Viktor, de 84 anos, é ajudado a sair de Vovchansk, cidade fronteiriça sob ataque russo.
Viktor, de 84 anos, é ajudado a sair de Vovchansk, cidade fronteiriça sob ataque russo.EPA/GEORGE IVANCHENKO

Milhares em retirada perante "sucesso tático" russo em Kharkiv

Ucranianos com versões díspares sobre a incursão terrestre.  Para Kiev, novo ministro russo representa uma ameaça a longo prazo.
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Sentada numa furgoneta num ponto de encontro para os desalojados, Kateryna Stepanova, de 74 anos, desabafa: “Não íamos sair... mas agora isto. Felizmente, estamos vivos”, comentou junto do filho, depois de terem fugido da aldeia de Lyptsi, na região de Kharkiv (Carcóvia), após várias bombas terem atingido a sua rua. “É um horror o que se está a passar ali. As casas estão a arder!”, disse à reportagem da AFP. Desde que as forças russas lançaram uma invasão terrestre naquela área do nordeste do país foram capturadas sete aldeias, num avanço de cerca de cem quilómetros quadrados. Kiev, que em resposta lançou operações de evacuação das localidades, retirou cerca de 6 mil pessoas e reconhece o “sucesso tático” da operação, mas não crê que a segunda maior cidade, apenas a 25 quilómetros, esteja em risco.

O governador regional de Kharkiv, Oleg Synegubov, disse na segunda-feira que mais de 30 cidades e aldeias “foram atingidas por ataques de artilharia e morteiros inimigos”, ferindo pelo menos nove pessoas. As forças armadas ucranianas reconheceram o “sucesso tático” russo, caracterizando a situação em Kharkiv de “complexa e a mudar de forma dinâmica”. Horas mais tarde, o mesmo Estado-Maior ucraniano disse estar com “toda a linha da frente controlada”, a “recuperar posições e a obter sucesso tático em algumas áreas”, registando 12 combates no setor de Kharkiv, onde diz haver infligido a destruição de 25 peças de equipamento militar e 106 mortos.

No entanto, ao The New York Times, o chefe dos serviços de informações militares ucranianos, pintou um quadro muito diferente. “A situação está no limite”, disse Kyrylo Budanov, que reconheceu que as forças ucranianas estão ou em Kharkiv ou em Chasiv Yar, no Donbass. “Usei tudo o que tínhamos. Infelizmente, não temos mais ninguém nas reservas.” Budanov crê que Moscovo lancará novo ataque mais a norte de Kharkiv, na região de Sumy, mas ainda assim mostra alguma esperança na estabilização da frente nos próximos dias. 

Em Kharkiv, depois de terem destruído as infraestruturas de energia, ao ponto de haver racionamento da eletricidade, agora as forças russas usam bombas aéreas guiadas durante o dia e à noite recorrem aos mísseis terra-terra e aos drones Shahed. Quem o diz, em entrevista ao The Washington Post, é o autarca de Kharkiv Ihor Terekhov, segundo o qual a sua cidade pode vir a tornar-se num monte de ruínas. “Temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para não permitir que os russos transformem Kharkiv numa segunda Alepo”, disse em referência à cidade síria que foi alvo de um bombardeamento maciço da Rússia. 

O recém-nomeado secretário do conselho de segurança da Ucrânia, numa entrevista à AFP, não se mostra assustado, apesar de dizer que há 50 mil militares russos na fronteira de Kharkiv e a chegarem mais 30 mil. “Podemos dizer que não vemos qualquer ameaça de ataque à cidade de Kharkiv”, disse Oleksandr Lytvynenko. Segundo este, Andrei Belousov, o economista que vai substituir Sergei Shoigu no cargo de ministro da Defesa da Rússia, tem as credenciais para “assegurar uma guerra de atrito a longo prazo”. Conclui: “Isto sugere que Putin está a planear uma guerra a longo prazo. E uma guerra não só com a Ucrânia, mas com o Ocidente no seu todo. Uma guerra com a NATO.”

cesar.avo@dn.pt 

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