Papa apelou à paz na Ucrânia e na Faixa de Gaza no domingo passado, na oração 'Regina Caeli'.
Papa apelou à paz na Ucrânia e na Faixa de Gaza no domingo passado, na oração 'Regina Caeli'.EPA/ALESSANDRO DI MEO

Missa inaugural de Leão XIV: uma oportunidade para os “inimigos” se olharem nos olhos

Papa tem insistido nos apelos à paz e deve repeti-los diante dos líderes mundiais e das milhares de pessoas esperadas na praça de São Pedro este domingo, para a cerimónia que começa às 9h00.
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No jubileu das Igrejas Orientais, na quarta-feira, o papa Leão XIV deixou claro que “a Santa Sé está disponível para que os inimigos se encontrem e se fitem nos olhos”, oferecendo-se como mediador de conflitos e exortando os líderes mundiais: “Encontremo-nos, dialoguemos, negociemos!”

A missa inaugural do seu pontificado, este domingo, poderá ser uma oportunidade para esse diálogo, tal como o funeral do antecessor, Francisco, marcado ao nível diplomático pelo encontro entre o presidente norte-americano, Donald Trump, e o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky.

O chefe de Estado da Ucrânia já anunciou que estará no Vaticano este domingo, com o seu chefe de gabinete, Andriy Yermak, a dizer à Reuters que estará disponível para se reunir com outros líderes mundiais à margem do evento.

Trump ainda não confirmou a sua presença na missa inaugural do primeiro papa nascido nos EUA, mas o seu vice, J.D. Vance, o católico (convertido) no cargo mais elevado nos EUA, já o fez. E vai acompanhado com o secretário de Estado, Marco Rubio.

Leão XIV, quando ainda era apenas o cardeal Robert Francis Prevost, criticou abertamente a Administração de Trump nas redes sociais, nomeadamente por causa das políticas migratórias.

No dia em que o papa recebeu os media em audiência, uma jornalista do canal por cabo norte-americano NewsNation perguntou-lhe se tinha alguma mensagem para os EUA. “Muitas”, disse simplesmente Leão XIV, acrescentando depois “que Deus vos abençoe a todos”. Isso pode significar que o líder da Igreja Católica não hesitará em dar voz às críticas que até agora limitou às redes sociais.

“A guerra nunca é inevitável, as armas podem e devem ser silenciadas, pois não resolvem os problemas mas só os aumentam”, insistiu o papa no jubileu das Igrejas Orientais, reforçando a ideia de paz que tem repetido desde que foi eleito a 8 de maio.

“Ficará na história quem semeia a paz, não quem ceifa vítimas”, reiterou, lembrando que os outros “não são primeiro nossos inimigos, mas seres humanos. Não vilões a odiar, mas pessoas com quem falar. Rejeitemos as visões maniqueístas típicas das narrações violentas, que dividem o mundo entre bons e maus”, referiu.

Esta quinta-feira, o papa falou ao telefone com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. “A Itália aprecia e apoia os esforços da Santa Sé pela paz e pela cessação de conflitos em todos os cenários de crise em que as armas substituíram o diálogo”, indicou o governo de Itália num comunicado.

Quem mais vai?

A lista completa de quem estará presente na missa inaugural, marcada para as 10h00 locais (9h00 em Lisboa), não é conhecida. Em 2013, delegações de 132 países - incluindo 31 chefes de Estado - assistiram à de Francisco. Portugal estará representado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que já votou antecipadamente nas legislativas no último domingo.

Quem também já confirmou a sua presença no Vaticano foi o primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, que faltou ao funeral de Francisco por causa das eleições no Canadá. Segundo o seu gabinete, passará três dias em Roma (a partir já desta sexta-feira) e poderá “encontrar-se com outros líderes internacionais para discutir o aprofundamento dos laços comerciais e culturais”.

Israel só esteve representado a nível de embaixador no funeral de Francisco, com quem as relações se tinham deteriorado desde o ataque de 7 de outubro de 2023 e o início da operação militar israelita na Faixa de Gaza. Mas o presidente Isaac Herzog já anunciou que irá à missa do início do pontificado de Leão XIV, no que é visto como uma tentativa de virar a página nas relações. No domingo passado, na oração Regina Caeli, o papa apelou ao cessar-fogo imediato, com a entrada de ajuda humanitária no enclave palestiniano e a libertação de todos os reféns.

Já Taiwan decidiu, tal como no funeral, enviar apenas o antigo vice-presidente Chen Chien-jen e não o presidente Lai Ching-te, deixando claro que a ligação ao Vaticano - um dos 12 únicos países do mundo que tem relações diplomáticas formais com a ilha - atravessa o seu pior momento. No passado, os presidentes de Taiwan assistiram a este tipo de eventos com outros líderes mundiais, mas Francisco assinou em 2018 um acordo com Pequim (que reclama a soberania da ilha) para a nomeação dos bispos da Igreja Católica - uma decisão muito criticada em Taipé.

Anel do pescador e pálio

Além dos líderes mundiais (que deverá cumprimentar no final da cerimónia), milhares de pessoas são esperadas para a missa inaugural do pontificado de Leão XIV. O papa normalmente percorre a praça de São Pedro no papamóvel antes de chegar à basílica. Durante a cerimónia, o novo líder da Igreja Católica recebe os símbolos do novo cargo: o anel do pescador e o pálio.

O anel do pescador, que é destruído quando o papa morre, inclui uma imagem de São Pedro - o primeiro a liderar a Igreja Católica - a pescar de um barco. Pode ser mais ou menos trabalhado, sabendo-se que o de Bento XVI era de ouro e o de Francisco de prata banhada a ouro. O argentino não o usava todos os dias, apenas em ocasiões especiais. Já o pálio é uma faixa branca, normalmente feita de lã de cordeiro, que representa o papel de “pastor”.

Na sua homilia, espera-se que Leão XIV reitere as mensagens de paz que tem repetido e trace os grandes temas do seu pontificado. Francisco prometeu receber “de braços abertos” todo o “povo de Deus”, sobretudo “os mais pobres, os mais fracos, os menos importantes”.

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