O processo de privatização da TAP - que o Governo prevê arrancar em março - e a aposta na alta velocidade até Madrid (ligando depois a França) são duas oportunidades de negócio, potencialmente lucrativas, que as empresas francesas querem aproveitar. E são temas que Emmanuel Macron trouxe na bagagem para Lisboa e Porto, na primeira visita de um chefe de Estado francês a Portugal desde há 26 anos.. Na ferrovia, apurou o DN, vai ser assinada esta sexta-feira, no Porto, uma “Carta de intenções” (na prática, um acordo de princípio para fechar um acordo mais tarde) com a companhia estatal que opera os comboios franceses e no Mónaco, a Société Nationale des Chemins de Fer (SNCF), para cooperação no desenvolvimento de linhas ferroviárias até Madrid e na Península Ibérica. Este documento fará parte de um acordo mais global sobre transportes a assinar entre entidades dos dois países.A SNCF gere as operações das linhas convencionais, mas também do TGV (Alta Velocidade) francês. Em maio, o então recém-empossado Governo liderado por Luís Montenegro (que escolheu Miguel Pinto Luz para ministro das Infraestruturas, com a tutela dos transportes), decidiu que a alta velocidade portuguesa também passaria a incluir uma ligação a Madrid (o que implicaria uma terceira travessia sobre o Tejo, com um custo de 2,2 mil milhões de euros, e a restanteLinha AV até Elvas a custar outros 1,3 mil milhões de euros)..“Vinte e seis anos depois da última visita de Estado de um presidente francês, a minha presença hoje diz que as verdadeiras amizades se mantêm.”Emmanuel Macron, presidente de França. Já há muita tecnologia francesa nas linhas de caminho de ferro em Portugal. Mais de 1500 quilómetros da rede ferroviária nacional e mais de 500 unidades de bordo são geridas pelo sistema ATP da Alstom. Aliás, o grupo francês - um dos gigantes da construção de comboios europeus - venceu um concurso para o fornecimento de 117 comboios à CP, no valor global de mais de 850 milhões de euros. O concurso está parado devido a contestação judicial dos concorrentes que não ganharam.. Outro tema na bagagem é o da venda da maioria (ou parte significativa) do capital da TAP, cujas contas enfrentam um ano delicado. Em resposta ao DN, fonte oficial da Air France-KLM, uma das interessadas no negócio, confirmou que o máximo responsável do grupo de aviação francês veio a Lisboa na comitiva de Macron.“Confirmamos que o CEO do Grupo Air France-KLM faz parte da delegação oficial convidada pelo Presidente de França durante a visita de Estado a Portugal, juntamente com outros CEO de empresas francesas”, disse a fonte, acrescentando duas notas importantes.A primeira nota é que “Portugal é um mercado prioritário para a Air France-KLM”. A segunda é um confirmar do interesse na TAP, uma companhia que atualmente pode valer entre 900 e 1000 milhões de euros. “Continuamos muito interessados no processo de privatização da TAP Air Portugal. Esta é uma oportunidade para reafirmarmos o nosso interesse na empresa e no país”, salientou.Cooperação policialTambém no âmbito da visita de Emmanuel Macron, as ministras da Justiça, Rita Júdice, e da Administração Interna, Margarida Blasco, assinará um acordo bilateral de cooperação policial, que o DN apurou ser destinado a reforçar a colaboração luso-francesa “em áreas vitais como a do combate ao terrorismo e à criminalidade organizada”, prevendo-se uma união de esforços no âmbito da União Europeia e na cooperação com países terceiros.Instrumentos de cooperação como a constituição de equipas conjuntas de investigação, elaboração de planos de trabalho bilaterais, afetação de oficiais de ligação e peritos, ações de formação, realização de exercícios, troca de experiências e intercâmbio de informações visarão melhorar a resposta a fenómenos criminais como o tráfico de estupefacientes e de seres humanos, com ênfase na imigração ilegal, englobando o controlo de fronteiras e a segurança nos transportes terrestres, aéreos e marítimos.. Pretende-se trabalhar “numa abordagem global para lutar contra a imigração irregular, contra as redes e os traficantes de seres humanos”, tratando em simultâneo das “causas profundas das migrações”. O acordo bilateral de cooperação, destinado a reforçar a “excelente colaboração operacional entre as forças de segurança de ambos os países”, também não esquece o cibercrime, referindo-se explicita- mente a ameaças híbridas.Também se prevê que a cooperação no domínio da segurança interna, aos níveis institucional, político e operacional, no quadro da União Europeia, englobe consultas ao nível dos Ministérios da Administração Interna e da Justiça dos dois países, com troca de informações entre as forças de segurança e as autoridades judiciárias. Algo que também passará por domínios como a violência relacionada com o desporto, a delinquência juvenil, a contraespionagem e as pessoas desaparecidas. .Esta quinta-feira, Luís Montenegro mostrou-se confiante numa relação cada vez mais forte com França. “Acertámos dar um novo impulso às relações bilaterais entre Portugal e a França”, afirmou o primeiro-ministro português. Já Macron destacou a amizade entre os dois países, em tempos de incerteza internacional. “Estou muito feliz por esta visita de Estado neste momento que atravessa a Europa e o mundo, quando há muitas incertezas e às vezes as alianças muito antigas são questionadas. Vinte e seis anos depois da última visita de Estado de um Presidente francês, a minha presença hoje diz que as verdadeiras amizades se mantêm”, salientou..Marcelo defende que União Europeia deve tornar-se "verdadeira potência universal"