O presidente norte-americano, Donald Trump, passou de dizer que os EUA não tinham nada a ver com o ataque de Israel ao Irão a dizer que pode ou não ajudar os israelitas na guerra que começaram há uma semana A mudança de posição está a deixar aliados e opositores igualmente confusos, enquanto esperam por uma decisão do presidente. Mas também está a criar problemas e divisões na sua base de apoio. Afinal, o que é que “Tornar a América Grande de Novo” (MAGA, na sigla em inglês) tem a ver com atacar o Irão?Segundo o jornal The Wall Street Journal, Trump já terá aprovado os planos de ataque - só faltará a luz verde final, com um tempo de espera para ver se o Irão abandona ou não o seu programa nuclear. Os israelitas precisam da chamada bomba “destruidora de bunkers” dos norte-americanos para atingir a central de Fordo, a mais importante do Irão que está construída sob uma montanha. E só os aviões dos EUA têm a capacidade de a lançar. “O The Wall Street Journal não tem ideia de quais são os meus pensamentos em relação ao Irão!”, reagiu Trump na sua Truth Social.Já de acordo com o jornal britânico The Guardian, a indecisão do presidente norte-americano prende-se com o facto de não confiar a 100% na eficácia da tal bomba “destruidora de bunkers” para destruir a central. A GBU-57s, de 13,6 toneladas, tem alegadamente capacidade para perfurar 60 metros a superfície terrestre antes de rebentar - e Fordo encontra-se a 90 metros, segundo a secreta israelita. Num briefing militar, terá sido dito a Trump que seria preciso “amolecer” o solo com bombas convencionais e depois usar uma bomba nuclear tática para garantir o sucesso da destruição da central nuclear. Mas esse é um cenário que o presidente não está disposto a considerar. A GBU-57s poderá servir para atrasar por uns anos a capacidade de o Irão desenvolver a sua própria arma nuclear (coisa que os norte-americanos dizem que não estava prestes a fazer), mas não garante o fim completo do programa. Mas há outro obstáculo no caminho da decisão de Trump: os aliados da MAGA. Para muitos membros da sua base de apoio, o envolvimento dos militares norte-americanos numa nova guerra vai contra a promessa de campanha de Trump de pôr a América em primeiro lugar e ficar de fora dos conflitos dos outros. Mesmo que esse envolvimento não seja com “botas no terreno”, isto é, com soldados em combate direto. Apesar de o consenso ser que os apoiantes de Trump ficarão ao seu lado, independentemente do que decidir, a divisão no MAGA pode criar problemas nas intercalares do próximo ano. Um dos maiores críticos de atacar o Irão é Steve Bannon, o antigo estratega de Trump durante o primeiro mandato e uma das vozes mais proeminentes dentro do MAGA. “Não podemos fazer isto outra vez”, disse Bannon aos jornalistas num evento na quarta-feira, em Washington. “Vamos destruir o país. Não podemos ter outro Iraque”, acrescentou. Outro que defende que os EUA têm que ficar de fora é Tucker Carlson, o antigo jornalista da Fox News, que no seu podcast acabou aos gritos com o senador Ted Cruz, um dos republicanos da ala tradicional que são a favor da intervenção norte-americana. Outro é o senador Lindsay Graham, que disse esperar que Trump ajude os “amigos” de Israel “a acabar o trabalho” porque o Irão representa uma “ameaça existencial”. Questionado sobre a divisão dentro do MAGA, Trump disse que os seus apoiantes “estão mais apaixonados” por ele hoje do que estavam na altura das presidenciais. “Só quero uma coisa. O Irão não pode ter uma arma nuclear”, afirmou na quarta-feira, admitindo que alguns apoiantes “estão um pouco insatisfeitos agora”, mas que outros concordam com ele que o Irão não pode tornar-se uma potência nuclear.Segundo o jornal The Washington Post, apesar de se ter rodeado de estrelas na sua Administração - o secretário da Defesa, Pete Hegseth, ou a diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard -, Trump optou escolher pessoas mais experientes na hora de tomar uma decisão. Nem Hegseth nem Gabbard (que ainda há dias insistia que o Irão não estava prestes a ter uma bomba nuclear) fazem parte do grupo que está a aconselhar o presidente neste tema. Um dos membros do círculo íntimo é o vice-presidente J.D. Vance. É um dos que tem pedido “contenção” em relação ao Irão (foi contra os ataques contra os Houthis, no Iémen). Mas que também já disse que os EUA podem ter que empreender “mais ações” para garantir a “rendição” pedida por Trump. Do outro lado, estará o secretário de Estado e Conselheiro de Segurança Nacional interino, Marco Rubio, que defendeu durante os seus anos no Senado uma posição forte em relação ao Irão. Contudo, desde que se juntou à Administração Trump não tem chocado com a ideia de “a América primeiro” do presidente. O círculo íntimo fica completo com o chefe do Estado-Maior Conjunto, general Dan Caine, e o diretor da CIA, John Ratcliffe, segundo o Washington Post. Segundo a Reuters, apesar de os EUA terem estado a negociar nas últimas semanas com o Irão um possível acordo nuclear, o presidente já sabia que um ataque de Israel estava iminente e o Pentágono já estaria a preparar planos de contingência. E se ainda não é claro se Israel teve um “sim” de Trump antes do ataque, pelo menos não tinha um “não”. Israel ameaça KhameneiEnquanto Trump não toma a decisão final - a Casa Branca disse ontem que deve tomar uma “durante as próximas duas semanas” - , os bombardeamentos continuam entre Israel e o Irão. No total, houve 270 feridos em Israel por causa dos ataques iranianos, tendo um dos mísseis que escapou ao sistema de defesa israelita atingido o maior hospital no sul do país, Soroka. Por causa do ataque ao hospital, o Governo subiu o tom das ameaças a Teerão, que alega que visava uma instalação militar nas proximidades, não o centro médico. O ministro da Defesa, Israel Katz, considerou que o líder supremo do Irão, Ali Khamenei, “não pode continuar a existir”. Isto dias depois de Trump dizer que os EUA sabem onde ele está escondido, mas que não o querem matar... “por enquanto”. O próprio primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que ontem visitou o Soroka, indicou que a questão da mudança do regime não é um objetivo de Israel - “é um tema para o povo iraniano” - mas “pode ser um resultado” dos ataques israelitas contra o programa nuclear..Trump anuncia que vai tomar a decisão de atacar o Irão "durante as próximas duas semanas"