A grande coligação alemã entre os conservadores da CDU e os aliados bávaros da CSU e os sociais-democratas do SPD ganhou esta quarta-feira forma, com a apresentação do acordo de 146 páginas que deverá reger o próximo governo liderado por Friedrich Merz. Um acordo conseguido em tempo recorde (45 dias) em pleno cenário internacional adverso, com as tarifas dos EUA e a ameaça à segurança vinda da Rússia, que garante “um governo forte e capaz” diante da ameaça da extrema-direita.“Temos um plano forte diante de nós com o qual podemos fazer avançar novamente o nosso país, juntos”, disse Merz, na conferência de imprensa, em Berlim, ao lado do líder da CSU, Markus Söder, e dos colíderes do SPD, Lars Klingbeil e Saskia Esken. “Acima de tudo, é um sinal forte e claro aos cidadãos do nosso país, mas também para os nossos parceiros na União Europeia. A Alemanha vai ter um governo forte e capaz”, insistiu.As 146 páginas do acordo de coligação terão ainda de receber a luz verde dos vários partidos, esperando-se que a eleição oficial de Merz como chanceler alemão ocorra apenas no próximo mês (fala-se em 7 de maio). Os militantes do SPD, do ainda chanceler Olaf Scholz, vão ser consultados através de votação online, enquanto a CDU de Merz irá pronunciar-se na convenção do partido, a 28 de abril. No caso da CSU, a decisão cabe apenas à direção partidária.Uma das questões centrais do acordo são os temas migratórios, particularmente prementes dado que a extrema-direita da Alternativa para a Alemanha (AfD) surge pela primeira vez à frente nas sondagens. Os números do Instituto Ipsos, conhecidos ontem, dão-lhe 25% das intenções de voto, 4,2 pontos a mais do que nas eleições de fevereiro e um ponto à frente da CDU/CSU, que caiu 4,5 pontos para os 24%. O SPD segue com 15% (teve 16,4% nas eleições).No tema da imigração, a coligação reitera que o país continuará a ser “cosmopolita” e que o direito ao asilo continua “intocável”. Contudo, vai acabar com os programas de admissão voluntária e limitar o direito à reunificação familiar. O futuro governo quer ainda expandir a lista de países “seguros” e acelerar as deportações e repatriações. O acordo surge 45 dias depois de a aliança conservadora entre CDU e CSU ter sido a mais votada nas eleições antecipadas por Scholz após a rutura da coligação semáforo (SPD, os Verdes e os liberais). Um prazo relativamente curto (outros acordos demoraram meses) diante do cenário internacional adverso, com a entrada em vigor das tarifas dos EUA - Merz disse querer evitar uma guerra comercial - e a ameaça vinda da Rússia. Questionado sobre a sua mensagem para o presidente norte-americano, Donald Trump, Merz respondeu em inglês: “A Alemanha está de volta ao caminho.” E indicou que o país cumprirá as suas obrigações para com a NATO e reforçará a sua competitividade. Quanto à Rússia, apresentada como “a maior e mais direta ameaça” à Alemanha, Merz promete reforçar a resposta militar diante de uma enfraquecida aliança transatlântica, incluindo com um reformado serviço militar (por enquanto ainda voluntário). “Fizemos estas negociações numa situação de crescente tensão política global, numa situação em que muitas forças de dentro e de fora não estão a trabalhar connosco, mas contra nós”, disse Merz. “Ainda não sabemos que direção a situação internacional vai tomar. Mas é por isso que a nossa mensagem é clara: queremos e vamos ajudar a moldar a mudança no mundo.”A nível doméstico, o governo quer fazer cortes de 8% na administração federal. Contudo, Merz disse que não será “contratando um Elon Musk” - referindo-se ao dono do X e da Tesla que, em Washington, está a levar a cabo essa tarefa com cortes alegadamente indiscriminados. Será feito “de uma forma socialmente aceitável, sensata e comedida”, indicou.Ainda a nível económico, o objetivo é reduzir o IVA nos alimentos e restaurantes (dos atuais 19% para 7% em 2026). O governo quer ainda reformar os impostos sobre as empresas, com a redução de um ponto por ano durante cinco anos a partir de 2028, além de acabar com o teto da dívida (atualmente 0,35% do PIB).