Na noite em que a CDU ganhou as eleições federais alemãs, a 23 de fevereiro, Friedrich Merz deixou claro ao que vinha. “A minha prioridade absoluta será fortalecer a Europa o mais rapidamente possível, para que alcancemos gradualmente a verdadeira independência dos Estados Unidos.” Pouco mais de três meses depois, Merz continua a defender a independência europeia, mas vai esta quinta-feira, 5 de junho, a Washington tentar convencer Trump a manter o compromisso dos Estados Unidos com a Europa e, assim, apoiar a Ucrânia e discutir a resposta da NATO a ameaças externas.O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão referiu esta quarta-feira, 4 de junho, que Merz dirá a Trump que a Europa está firmemente ao lado da Ucrânia e que nenhuma hipótese de paz deve ser desperdiçada. “A Europa espera que nós, Estados Unidos e Europa, levemos a Rússia à mesa das negociações. Esta oportunidade de paz não deve ser desperdiçada. E esta guerra deve finalmente ter um fim justo", disse Johann Wadephul.A situação no Médio Oriente e a disputa tarifária entre os dois lados do Atlântico também estarão na agenda do encontro. Mas, acima de tudo, o objetivo é estabelecer boas relações entre Berlim e Washington neste primeiro encontro frente a frente, depois de, nas últimas semanas, terem falado ao telefone por quatro vezes – uma vez a dois e, as outras, com a participação de vários líderes europeus para discutir o fim da guerra na Ucrânia. Uma fonte do governo alemão disse esta quarta-feira à Bloomberg que o chanceler tem vindo a preparar-se para qualquer desfecho que o encontro de hoje possa vir a ter, desde os apertos de mão calorosos entre Trump e o presidente francês, Emmanuel Macron, aos ataques públicos de que o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi alvo na sua ida à Casa Branca. Antes da viagem para Washington, Merz falou com líderes que têm lidado de perto com Donald Trump, como a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e o presidente finlandês, Alexander Stubb. Segundo a mesma fonte referida pela Bloomberg, o alemão foi aconselhado a deixar Trump fazer as despesas da conversa e evitar interrompê-lo ou confrontá-lo. Um dos pontos de fricção entre os dois líderes poderá ser as críticas que têm sido feitas nos últimos meses por membros da Administração Trump, nomeadamente pelo vice-presidente JD Vance, que acusou Berlim de repressão política em relação ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Putin diz a Trump que tem de responder a ataque de KievDonald Trump revelou esta quarta-feira que falou ao telefone com o seu homólogo russo durante cerca de 75 minutos, tendo os dois líderes discutido o ataque com drones ucraniano deste fim de semana, que destruiu mais de 40 bombardeiros russos, "e também vários outros ataques que têm vindo a ocorrer de ambos os lados"."Foi uma boa conversa, mas não uma conversa que conduza à paz imediata. O presidente Putin disse, e com muita veemência, que terá de responder ao recente ataque aos campos de aviação", escreveu o presidente dos Estados Unidos na plataforma Truth Social. .Trump fala por telefone com Putin e diz que "não haverá paz imediata". Esta quarta-feira também, o presidente ucraniano disse encarar proposta de cessar-fogo apresentada esta semana pela Rússia como “um ultimato”, descrevendo ainda o mais recente encontro em Istambul entre as delegações dos dois países como "uma encenação política" e "diplomacia artificial" destinada a ganhar tempo.Neste sentido, Volodymyr Zelensky afirmou fazer pouco sentido em continuar as conversações a este nível, voltando a apelar ao seu homólogo russo para que encetem negociações diretas, e dizendo estar preparado para um encontro a partir de segunda-feira, sugerindo como opções Istambul, a Suíça ou o Vaticano. Mas impôs como condição um cessar-fogo antes dessa possível reunião.“Porquê um cessar-fogo antes da reunião de líderes? Porque se nos reunirmos e não houver entendimento mútuo, disposição ou visão sobre como acabar com isso, o cessar-fogo terminará no mesmo dia. Mas se demonstrarmos vontade de continuar o diálogo e tomarmos medidas reais em direção à distensão, o cessar-fogo será prorrogado com garantias de mediação dos EUA”, prosseguiu o líder ucraniano. Este desafio não deve tornar-se realidade nos tempos mais próximos, depois de Vladmir Putin, esta quarta-feira também, se ter mostrado indignado com os recentes "atos terroristas" da Ucrânia nas russas regiões de Kursk e Bryansk, onde explodiram duas pontes. “O atual regime de Kiev não precisa de forma alguma de paz.O que há para discutir? Como podemos negociar com aqueles que dependem do terror?”, declarou o presidente russo num encontro com altos funcionários do governo. Ministros da Defesa da NATO definem novas metasEnquanto Trump e Merz estiverem reunidos esta quinta-feira em Washington, Bruxelas será palco de uma reunião dos ministros da Defesa da NATO, para finalizar os preparativos para a cimeira de líderes marcada para os dias 24 e 25 em Haia, nos Países Baixos. Uma reunião que contará com a presença do secretário da Defesa norte-americano, Pete Hegseth, que, no entanto, faltou esta quarta-feira, 4 de junho, ao encontro do Grupo de Contacto da Ucrânia, sendo a primeira vez que os Estados Unidos não marcam presença. No entanto, Mark Rutte insistiu esta quarta-feira que Washington se mantém “completamente comprometido” com a Aliança e com a ajuda a Kiev, garantindo que “não há planos neste momento para a retirada das tropas norte-americanas" da Europa. Alertou, no entanto, que os Estados Unidos “esperam que os aliados europeus e canadianos gastem muito mais... por isso, temos de aumentar as despesas antes de mais, porque precisamos de atingir todas estas metas de capacidade e fechar as lacunas que ainda temos para garantir que também podemos combater os russos se eles tentarem atacar-nos dentro de três a cinco anos, mas também para nos igualarmos aos Estados Unidos. E acho que isso é justo".Falando sobre o encontro de hoje, o secretário-geral da NATO frisou que “nesta reunião ministerial, vamos dar um grande salto em frente”, acrescentando que “fortaleceremos a nossa dissuasão e Defesa, definindo novas metas ambiciosas de capacidade.”Rutte identificou a defesa aérea e antimíssil, as armas de longo alcance, a logística e as grandes formações de manobra terrestre como algumas das principais prioridades da NATO. “Precisamos de mais recursos, forças e capacidades para estarmos preparados para enfrentar qualquer ameaça e implementar integralmente os nossos planos coletivos de defesa”, enfatizou o neerlandês, sublinhando que, para atingir as nossas novas metas, “precisaremos de gastos significativamente maiores com Defesa. Isto sustenta tudo.”Rutte deixou ainda o recado de que espera que “a maioria, senão todos os Aliados, atinjam o objetivo inicial de gastar 2% do PIB em Defesa este ano. Muitos investiram, ou têm planos para investir, muito, muito mais. Mas temos de ir mais longe e mais depressa.” Ficou ainda a saber-se que, depois de notícias a darem conta a alegada oposição dos Estados Unidos, a Ucrânia foi convidada por Mark Rutte a participar na Cimeira da NATO deste mês, como tem acontecido desde a invasão russa, mas o líder da Aliança não esclareceu se Volodymyr Zelensky estará presente.