Desde que convocou legislativas antecipadas, após a vitória da extrema-direita nas europeias de junho do ano passado, Emmanuel Macron já viu um primeiro-ministro demitir-se, o sucessor deste cair após apenas três meses e o atual chefe do governo enfrentar seis moções de censura. Com as próximas presidenciais agendadas para 2027, o presidente francês, vê subir a pressão para que ele próprio deixe o cargo e permita aos franceses ir às urnas tentar desfazer o atual bloqueio político, com o Parlamento dividido quase irmamente entre três forças políticas - a extrema-direita, a extrema-esquerda e os aliados do presidente. Talvez por isso, Macron procure no palco mundial o reconhecimento que lhe falta em casa, recebendo os líderes europeus no Eliseu e indo a Washington para um encontro com Donald Trump à boleia do trampolim da Ucrânia. É no rescaldo desta viagem aos Estados Unidos que o presidente francês chega hoje a Lisboa .Eleito pela primeira vez em 2017, com apenas 39 anos, Macron surgia como uma lufada de ar fresco na política francesa. Formado em Filosofia, o homem que começou a carreira como funcionário público, passou depois para o privado, trabalhando para o banco de investimento Rothschild & Cia, fora ministro do socialista François Hollande, antes de fundar o seu próprio partido, o En Marche! (hoje Renaissance). Europeísta e liberal, a formação pretende unir a esquerda e a direita. Reeleito em 2022, de novo frente a Marine Le Pen, a candidata do Reunião Nacional (ex-Frente Nacional, de extrema-direita), Macron perde contudo boa parte vantagem sobre a rival e, sobretudo, não consegue nas legislativas seguintes uma maioria de governo. Quase oito anos depois de chegar à presidência, Macron acusa o desgaste do poder. A última sondagem Odoxa Mascaret, divulgada terça-feira, revela que apenas 25% dos inquiridos consideram Macron como “um bom presidente”, menos um ponto do que no mês anterior. Agora, enquanto na política francesa os partidos se desgastam em lutas internas, Macron parece alimentar-se das crises à sua volta. E usa o “trampolim da Ucrânia”, como lhe chamou o diário La Dépèche numa análise, para reganhar prestígio. “As crises são o combustível de Emmanuel Macron, e a Europa é o seu trunfo porque, neste domínio, o presidente francês pode orgulhar-se de visão, coerência e consistência”, escreveu Françoise Fressoz, editorialista do Le Monde no dia do seu encontro com Trump. .Emmanuel Macron, o “objeto político não identificado” que está entre o PSD e a IL