NATO faz 'mea culpa' por não ter evitado guerra, Kiev pede mais aos aliados
Em contagem decrescente para o final do seu mandato, que termina a 1 de outubro, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, admitiu este sábado que a Aliança poderia ter feito mais para armar a Ucrânia e tentar evitar a invasão russa em fevereiro de 2022. “Agora fornecemos material militar para uma guerra, então poderíamos ter fornecido material militar para evitar a guerra”, disse o norueguês em entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ).
Para Stoltenberg, existiu uma relutância por parte dos países da NATO em fornecer as armas pedidas pela Ucrânia antes da invasão russa por receio de um aumento das tensões com Moscovo. Só após a invasão, é que os aliados começaram a fornecer apoio, militar e não só, a Kiev.
Apoio que a Ucrânia continua a afirmar não ser suficiente para derrotar a Rússia. Este sábado, Kiev fez um novo apelo aos aliados ocidentais para que permitam ataques de longo alcance em território russo, depois de ter sido atacada pelas forças de Moscovo durante a noite. “O terror russo começa em depósitos de armas, campos de aviação e bases militares dentro da Federação Russa”, justificou o conselheiro presidencial ucraniano Andriy Yermak, acrescentando que “a permissão para atacar profundamente a Rússia acelerará a solução”.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem pressionado os aliados para permitirem que as forças de Kiev usem armas ocidentais para atingir bases aéreas e locais de lançamento mais distantes no território russo. “Precisamos de aumentar a defesa aérea e as capacidades de longo alcance para proteger o nosso povo”, escreveu Zelensky nas redes sociais.
Mas, até agora, os Estados Unidos, o país que mais contribui para a ajuda à Ucrânia, apenas permitiu que Kiev use as armas que fornece numa área limitada dentro da fronteira da Rússia com a Ucrânia. E, depois de alguma esperança inicial no encontro desta sexta-feira entre os líderes dos EUA e do Reino Unido, não foi anunciada uma decisão sobre o uso de armas de longo alcance. Joe Biden e Keir Starmer reafirmaram o apoio à Ucrânia e, segundo o comunicado divulgado pela Casa Branca, e “expressaram profunda preocupação com o fornecimento de armas letais pelo Irão e pela Coreia do Norte à Rússia e o apoio da China à base industrial de defesa russa”.
Antes da reunião, várias fontes haviam dito que Starmer iria pressionar Biden para apoiar o seu plano de enviar mísseis britânicos Storm Shadow para a Ucrânia atingir mais profundamente a Rússia. No entanto, o britânico indicou que ele e Biden discutiriam agora o plano na assembleia-geral da ONU da próxima semana “com um grupo mais amplo de indivíduos”.
Para o líder do Comité Militar na NATO, a Ucrânia tem o direito legal e militar de atacar profundamente dentro da Rússia de forma a obter vantagem no campo de batalha. “Toda nação atacada tem o direito de se defender. E esse direito não termina na fronteira da sua própria nação”, referiu este sábado o almirante neerlandês Rob Bauer, após o final da reunião anual do comité. “Você quer enfraquecer o inimigo que o ataca, para não apenas combater as flechas que vêm na sua direção, mas também atacar o arqueiro que, como vemos, muitas vezes opera da Rússia até à Ucrânia”, prosseguiu.
Já o general CQ Brown, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos, reafirmou que a política do país em matéria de armas de longo alcance mantém-se. “O que queremos fazer é, independentemente dessa política, continuar a tornar a Ucrânia bem-sucedida com as capacidades que foram fornecidas” pelos EUA e outros países da NATO, declarou.
ana.meireles@dn.pt