Que impacto pode a morte de Ismail Haniyeh ter para a guerra em Gaza e as negociações para um eventual cessar-fogo?As negociações estão completamente paradas neste momento, suspensas. Agora resta saber o que vai acontecer. Qual vai ser a retaliação. Porque o novo presidente do Irão, Masoud Pezeshkian, já veio dizer que “a República Islâmica do Irão irá defender o seu território, a sua integridade, a sua honra, a sua dignidade e o seu orgulho”. E fazer com que os “terroristas ocupantes”, isto é, Israel, “lamentem o que fizeram”. .Podemos ter um novo ataque do Irão a Israel como já aconteceu depois do ataque ao consulado iraniano em Damasco? Podemos. Podemos vir a ter um conflito direto entre os dois, entre Israel e o Irão. Todas as ações agora vão ter que ser muito bem medidas, todas as atitudes, todas as palavras. Porque basta uma fagulha e o barril explode. E estamos ao ponto de o barril explodir. E é um barril muito grande que está em cima de um paiol de armamento. Podemos ter uma situação quase global..Como assim? De um lado temos o Hamas, o Hezbollah, no Líbano, que é ajudado pelo Irão. Foi o Irão que o montou em 1982. Depois, atrás do Irão, como sabemos, vêm os protetores. E aqueles que neste momento estão a beneficiar também da ajuda do Irão na guerra da Ucrânia, que é a Rússia. Para já isto pode escalar a nível regional, mas com implicações de uma proxy war de grandes potências..Porquê? Estas coisas não são nada por acaso. Se olharmos bem e ouvirmos bem aquilo que [Benjamin] Netanyahu disse... ele foi muito claro. Ele foi a Washington buscar o apoio incondicional dos EUA a Israel, acontecesse o que acontecesse. E depois a ideia de que é preciso combater o Irão, quase acabar com o Irão, combater o regime dos ayotollahs. Como se isso fosse possível... Portanto Netanyahu foi muito claro em Washington. Eu não sei há quanto tempo estava a ser planeado, mas que Netanyahu foi buscar todos estes apoios um dia ou dois antes, é um facto..Dizia-se que este novo presidente do Irão quereria uma nova abertura com o Ocidente e dialogar...Depois disto que aconteceu acho difícil. Vai ter que haver muita moderação. Itamar Ben-Gvir, que é o ministro das Finanças israelita, de extrema-direita, dos que apela à violência contra os árabes, já disse que era preciso fazer uma incursão no Líbano, uma invasão terrestre no Líbano. Isso é o que está em cima da mesa..Mas o Hezbollah não é o Hamas... tem meios muito superiores e vai obrigar Israel, por muito poderio militar que tenha, a dividir atenções ainda mais do que agora, ainda para mais se o Irão também entrar. Neste momento, as incursões em Gaza estão paradas. A questão está em que nós não sabemos o que aconteceu à maior parte dos militantes do Hamas. Porque a maior parte dos mortos que nós vemos são mulheres e crianças. Nós sabemos que o Hamas utiliza as pessoas como escudos humanos. E usa mulheres e crianças, porque precisa dos homens para combater quando for a altura. Ora nós vimos muitos homens a morrer, mas vimos mais mulheres e crianças. Então onde é que estão os homens? Não me admiraria que o Hamas, que conseguiu juntar uma série de fações e de grupos terroristas para atacar Israel... a pergunta é o que estão a fazer....E se estão a planear algo com o chamado “eixo da resistência...” Agora seria o momento certo para o fazer... Mas não sabemos..Os EUA apoiam totalmente Israel, mas o que pode o resto da comunidade internacional fazer para tentar evitar esse cenário? Diplomacia, diplomacia e diplomacia. Se o Hamas não responder, se o Hezbollah não responder, se o Irão não responder, acho que isto pode passar. Se eles ficassem quietos, eu sei que é difícil, mas era uma resposta à medida. Porque assim calava Israel, que está com sede de guerra. Israel tem sempre o mesmo modus operandi. Israel provoca, as pessoas respondem, mas Israel tem direito à resposta e à defesa..susana.f.salvador@dn.pt