O presidente brasileiro afirmou esta terça-feira, 4 de novembro, que a megaoperação no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho "não tinha uma ordem de matança", mas de prisão, e que é necessário uma investigação para apurar eventuais falhas.A dois dias da cimeira de líderes que antecede a Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30) na cidade amazónica de Belém, o chefe de Estado brasileiro, durante uma entrevista com seis agências internacionais, entre as quais a Lusa, Lula da Silva frisou que a decisão do juiz para que autorizou a megaoperação era "uma ordem de prisão"."Não tinha uma ordem de matança", sublinhou o chefe de Estado brasileiro, defendendo que é necessário averiguar qualquer "tipo de falha ou se tem alguma coisa mais delicada da operação" de 28 de outubro que resultou na morte de pelo menos 121 pessoas..Defensoria Pública contabiliza 132 mortos na megaoperação no Rio de Janeiro. "O dado concreto é que a operação, do ponto de vista da quantidade de mortes, as pessoas podem considerar um sucesso, mas do ponto de vista da ação do Estado, eu acho que ela foi desastrosa", frisou o chefe de Estado brasileiro.Lula da Silva reforçou: "vamos ver se a gente consegue fazer essa investigação”, até porque é "é importante ver em que condições se deu" a operação.Ainda assim, o chefe de Estado brasileiro reforçou que é necessário empenho por parte do Governo Federal e dos estados para “combater a fação [criminosa] e a brutalidade que existe em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Brasil”.“Nós estamos trabalhando de forma muito forte para que a gente possa tentar fazer com que a sociedade possa viver em paz, em muita tranquilidade”, garantiu, recordando que na semana passada promulgou uma lei anti-fação que aumenta as penas de prisão para os membros destas organizações criminosas.Os complexos de favelas da Penha e do Alemão, situados numa região onde vivem cerca de 200 mil pessoas, foram palco na semana passada da operação policial mais letal já registada no Brasil.Até agora, o Governo do estado do Rio de Janeiro reconheceu 121 mortos, enquanto, a Defensoria Pública aponta que o número de vítimas mortais chega a 132.O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e as forças de segurança do estado celebraram publicamente a “bem-sucedida” operação que, segundo estes, teve apenas quatro vítimas, sendo estas os agentes que morreram durante a ação.A Secretaria de Segurança Pública do estado divulgou um primeiro relatório de identificação dos corpos, no qual afirma que a grande maioria dos 121 mortos tinha antecedentes criminais por delitos graves, como tráfico de droga e homicídio.Além dos 121 mortos, a polícia informou que 133 pessoas foram detidas e mais de 90 espingardas automáticas apreendidas.Lula diz que vai recandidatar-se para que “nunca mais” a extrema-direita governe o Brasil Lula da Silva afirmou ainda que vai recandidatar-se para que "nunca mais alguém de extrema-direita, negacionista", governe o país."Eu sei da dificuldade, mas, se depender de mim, nunca mais alguém de extrema-direita, negacionista, vai governar esse país", disse, acrescentando que a sua missão é fazer com que o povo compreenda "a diferença da democracia com o autoritarismo".Em outubro, Lula da Silva quebrou, finalmente o ‘tabu’ e anunciou a recandidatura às eleições de outubro de 2026, durante a sua viagem à Indonésia.Aos 80 anos, indicou que, para ser candidato, é necessário ter saúde, mas assegurou ter bastantes cuidados, adiantando que se encontra no melhor momento da sua vida, em termos pessoais e políticos.Lula da Silva lidera todos os cenários de intenção de voto face a qualquer um dos prováveis candidatos. Caso vença, será a primeira vez que um mesmo candidato exerce por quatro vezes a chefia de Estado no Brasil.Jair Bolsonaro, impedido de concorrer a quaisquer eleições nos próximos oitos anos, ainda não disse quem será o seu sucessor político.Para além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil começa a apreciar, a 07 de novembro, o recurso apresentado pelo ex-presidente contra a condenação de mais de 27 anos de prisão.Em 11 de setembro, Bolsonaro e sete dos seus mais próximos colaboradores, entre antigos ministros e altos comandos militares, foram condenados por orquestrarem um golpe após perderem as eleições de 2022, vencidas pelo atual presidente, Lula da Silva.O ex-chefe de Estado recebeu a pena mais severa de todas por ter sido considerado o líder da "organização criminosa" que procurou "perpetuar-se no poder".A sentença foi publicada em 22 de outubro, data a partir da qual se abriu o prazo para apresentação de recursos.Contudo, este primeiro recurso não avaliará o mérito da condenação e limitar-se-á apenas a questões formais.A defesa de Jair Bolsonaro pediu na segunda-feira ao STF a redução da pena, num recurso em que alegou que o direito à ampla defesa foi violado.Os advogados de Bolsonaro alegaram que o ex-chefe de Estado foi condenado com base numa confissão "viciada e contraditória" de um dos seus ex-assessores, bem como erros jurídicos do STF, ao puni-lo por golpe de Estado e por abolição violenta do Estado democrático de direito, que consideram ser o mesmo crime.Antes da execução da sentença, a defesa do ex-presidente ainda poderá apresentar outro recurso.Uma vez julgados os recursos, mantendo-se a condenação, o STF deverá ordenar a execução das penas e definir onde serão cumpridas.Bolsonaro, de 70 anos, encontra-se em prisão domiciliária na sua residência em Brasília, desde agosto.