Morreu o ex-presidente romeno Ion Iliescu, que liderou o país após a queda de Ceausescu. Tinha 95 anos
FOTO: EPA/OLIVIER HOSLET

Morreu o ex-presidente romeno Ion Iliescu, que liderou o país após a queda de Ceausescu. Tinha 95 anos

Iliescu liderava o país em julho de 1990 durante a repressão aos protestos, o que lhe valeu acusações por crimes contra a humanidade.
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O antigo presidente romeno Ion Iliescu morreu esta terça-feira, 5 de agosto, aos 95 anos.

O anúncio foi feito pelo governo da Roménia, na sua página oficial do Facebook. "É com profundo pesar, o Governo anuncia a morte do antigo Presidente romeno Ion Iliescu. Morreu hoje, dia 05 de agosto de 2025, no Hospital Clínico de Emergência, Agrippa Ionescu, em Bucareste. O Governo envia as suas condolências à sua família e a todos os seus amigos próximos", pode ler-se.

Iliescu liderava o país em julho de 1990, após a queda do regime comunista liderado por Niculae Ceausescu, durante a repressão aos protestos, o que lhe valeu acusações por crimes contra a humanidade.

O antigo presidente romeno foi internado no início de junho nos cuidados intensivos com problemas respiratórios e, uma semana depois, foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão, para o qual foi submetido a várias cirurgias.

O primeiro-ministro Ilie Bolojan afirmou entretanto que a morte de Iliescu "marca o fim de um período significativo na história recente do país, marcado pela transição pós-comunista e por transformações essenciais na vida pública". "Iliescu entra agora para a História", sublinhou.

"Durante o seu mandato foram adotados documentos e decisões que influenciaram o rumo da Roménia", sublinhou Bolojan, referindo-se à revisão da Constituição de 2003, que "lançou as bases para importantes mudanças políticas".

Ion Iliescu nasceu a 3 de março de 1930, era filho de uma lavadeira e de um ferroviário, numa modesta família comunista em Oltenita. Estudou engenharia em Moscovo antes de se tornar ministro da Juventude no regime de Ceausescu.

Após a detenção do ditador, em dezembro de 1989, e a sua subsequente execução, assumiu o poder, liderando uma Frente de Salvação Nacional (FSN) com a promessa de estabilizar o país.

Os seus opositores acusaram-no, no entanto, de ter "sequestrado" a revolução anticomunista ao orquestrar a violência que fez mais de 850 mortos e milhares de feridos.

Apesar das acusações, foi eleito chefe de Estado, em maio de 1990, num sistema multipartidário, com 85% dos votos.

Amigo próximo do último presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, opôs-se a qualquer medida de saneamento político, que visasse impedir os antigos altos funcionários comunistas de se candidatarem a cargos públicos.

Um mês depois de eleito, causaria alarme mundial ao encorajar milhares de mineiros do interior a reprimir o movimento estudantil que bloqueava o trânsito em Bucareste, num protesto contra as suas políticas intervencionistas.

Reeleito em Novembro de 1992, com 61% dos votos, foi-lhe atribuída a condução da Roménia para uma economia de mercado. Foi derrotado em 1996 antes de regressar ao poder em 2000, guiando o seu país na adesão à NATO e à União Europeia.

Em 2004, foi eleito senador antes de ser destituído da presidência do Partido Social-Democrata (PSD) pelos reformistas, tornando-se uma figura respeitada, apreciada pela sua integridade pessoal e pela discrição que cultiva em relação à sua vida privada.

Foi acusado de crimes contra a humanidade, juntamente com o ex-primeiro-ministro Petre Roman. No entanto, o processo foi suspenso pelos tribunais em 2020, embora tenha sido reaberto em 2023.

Iliescu rejeitou então as acusações, considerando os procuradores "uma vergonha nacional" e levando muito a sério as suspeitas contra si, embora "tivesse desempenhado um papel importante na democratização do país".

*Com Lusa

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