Moscovo promete medidas contra "incursões" da Ucrânia

Kiev denuncia "provocação deliberada" e nega responsabilidade, com um grupo de voluntários ​​​​​​​russos que atua desde a Ucrânia a reivindicar ataque dentro do território da Rússia.
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O Kremlin disse esta sexta-feira que irá "tomar medidas para prevenir" incursões de "nacionalistas ucranianos" em território russo, depois de dois civis terem sido mortos na véspera na região fronteiriça de Bryansk. Kiev negou qualquer responsabilidade, falando de uma "provocação deliberada" da parte de Moscovo para "justificar" a guerra. Mas o chamado Corpo de Voluntários Russos, opositor ao presidente Vladimir Putin que estará a combater ao lado dos ucranianos, reivindicou a ação que ameaça fazer escalar o conflito.

Putin cancelou uma viagem que tinha previsto ao Cáucaso para se manter informado, alegando depois que os responsáveis pelo ataque foram "neonazis e terroristas" que "penetraram na zona de fronteira e abriram fogo contra civis". Os media russos destacavam a história de um rapaz que, atingido a tiro no peito, teria ajudado a salvar duas raparigas, quando o carro em que seguiam com um adulto foi atacado - e o adulto morto. Várias dezenas de "sabotadores" teriam sido empurrados de volta à Ucrânia e bombardeados.

Esta sexta-feira, reuniu o Conselho de Segurança Nacional para discutir o problema, com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a dizer então que serão tomadas "medidas" para evitar "eventos semelhantes no futuro". A situação será um embaraço especial para Putin, que ordenou no início da semana o reforço da segurança junto à fronteira depois de vários ataques com drones - um deles despenhou-se a apenas cem quilómetros de Moscovo. A segurança estaria a cabo dos serviços de informação do FSB, em quem

Mikhailo Podolyak, conselheiro do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, denunciou contudo uma "provocação deliberada" da parte de Moscovo. "A Federação Russa quer assustar o seu povo e justificar o ataque a outro país e a crescente pobreza após um ano de guerra. O movimento partisan na Federação Russa está a ficar mais forte e mais agressivo. Teme os teus partisans...", escreveu no Twitter. Kiev tinha avisado que Moscovo estaria a planear "provocações" na zona de fronteira

Esta sexta-feira, voltou à carga. "Explosões em instalações críticas; drones não identificados a atacar as regiões da Federação Russa; confrontos de gangues; partisans a atacar áreas populosas - tudo isto é consequência direita da perda de controlo dentro da Federação Russa. E consequências da guerra... A Ucrânia não está envolvida em conflitos internos na Federação Russa", escreveu na mesma rede social.

A nova negação de responsabilidade da Ucrânia surgiu já depois de o Corpo de Voluntários Russos ter reivindicado a ação - com vídeos nas redes sociais em que se viam homens com equipamento militar nas localidades de Lyubichane e Shushany. Um dos homens no vídeo será o líder, Denis Nikitin, de 38 anos, que é um destacado militante de extrema-direita e hooligan. Vive na Ucrânia desde 2017. Putin usou o argumento da ameaça de neonazis para lançar a "operação militar especial", há um ano.

O grupo, que foi formado no verão de 2022, disse no Telegram que entrou na região de Bryansk "para mostrar aos compatriotas que há esperança, que um povo russo livre com armas nas mãos pode lutar contra o regime". Negaram contudo ter atacado civis. Não é claro se atuaram com o aval de Kiev, sendo que eles próprios se descrevem como "uma formação de voluntários russos que fazem parte das Forças Armadas da Ucrânia" - não confirmado oficialmente. Mas o ataque pode ser usado por Moscovo para expandir o conflito.

Os ucranianos não hesitam em reivindicar as ações em zonas ocupadas pela Rússia, mas em relação a ataques para lá da fronteira as respostas são vagas. Os aliados têm fornecido armas sempre com a indicação de que estas não devem ser usadas de forma ofensiva contra a Rússia (apenas defensiva), querendo evitar que Moscovo use a desculpa para arrastar outros países para o conflito. Manter a guerra na fronteira ucraniana teria sido uma das condições que as chefias militares dos EUA teriam dado ao presidente Joe Biden para que este garantisse o apoio à Ucrânia.

susana.f.salvador@dn.pt

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