A primeira missa do pontificado de Leão XIV
A primeira missa do pontificado de Leão XIVEPA/GIUSEPPE LAMI

Leão XIV denuncia "paradigma que explora os recursos da Terra e marginaliza os mais pobres”

Na missa inaugural do seu pontificado, o novo papa também pede Igreja unida "contra as feridas causadas pelo ódio", perante milhares de fiéis e líderes mundiais, entre eles Marcelo Rebelo de Sousa
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Diante de 150 delegações, com destaque para a dos seus EUA natais, liderada pelo vice-presidente JD Vance e pelo secretário de Estado, Marco Rubio, e pela do Peru, país onde viveu mais de duas décadas e cuja nacionalidade tem, liderada pela presidente Dina Boluarte, Leão XIV aproveitou a sua missa inaugural como 267.º papa para apelar à união e deixar alguns recados. “Ainda vemos demasiada discórdia, demasiadas feridas causadas pelo ódio, pela violência, pelo preconceito, pelo medo dos outros, por um paradigma económico que explora os recursos da Terra e marginaliza os mais pobres”, alertou perante as cerca de 200 mil pessoas reunidas para assistir à sua missa inaugural na praça de São Pedro, no Vaticano. 

Depois de um percurso de papamóvel na Praça de São Pedro, cumprimentando os milhares de peregrinos que se juntaram para participar na missa de início de Pontificado, Leão XIV pediu uma “Igreja missionária, que abre os braços ao mundo, que anuncia a palavra, que se deixa inquietar pela história e que se torna fermento de concórdia para a humanidade”.

“Queremos ser, dentro desta massa, um pequeno fermento de unidade, comunhão e fraternidade”, afirmou, prometendo uma Igreja evangelizadora, um “caminho a percorrer também com as Igrejas cristãs irmãs, com aqueles que percorrem outros caminhos religiosos, com quem cultiva a inquietação da busca de Deus, com todas as mulheres e todos os homens de boa vontade para construirmos um mundo novo onde reine a paz”, disse o Papa.

A primeira missa do pontificado de Leão XIV
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Durante a missa que marca o início do seu ministério petrino, Leão XIV recebeu o pálio, uma estola de lã branca que representa o peso do “rebanho” sobre os ombros do pastor, decorada com seis cruzes de seda preta e presa com três agulhas que representam os pregos da Cruz. Depois de uma oração, o cardeal filipino Luis Antonio Tagle, um dos favoritos a ser eleito papa no conclave que no passado dia 8 acabou por fazer do cardeal Robert Prevost o primeiro papa norte-americano, entregou o anel do pescador em ouro, cujo selo ostenta a imagem de São Pedro com as chaves e a rede do pescador. No interior, a inscrição “Leão XIV” (em latim) e o seu brasão papal.

Leão XIV recordou que “o ministério de Pedro é marcado por este amor oblativo, porque a Igreja de Roma preside na caridade e a sua verdadeira autoridade é a caridade de Cristo. Não se trata nunca de capturar os outros com a prepotência, com a propaganda religiosa ou com os meios do poder, mas se trata sempre e apenas de amar como fez Jesus.

No seu primeiro discurso público, imediatamente após a sua eleição, Leão XIV já tinha pedido uma “paz desarmada e desarmante”. Missionário agostiniano, Leão XIV pediu um “espírito missionário” para a Igreja que agora lidera. “Sem nos fecharmos no nosso pequeno grupo nem nos sentirmos superiores ao mundo; somos chamados a oferecer a todos o amor de Deus, para que se realize aquela unidade que não anula as diferenças, mas valoriza a história pessoal de cada um e a cultura social e religiosa de cada povo”, disse o sucessor de Francisco, que o nomeou cardeal e Prefeito do Dicastério dos Bispos. “A morte do Papa Francisco encheu os nossos corações de tristeza e, naquelas horas difíceis, sentimo-nos como as multidões que o Evangelho diz serem ‘como ovelhas sem pastor’”, recordou, numa alusão ao antecessor, falecido a 21 de abril aos 88 anos. 

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Líderes mundiais e apertos de mão

Entre a assistência que enchia a Praça de São Pedro, eram muitos os chefes de Estado e de Governo. Além da peruana Dina Boluarte, destaque sempre nestes momentos para Itália, representada pelo presidente Sergio Mattarella e pela primeira-ministra Giorgia Meloni, também para o presidente da Colômbia,  o ucraniano Volodymyr Zelensky, o polaco, Andrzej Duda, o eslovaco Peter Pellegrini ou o libanês Joseph Aoun. Portugal fez-se representar pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel. 

Não faltaram também cabeças coroadas como os reis da Bélgica, Filipe e Matilde, os reis de Espanha, Felipe VI e Letizia, o grão-duque do Luxemburgo, o príncipe Alberto do Mónaco ou a rainha Máxima da Holanda. Também  cinco príncipes herdeiros e representantes de casas reais, entre eles o príncipe Eduardo, duque de Edimburgo, irmão mais novo do rei Carlos III de Inglaterra, e a princesa Vitória da Suécia.

A União Europeia  fez-se representar pela presidente da Comissão, Ursula Von der Leyen e pela presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola. A Rússia foi representada pela ministra da Cultura, Olga Liubimova; a Palestina pelo ministro dos Assuntos Religiosos, Ramzi Khouri e o Brasil pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. Tal como no funeral do papa Francisco, Taiwan fez-se representar pelo ex-vice-presidente Chen Chin-Jen, com o presidente William Lai a faltar um momento essencial de um dos únicos 12 países que têm relações diplomáticas com Taipé e não com Pequim. 

Com tamanho aglomerado de governantes, estes eventos são sempre oportunidade para momentos de encontro ou reencontro. Foi o caso de Vance e Zelensky vistos a trocarem cumprimentos depois da tensa troca de palavras entre ambos durante a visita do presidente ucraniano à Casa Branca. 

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