O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, afirmou esta quinta-feira que Portugal precisa do investimento de empresários brasileiros na área da habitação. Em discurso no Fórum Económico Brasil-Portugal, em São Paulo, promovido pela Apex, o líder do Governo assumiu que o país está com dificuldades em cumprir as metas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) nesta matéria e que a ajuda do Brasil seria bem-vinda.Além do investimento em construção, também realçou a importância da mão-de-obra brasileira neste setor. De acordo com Montenegro, é necessário construir 59 mil habitações no âmbito do PRR, num investimento de 4 mil milhões de euros. O primeiro-ministro lembrou que o investimento em habitação vai fazer com que Portugal possa reter o talento jovem. Frisou ainda que resolver a crise na habitação, a partir da construção pública, vai também melhorar a integração dos imigrantes, nomeadamente brasileiros. Montenegro usou a oportunidade para “vender” Portugal, afirmado que o país vive um momento de “estabilidade política” e prosperidade, além de estarem projetados investimentos importantes como o do novo aeroporto. Ao mesmo tempo, reivindicou que o “Brasil ajude” o investimento de Portugal no país, com “regras mais expeditas, menos burocracia, menos complexidade e mais reciprocidade”. Outro tema citado foi a simplificação de taxas alfandegárias. Pedro Reis, ministro da Economia, também apresentou as vantagens de investir no mercado português e afirmou que “este é o momento” de união dos dois países neste sentido.Para Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), é possível “duplicar ou até triplicar” o volume de negócios entre Brasil e Portugal. Atualmente, esta cifra é de aproximadamente 4,47 mil milhões de euros. A maior parte dos produtos que Portugal recebe está relacionada com o petróleo. Jorge Viana disse que, do lado contrário, é importante diversificar as exportações para o Brasil, hoje focadas no azeite.De acordo com Joana Gaspar, administradora da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), as relações “têm dado muitos frutos e têm muito potencial”, com um aumento médio de 8,5% na exportação de bens entre 2019 e 2023.Tanto Joana Gaspar quanto Jorge Viana esperam que, com a abertura do escritório em Lisboa, estas relações comerciais fiquem mais dinamizadas. De acordo com o presidente da agência brasileira, a unidade em Portugal deve estar operacional “logo após o início do Carnaval”. Este escritório foi saudado por todas as autoridades presentes no evento.Sobre o acordo da União Europeia (UE) com o Mercosul, Montenegro definiu-se como o “maior defensor” do mesmo entre os 27 líderes e foi aplaudido pelos presentes. Foi reafirmado o apoio de Portugal para que os governos europeus ratifiquem o acordo, fechado recentemente após 20 anos de negociações. Para o primeiro-ministro, esta é uma oportunidade geopolítica. “Se a Europa não for capaz de a agarrar, vai demonstrar fraqueza, fragilidade, incapacidade de se firmar como um player ainda mais relevante do ponto de vista político e económico”, disse Montenegro.Outro tópico celebrado pelo governante foi o facto de Brasil e Portugal estarem unidos na defesa da língua portuguesa como uma língua das Nações Unidas e de negócios. O tópico consta na declaração final da cimeira. Ficou acordado que será criado um grupo de trabalho bilateral, entre o Instituto Camões e o Instituto Guimarães Rosa, para analisar as diferentes opções e modalidades que reforcem a utilização da língua portuguesa nas Nações Unidas.José Manuel Diogo, da Câmara do Comércio Luso-Brasileira, elogiou este facto e também o primeiro-ministro pelo posicionamento em favor das relações entre os dois países. “Me surpreende cada vez mais Montenegro e o pensamento dele para o Brasil. Independentemente daquilo que é o espaço político dele, aquilo que ele fala e aquilo que faz me deixa feliz, nessa valorização da língua portuguesa também”. Para o dirigente, a língua portuguesa é uma ferramenta de soft power importante em todas as áreas, um “instrumento de poder global”, inclusive nos negócios, tema tratado esta quinta-feira no fórum.“Mais ações e menos palavras”Rijarda Aristóteles, presidente do Clube Mulheres de Negócios de Portugal, diz ao DN que ficou otimista com o encontro. “O que eu acho, e muita gente diz, é o seguinte: temos que sair um pouco mais do discurso e passar para a prática. E acho que estamos dando passos muito objetivos nesse sentido. Eu senti isso nesse fórum”, avalia.Rijarda também considera que a presença de altas autoridades portuguesas e brasileiras, na sequência da cimeira entre os dois países, é um ponto positivo. “Dá um nível não só de autoridade do próprio fórum e da própria cimeira, como um nível de maturidade das relações, principalmente privadas. O envolvimento de empresas neste movimento traz essa maturidade entre o público e o privado”, analisa.Por outro lado, criticou o facto de não haver mulheres empresárias nas mesas, com exceção de Joana Gaspar, administradora da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).Em BrasíliaA jornalista viajou a convite da ApexBrasil.No Brasil, Montenegro pede investimento de brasileiros para a construção de habitações