O papa no Jubileu das Igrejas Orientais.
O papa no Jubileu das Igrejas Orientais.EPA/Vatican Media Handout

Papa defende que dignidade dos migrantes deve ser respeitada. Vaticano trabalha em encontro com J.D. Vance

Leão XVI recebeu o corpo diplomático em vésperas da missa inaugural de pontificado, à qual assiste o vice-presidente dos EUA.
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O papa Leão XIV lembrou a sua condição de filho de imigrantes e de ter sido ele próprio emigrante para defender o respeito pela dignidade de todas as pessoas no primeiro encontro com o corpo diplomático acreditado na Santa Sé. E falou dos três pilares da diplomacia do Vaticano: paz, justiça e verdade.

"A minha própria história é a de um cidadão, descendente de imigrantes, e também emigrado", indicou o novo líder da Igreja Católica, que nasceu nos EUA mas fez grande parte da sua carreira eclesiástica no Peru e no Vaticano.

"Cada um de nós, ao longo da vida, pode encontrar-se saudável ou doente, empregado ou desempregado, na sua terra natal ou numa terra estrangeira: a nossa dignidade, no entanto, permanece sempre a mesma, a de uma criatura querida e amada por Deus.", acrescentou.

Em vésperas da missa de inauguração do pontificado, que deverá reunir dezenas de líderes mundiais e milhares de fíeis este domingo na Praça de São Pedro, o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, disse que o Vaticano está a trabalhar "para um encontro presencial entre o papa e Vance". Mas, avisou, "o tempo é demasiado curto".

O então cardeal Robert Francis Prevost, agora Leão XIV, foi muito crítico nas redes sociais da política de imigração da Administração norte-americana de Donald Trump.

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Paz, justiça e verdade

Na receção aos diplomatas, Leão XIV voltou a falar de paz, dizendo que com justiça e verdade representa "os pilares da ação missionária da Igreja e do trabalho da diplomacia da Santa Sé."

Em relação à paz, que tem sido um ponto fulcral nos seus discursos desde a eleição a 8 de maio, Leão XIV disse que "demasiadas vezes pensamos nela como uma palavra 'negativa', ou seja, como uma mera ausência de guerra e de conflito, visto que o confronto faz parte da natureza humana". Nesse momento, a paz parece "uma simples trégua, uma pausa de repouso entre uma disputa e outra".

Mas o papa defende que a paz "é um dom ativo e envolvente, que diz respeito e compromete a cada um de nós". Isto porque a paz "constrói-se no coração e a partir do coração, erradicando o orgulho e as pretensões, e medindo a linguagem, pois também com as palavras se pode ferir e matar, não só com as armas".

No discurso aos diplomatas, Leão XIV defendeu o contributo das religiões do diálogo interreligioso "para promover contextos de paz", insistindo no "pleno respeito pela liberdade religiosa em todos os países". E defendeu também "uma abertura sincera ao diálogo, animada pelo desejo de encontro e não de confronto".

Nesse sentido, o papa disse ser necessário "dar um novo fôlego à diplomacia multilateral e às instituições internacionais que foram desejadas e concebidas, em primeiro lugar, para remediar as relações conflituosas que possam surgir no seio da comunidade internacional" e também necessária "a vontade de deixar de produzir instrumentos de destruição e morte", lembrando o papa Francisco.

Leão XIX explicou também que "a busca de paz exige a prática da justiça", voltando a lembrar o papa Leão XIII – inspiração para o nome que escolheu – e a sua encíclica social Rerum novarum.

"Na mudança de época que estamos a viver, a Santa Sé não pode deixar de fazer ouvir a sua voz perante os numerosos desequilíbrios e injustiças que conduzem, entre outras coisas, a condições indignas de trabalho e a sociedades cada vez mais fragmentadas e conflituosas", indicou.

"É necessário também esforçar-se para remediar as desigualdades globais, que veem a opulência e a indigência traçar sulcos profundos entre continentes, países e mesmo no interior de cada sociedade", acrescentou

O papa defendeu que cabe aos responsáveis governamentais "esforçarem-se por construir sociedades civis harmoniosas e pacíficas", pedindo um investimento "na família, fundada na união estável entre o homem e a mulher" e favorecendo "contextos em que a dignidade de cada pessoa é protegida, especialmente a das mais frágeis e indefesas, do nascituro ao idoso, do doente ao desempregado, seja ele cidadão ou imigrante".

Finalmente, o papa falou na "verdade", lembrando que "não é possível construir relações realmente pacíficas, mesmo no seio da comunidade internacional" sem ela. "Quando as palavras assumem conotações ambíguas e ambivalentes e o mundo virtual, com a sua percepção alterada da realidade, ganha a dianteira sem medida, é difícil construir relações autênticas, uma vez que se perdem as premissas objetivas e reais da comunicação", alertou.

E deixou claro que a Igreja "nunca se pode furtar a dizer a verdade sobre o homem e sobre o mundo, mesmo recorrendo, quando necessário, a uma linguagem franca, que pode provcar alguma incompreensão inicial".

E que "a verdade não nos aliena, mas permite-nos enfrentar com maior vigor os desafios do nosso tempo, como as migrações, o uso ético da inteligência artificial e a preservação da nossa querida Terra. São desafios que exigem o empenho e a cooperação de todos, pois ninguém pode pensar em enfrentá-los sozinho. "

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