Alexander Gauland o III Reich foi apenas “caca de pássaro”, e Björn Höcke, o primeiro alemão de extrema-direita a vencer uma eleição desde o restabelecimento da democracia (na Turíngia), foi condenado em tribunal pelo seu uso repetido de um mote nazi - mantém-se em segundo lugar nas sondagens. À procura da normalização do seu partido, a colíder Alice Weidel foi recebida pelo primeiro-ministro húngaro e decano das políticas contra a imigração Viktor Orbán, e este não a poupou a elogios, ao afirmar que ela é “o futuro da Alemanha”. Reconheceu que “a AfD não é um partido bem-vindo pelos primeiros-ministros de todos os países europeus”, mas que “chegou o tempo de mudar isso”, disse Orbán na residência oficial do chefe do governo.Já Weidel, que considera o magiar um “excelente modelo”, prometeu lutar ao lado de Budapeste contra Bruxelas. “Devemos trabalhar em conjunto para reformar a União Europeia a todo o custo. Podemos conseguir isso reduzindo as suas competências, desmantelando toda a superestrutura burocrática, cara - e, na minha opinião, corrupta”, disse Weidel. Maximilian Krah, o cabeça de lista da AfD às Eleições Europeias, foi forçado a demitir-se na sequência de uma investigação em que é suspeito de ter contratado, como seu assistente em Bruxelas, um espião chinês. As suas declarações revisionistas sobre o passado nazi levaram à expulsão da AfD do grupo político liderado pela União Nacional de Marine Le Pen, hoje com outro nome (Patriotas pela Europa) e onde também se sentam os eurodeputados do Fidesz de Orbán.A alemã recebeu o apoio do bilionário Elon Musk - e numa conversa que mantiveram através da rede X, Weidel, neta de um juiz nazi, tentou reescrever a História ao alegar que Hitler foi “comunista”.