Mais de 800 raptos num ano. O que se passa no Haiti?
O Centro de Análise e Pesquisa de Direitos Humanos, (CARDH na sigla inglesa) alerta, num relatório, que o aumento de influência de gangues no território já provocou cerca de 800 raptos no Haiti, de pessoas dos mais variados setores da sociedade. Destaca-se o rapto de 17 missionários, oriundos dos Estados Unidos da América e do Canadá, no passado fim de semana.
A segurança no país, já propensa a ser diminuta, baixou significativamente desde que o Presidente Jovenel Moïse foi assassinado, em sua casa por um grupo de homens armados, em julho deste ano. Fações rivais têm procurado aumentar a sua área e capacidade de influência, perante uma força policial débil.
Desconfiança das Forças Policiais
"Os cidadãos do Haiti não confiam nas forças policiais, o que origina um enorme problema de segurança porque nenhuma força policial é eficaz se não existir colaboração por parte da população" afirma Gedeon Jean, diretor da CARDH, à AFP.
"Segundo os nossos dados, existem pelo menos dois polícias em cada milícia armada existente, sendo que alguns fazem mesmo parte deste grupos e outros permitem a atividade criminosa dos mesmos, através da partilha de informação".
Até ao dia 16 de outubro deste ano, foram reportados 782 raptos, apenas menos 14 do que os registados em todo o ano de 2020, avança Jean. Contudo, estes números podem não corresponder à realidade, visto que muitos dos raptos que se verificam não são reportados por medo de represálias dos gangues armados.
O aumento da violência, a débil situação económica do país e os sucessivos desastres naturais que têm afetado o território têm provocado uma grande onda migratória de haitianos, geralmente em direção aos Estados-Unidos, via México.
17 missionários raptados
No sábado, dia 16 de outubro, um grupo de missionários-cristãos, oriundos de Ohio (EUA), sofreram uma emboscada quando regressavam de uma visita a um orfanato. O rapto aconteceu em Ganthier, uma cidade situada a Este da capital, Porto de Príncipe, e foi concretizado por membros do grupo 400 Mazowo.
Ganthier é uma das cidades controladas por este gangue e os raptores exigem um pagamento de 1 milhão de dólares (cerca de 860 mil euros) por pessoa para a libertação.
Cinco homens, sete mulheres e cinco crianças formam o grupo de pessoas raptadas, entre as quais uma criança com apenas 2 anos. Todos, à exceção de um cidadão canadiano, são norte-americanos.