Mais de um século depois, volta a ser possível nadar no Sena em Paris
A enfrentar temperaturas elevadas, tal como acontece em várias cidades europeias, Paris permite desde este sábado, 5 de julho, que se volte a nadar no Sena, pela primeira vez desde 1923. Uma boa notícia para os parisienses e para os que visitam a capital francesa nestes dias de calor.
Às 08:00 (07:00 em Lisboa), a cidade levantou a proibição centenária e até 31 de agosto pode-se fugir das altas temperaturas com mergulhos no Sena, rio ao longo do qual foram abertas, pela autarquia de Paris, três instalações balneares.
Pode-se nadar no Sena em Bras Marie, em frente à Ile Saint-Louis, em Bercy, perto da Biblioteca Nacional, e em Grenelle, em frente à Ile des Swans, bem perto da Torre Eiffel.
O regresso aos banhos público no rio Sena, mais de um século depois da sua proibição, tornou-se possível devido aos esforços para a limpeza do rio, no âmbito da realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024. Foram investidos milhares de milhões de euros na limpeza do Sena e num novo sistema de saneamento.
"Um sonho de infância", diz autarca de Paris
Um ano após os atletas olímpicos terem tido a possibilidade de competir no rio é agora a vez do público poder banhar-se no coração da capital francesa.
"É um sonho de criança ver pessoas a nadar no Sena", afirmou à AFP Anne Hildalgo, presidente da câmara de Paris, que esteve na abertura das instalações balneares, onde se pode desfrutar do rio Sena como se de uma piscina fluvial se tratasse.
A autarca, que esteve ao lado da ministra do Desporto, Marie Barsacq, disse estar "muito feliz" com o levantamento da proibição dos banhos públicos no Sena, e fez uma promessa. "Como uma verdadeira parisiense, irei nadar", disse Hildalgo, garantindo que não irá convidar os media para esse momento.
A abertura de partes do Sena aos banhos públicos permite proporcionar "áreas seguras para nadar em ambiente natural", mas “é também uma forma de adaptar a cidade às mudanças de temperatura”, declarou Hidalgo.
A autarca tem como objetivo abrir mais locais para que os parisienses e quem visita a cidade se possam refrescar. "A ideia final é abrir cerca de trinta locais para nadar, que estão a ser estudados em toda a área metropolitana" da grande Paris, detalhou.
"Paris tem a sorte de estar à frente do seu tempo, porque com o calor extremo que só tende a aumentar nas nossas cidades, (...) investir em espaços naturais para nadar é essencial; também previne afogamentos em locais perigosos", argumentou. No ano passado, foram registadas 13 mortes no Sena, e três desde o início de 2025, segundo a AFP.
“Um dos meus antecessores (Jacques Chirac), então presidente da Câmara de Paris, sonhava com um Sena onde todos pudessem nadar”, escreveu o presidente francês numa mensagem partilhada na rede social.
Voltar a nadar no rio Sena resulta de um “esforço coletivo” e é um momento de “orgulho” para a França, escreveu Emmanuel Macron no X.
Recorde-se que foi na semana passada que a presidente da Câmara de Paris assinou o decreto que autoriza o acesso às águas, um “momento histórico”, após um interregno de mais de 100 anos, considerou.
"Estou muito surpreendida, pensava que estava um frio de rachar, mas na verdade é muito bom, (...) é ótimo”, disse à AFP Karine, 51 anos, uma das primeiras a entrar este sábado nas águas do Sena, com uma boia amarela.
Victoria Cnop, de 24 anos, uma brasileira que vive em Paris, disse estar "surpreendida“ e "impressionada. “Nunca imaginei estar na água perto da Torre Eiffel”, disse a jovem, citada pela Reuters.
"É maravilhoso", disse o canadiano John Drummond, de 54 anos, de visita a Paris. "É ótimo para o ambiente, é ótimo para a cidade, é ótimo para as pessoas que vivem aqui. É uma iniciativa muito boa", destacou.
As piscinas fluviais nos três pontos em que são permitidos os banhos públicos estão equipadas com pontões, escadas, mobiliário de praia, chuveiros e balneários, além de serem vigiadas por nadadores salvadores.
Embora a natação seja gratuita e aberta ao público, de acordo com a Câmara Municipal de Paris, não será acessível sem condições, segundo a agência espanhola Europa Press.
Os nadadores devem ter pelo menos 14 anos e 1,40 metros de altura.
A utilização de uma boia de segurança é obrigatória e haverá pelo menos três nadadores-salvadores presentes em permanência em cada zona.
Além disso, não será possível nadar a toda a largura do rio, que é muito suscetível aos efeitos da navegação e das tempestades noutros pontos do curso.
As autoridades criaram “espaços de segurança” e declararam o resto das águas como agitadas, continuando a ser proibido tomar banho.
Investidos mais de 1.400 milhões de euros para melhorar a qualidade da água que responsável diz ser "excecional"
Foram investidos mais de 1.400 milhões de euros para melhorar a qualidade da água a montante do rio, com obras de captação de águas residuais para evitar que estas desaguem no Sena.
A qualidade sanitária da água é "excecional", garantiu o prefeito regional, Marc Guillaume.
“Há duas bactérias que monitorizamos, a E.coli e os enterococos, algumas das quais estão 10 vezes abaixo dos limiares e outras mais de 25 vezes abaixo dos limiares”, afirmou.
Dado que em Paris as águas pluviais e as águas residuais são misturadas numa única rede, a única solução em caso de chuvas fortes é descarregar o excesso no Sena.
Os recordes de pluviosidade registados durante os Jogos Olímpicos de 2024 tornaram muitas vezes a água imprópria para os atletas nadarem.
Este verão, tal como na praia, serão utilizadas bandeiras (verde, amarela, vermelha) para controlar o caudal do Sena e a qualidade da água, analisada por sondas instantâneas e amostras de cultura. Se as bandeiras estiverem vermelhas, a natação será encerrada.
Com Lusa